Disco: “Domínio das Águas e dos Céus EP”, Mahmed

/ Por: Cleber Facchi 19/06/2013

Mahmed
Brazilian/Instrumental/Post-Rock
http://mahmed.bandcamp.com/

Por: Allan Assis

Mahmed

Notas soltas e espaçadas por riffs de guitarra em plena mutação formam o livre som da “quase-banda” Mahmed. Do título que não se preocupa em definir, às músicas sem ensaios ou caminhos fáceis, os potiguares surgem em meio a diversos lançamentos instrumentais vindos do mesmo estado e de quebra se sagram como um dos mais interessantes da safra. Lavando as mãos no que diz respeito à criação de uma sonoridade característica e imutável, a palavra de ordem no primeiro EP Domínio das Águas e dos Céus (2013, Independente) é, sim, o experimento.

Formado por Dimitrius Ferreira (guitarra e violão), Leandro Menezes (baixo e trompete) e Walter Nazário (guitarra, violão e synths), o integrantes vêm de histórias em bandas que utilizavam letras nas canções documentadas, embora sempre estivessem mais envolvidos com a musicalização das faixas em si. A ausência de letras é, então, pura questão momentânea, a banda potiguar não descarta possibilidades como as vocalizações e um discurso formulado com a ajuda de palavras no futuro. A calma que se esparsa entre os deliciosos momentos do EP, causa certa estranheza quando voltamos os ouvidos para os projetos anteriores dos natalenses, que tem carimbado nos currículo participações em bandas de punk rock. Mostra-se também reflexo natural da ausência de um baterista fixo, no entanto, durante as gravações assumiu as baquetas Ian Medeiros (Kung Fu Johnny).

As origens transparecem na abertura/título Domínio das águas e dos céus iniciada por um riff fechado e um tanto quanto nervoso. Parede removida, o céu dos natalenses se abre em swing de guitarras e um trompete que mostra pé nos últimos trabalhos da Nação Zumbi. Apesar das perspectivas abertas e amplo espaço criativo, a música não corre solta, desordeira nas pílulas melódicas do Mahmed. A faixa introdutória imprime ordem, com o retorno do riff tema que vez por outra retorna ao centro da canção, deixando claro que há espaço para opiniões, mas não indecisão no trabalho de estreia.

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Agrupamentos de sintetizadores, acordes fáceis de agradar no violão e os espaços de silêncio que parecem calculados para levantar sensações e fazer o relaxamento bater formam São Migas. Faixa para largar as preocupações longe, esquecendo engarrafamentos e barulhos externos para aos poucos vê-los sumirem em meio a cantos de pássaros; prova por si como as palavras não fazem falta quando substituídas pela imaginação do ouvinte, que inspirado pela melodia vai logo preenchendo as lacunas com imagens de ondas, céu e dunas. A segunda, das três canções de estreia é daquelas que se metamorfoseia em várias, transparecendo aos poucos uma segunda parte recheada por sintetizadores, traz psicodelia em pequenas doses. Fechando o trabalho Outros valores além do frenesi, desmente a viagem da faixa anterior e em riff temático produz um pop romântico com direito à “uh uh uhs” ao final.

Envoltos e compromissados com a criação livre, a intenção de produzir sensações e não necessariamente se encaixar a rótulos encontra êxito no EP de estreia da Mahmed, onde a única crítica negativa é a econômica duração do registro: Apenas três músicas que levam pouco mais de 13 minutos para chegar a um prematuro fim. Com esmerada produção de Henrique Pacheco, mas com ares de criação caseira, o Mahmed cumpre as aspirações que os levaram a empunhar seus instrumentos em primeira instância: ideias em suspenso e a criação de sensações diversas no ouvinte que se sente curado após os “minutos medicinais”, que definem em sua página no bandcamp. Expectativa fica para um lançamento de maior duração, por ora, o jeito é aproveitar as pílulas melódicas que traduzem os mistérios entre o céu e as águas.

Mahmed

Domínio das Águas e dos Céus (2013, Independente)

Nota: 7.9
Para quem gosta de: A banda de Joseph Tourton e Burro Morto
Ouça: o disco todo

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.