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Ano: 2012

Selo: Sub Pop

Gênero: Dream Pop, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Grizzly Bear e Deerhunter

Ouça: Myth e Wishes

9.0
9.0

Resenha: “Bloom”, Beach House

Ano: 2012

Selo: Sub Pop

Gênero: Dream Pop, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Grizzly Bear e Deerhunter

Ouça: Myth e Wishes

/ Por: Cleber Facchi 26/03/2012

Desde o primeiro álbum do Beach House era visível o esforço do casal Victoria Legrand e Alex Scally em aperfeiçoar uma fórmula própria dentro dos limites etéreos do Dream Pop. Mais do que entusiastas da proposta alavancada por diversas bandas ao longo da década de 1980 e continuamente explorada nos anos seguintes, o duo vindo de Baltimore, Maryland conseguiu ao longo de três registros lapidar o diamante musical bruto que vinha ganhando formas desde que o primeiro disco do casal foi lançado. O ápice desse exercício viria em 2010, quando Teen Dream e os contornos pop-melódicos que abraçava fariam com que o projeto ganhasse amplo destaque, fazendo com que a dupla alcançasse um novo nível lírico e instrumental, além de alcançar a tão almejada fórmula que vinham procurando.

Se com o registro lançado há dois anos o casal se apresentava cercado por um doce ar de encerramento, como se o disco fechasse um pequeno ciclo construído pelos norte-americanos, com Bloom (2012, Sub Pop) o Beach House se abre para novos rumos e expectativas. Tão ou mais influenciados pelo tom acolhedor do último álbum, o quarto registro da banda evoca sentimentos ainda mais próximos do ouvinte, que terá nas dez composições do disco um colosso de referências leves, hipnóticas e que musicalmente se desfazem nos ouvidos do espectador. Entretanto, longe de repetirem os mesmos acertos do passado, a dupla opta por experimentar, não de forma revolucionária, mas como se estivesse preparando um novo ciclo musical próprio.

Com pouco mais de 50 minutos de duração, o disco envereda para a construção de uma sonoridade mais firme e menos absorvida pelas experiências naturalmente etéreas e oníricas que tomam conta de trabalhos do gênero. As guitarras, antes liquefeitas e obrigadas a se transformarem em densos planos de fundo musicais, agora ressurgem em formas menos experimentais e mais acessíveis ao público. Vê-se por todo o disco a necessidade da dupla em dar continuidade ao que fora testado em músicas como Walk In The Park e 10 Mile Stereo, faixas que conseguiram puxar Teen Dream para além dos sintetizadores mágicos e vocais enevoados que delimitaram boa parte da estrutura do álbum anterior.

Parte do que auxilia a dupla a alcançar essa nova musicalidade dentro do álbum vem da presença ativa do produtor Chris Coady. Responsável pela produção de algumas das mais importantes obras da atual geração – entre eles Dear Science do TV On The Radio, Yellow House de Grizzly Bear e o recente Eye Contact do Gang Gang Dance -, Coady repete em Bloom todos os acertos gerados no último disco da banda, o qual também ajudou a produzir. Como resultado, o produtor se orienta quase como um terceiro membro do projeto, tornando as composições muito mais audíveis e abertas. É quase possível dizer que o disco e a dezena de canções que o integram despertam uma face quase inteiramente comercial do Beach House, afinal, com certo esforço é quase possível ouvir Myth e Wild tocando na grade de alguma rádio popular.

Bloom, entretanto, não é um trabalho apenas destinado ao “grande público”, é um disco que deve funcionar com perfeição ao ecoar nos ouvidos dos antigos seguidores da dupla. Como nunca antes a voz de Legrand surge límpida e perfeitamente audível, não mais aplicada como um instrumento (característica básica dos três últimos lançamentos do BH), o que acaba proporcionando certo toque de ineditismo ao trabalho e a carreira da banda. Difícil não se deixar conduzir pela fluência doce de Other People, por exemplo, que ao se encontrar com as guitarras (também melhor perceptíveis) tendem a grudar nos ouvidos bastando uma única audição da faixa.

Diferente dos anteriores discos, quando o duo parecia interessado em se encontrar e produzir um som de força própria, em Bloom o casal se deixa impregnar por outras referências, algo facilmente observado na aproximação de diversas músicas com elementos típicos da música oitentista. Logo em Wild, segunda canção do álbum, esse tipo de som já se faz visível, afinal, a maneira como as guitarras e os teclados (repletos de eco) são alinhados transportam imediatamente o ouvinte para o cenário montado há três décadas. Junto disso vem a necessidade em amarrar todas as canções, aplicando pequenos ruídos ou interlúdios que acabam por conectar as faixas em um imenso bloco sonoro, passando ao disco certo tom “conceitual”.

Há também a necessidade de Alex Scally em fazer com que instrumentalmente o disco se projete de forma épica em cada canção, uma quebra do ritmo moroso e intencionalmente brando de outrora. A sempre coerente aproximação do casal com os grandes grupos da década de 1960 – principalmente The Beach Boys, The Zombies e Big Star – acaba servindo como forte inspiração para isso, algo que On The Sea e a métrica crescente que a envolve resumem com exatidão e beleza. Os teclados sempre apontados para cima absorvem de maneira particular o que fora testado há mais de quatro décadas em clássicos como Odyssey And Oracle (1968) e Pet Sounds (1966), com a dupla sempre arrastando essas influências para junto da fórmula assertiva que conseguiram desenvolver.

Legrand e Scally não poderiam ter escolhido um melhor nome para o novo álbum da banda. O “florescer” que se manifesta no título do trabalho atua de maneira coerente com o que o casal desenvolve ao longo do disco, um projeto que absorve a luz vinda de diversas referências (incluindo algumas próprias do Beach House) e converte em algo novo, permeado por boas guitarras, arranjos instrumentais límpidos e o mesmo conjunto de versos melancólicos e intimistas que o duo desenvolveu há alguns anos para nos enfeitiçar. Se Teen Dream parecia ser o ápice, Bloom demonstra que o casal de Baltimore pode ir ainda mais longe e se existe algum limite ao trabalho da dupla, este ainda parece impossível de ser detectado.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.