Disco: “Blunderbuss”, Jack White

/ Por: Cleber Facchi 17/04/2012

Jack White
Rock/Blues/Singer-Songwriter
http://jackwhiteiii.com/

Por: Cleber Facchi

Jack White soube como poucos a maneira de fazer a transferência do reduto simples do underground para junto dos holofotes do mainstream. Mesmo vindo de uma longa e diversificada carreira que teve início no começo da década de 1990, o músico de Detroit, Michigan só alcançou o destaque absoluto no início da década seguinte, quando ao lado da parceira Meg trouxe de volta a força do blues embebida pelo dinamismo do rock com o The White Stripes. Inquieto, o músico foi aos poucos ocupando territórios, transformando seu nome em uma espécie de selo de qualidade que estampava cada novo projeto paralelo ou mínima contribuição, meras bases para uma bem sucedida carreira solo que tem inicio agora.

Longe dos antigos colaboradores – sejam eles os parceiros do The Raconteurs, The Dead Weather ou a própria Meg White -, Jack esculpe solitário cada mínima porção de Blunderbuss, álbum que mesmo inédito expõe pequenas doses do que o músico foi desenvolvendo em mais de 20 anos de carreira. Embora similar aos anteriores registros do artista, uma coisa é certa, White não é mais o mesmo que fora em um passado recente e a melhor pista disso está em Missing Pieces, faixa que abre o disco ao som de um teclado empoeirado, e não com as tradicionais guitarras que tanto definiram a carreira do músico.

White tem noção do peso da expectativa que paira sobre o disco, logo, o músico ocupou de maneira inteligente os quase dois anos de produção do trabalho, acrescentando detalhes e referências que há tempos pareciam flutuar em sua cabeça, mas que só agora ganham contornos bem definidos. Do blues obscuro da década de 1930 ao rock clássico dos anos 60, passando pelo garage rock da década de 1980, pela primeira vez Jack parece dialogar abertamente com toda a soma de artistas que tanto o influenciaram. Um resultado que se evidencia tanto na crueza e simplicidade honesta de Sixteen Saltines como na grandiosidade de Weep Themselves to Sleep, com todos os arranjos esculturais que a definem.

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Blunderbuss – o nome é uma referência a uma arma de fogo – é um disco inteiramente voltado ao passado, como se o cantor (com seu timbre peculiar) fosse uma espécie de guia aos não iniciados nesse ofício. Há de tudo no catálogo nostálgico de referências que acompanham a carreira do artista. Seja a música de raiz enquadrada de forma inteligente em I Guess I Should Go to Sleep ou anseios melancólicos da música folk na faixa título, todas as porções do álbum remetem diretamente ao que movimentava o campo musical há cinco ou seis décadas, com Jack acrescentando mínimas e controladíssimas doses de renovação.

Não há nada que o norte-americano não consiga cobrir no decorrer da obra. Se você precisa de uma canção essencialmente comercial e que talvez sirva para dançar, lá está I’m Shakin’. Quer se apaixonar ou simplesmente sofrer por amor, Love Interruption e Take Me with You When You Go ocupam com maestria esse espaço. Sente falta das guitarras sujas e da distorção monocromática dos primeiros trabalhos do músico com o The White Stripes? Sixteen Saltines e Freedom at 21 assumem exatamente essa função. Contudo, ao mesmo tempo em que diversifica todas as possibilidades do trabalho, White mantém as composições próximas, como se um limite invisível estivesse bem definido dentro da obra.

Há quem possa criticar a falta de inovação que toma conta do trabalho, afinal, longe do plano de fundo branco e vermelho dos álbuns anteriores com o White Stripes, Jack parece apenas interessado em resgatar velhas sensações e cores desbotadas pelo tempo. O resultado é uma resposta mais do que natural aos acúmulos que se formaram na mente do cantor com o passar dos anos e agora aparecem bem definidos e finalmente libertos. Blunderbuss é mais do que uma válvula de escape para as influências que acompanham o músico ou um mero olhar para o passado, o álbum é provavelmente a melhor comprovação de o quanto essas velhas referências estão vivas, sendo Jack White o atual melhor representante delas.

Blunderbuss (2012, Third Man, XL Recordings, Columbia)

Nota: 8.4
Para quem gosta de: The Raconteurs, The Black Keys e The White Stripes
Ouça: Sixteen Saltines e I’m Shakin’

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.