Disco: “Esperanza”, Esperanza

/ Por: Cleber Facchi 22/07/2013

Esperanza
Brazilian/Indie Rock/Alternative
http://www.esperanza.art.br/

Por: Cleber Facchi

Esperanza

A transformação, ainda que tímida, sempre foi parte substancial no trabalho da curitibana Sabonetes. Enquanto faixas como Se Não Der Não Deu representavam toda a explosão que o Rock nova-iorquino trouxe para a música brasileira no começo da última década, o brilho pop e o flerte com a eletrônica em Descontrolada e Quando ela tira o vestido levaram o grupo paranaense a produzir um exercício melódico repetido por poucos. Contudo, mesmo o percurso mais incerto assumido ao longo dos anos parece incapaz de igualar o senso de risco imposto na presente fase da banda.

Agora sob o título de Esperanza, o quarteto – Artur Roman, Wonder Bettin, Alexandre Caja e João Davi – deixa de lado o teor jovial exposto até o último ano para brincar com um cardápio novo de essências e melodias nostálgicas. Deixando de lado a aceleração que consumiu o rock dos anos 2000, a banda mergulha de forma confessa na década de 1990, resgatando sons típicos do pop inglês e guitarras que bem representam a cena alternativa norte-americana. Na prática, o bom e velho Sabonetes que o público há tempos acompanha, apenas em nova embalagem e um princípio visível de renovação que se estende em cada inédita faixa.

Se ao final do primeiro disco o grupo parecia aportar em um cenário próprio, já desvendado em totalidade – vide o ensaio pop que amarra Marcapágina -, ao pisar no autointitulado novo registro a irregularidade dos sons evidencia curiosidade. Das guitarras de planejamento acústico aos versos distantes de qualquer apelo sintético, cada novo passo é dado com timidez e ainda assim atenção. O resultado está na construção de faixas mais mais lentas, aproximando a banda de versos confessionais e essencialmente dolorosos. É como se a temática brega de Hotel abraçasse a seriedade melancólica de Hora de Partir, tendo como ponto de referência os sons alcançados há duas décadas.

Esperanza

Por conta desse sentido decidido de transformação, o disco custa a impressionar com o mesmo entusiasmo alcançado na estreia do Sabonetes. Por mais que a banda alerte que os rumos e a própria sonoridade instalada na obra sejam outros, não há como passear por faixas como Assalto e Ela Foi Viajar sem levar em conta tudo o que o quarteto paranaense alcançou anteriormente. Falta ao “novo” quarteto o teor dinâmico de outrora, como se toda a pretensão (trabalhada de forma positiva com o Sabonetes) fosse deixada de lado em prol de um som moroso, principalmente nas baladas e no lado mais romântico da obra, que pesa na audição.

Ainda que morno, o disco parece longe de se perder em erros. Exemplo positivo do que estimula a presente sonoridade do grupo está na inexatidão sombria de Melancholia. Firmando guitarras sujas em cima de uma base acústica, a canção reflete toda a influência de Wilco e Clube da Esquina na nova fase da banda, que se permite experimentar e provar de sons talvez inviáveis no cenário imposto pelo Sabonetes. O mesmo se reflete na composição de Vai, música que parece desconstruir tudo o que a banda apresentou no passado, montando em um esqueleto de sons épicos e musicalmente bem resolvidos. Pena que todo o disco não segue a mesma ordem.

Da mesma forma que as primeiras músicas do grupo – lançadas há quase uma década – revelavam um exercício atento de busca por território, com Esperanza não é diferente. Mesmo a cobiçada produção de Kassin parece inexistente no fluxo particular já decidido pelo quarteto, prova de que mesmo trilhando um percurso irregular ao longo do álbum, a banda já sabe exatamente onde quer chegar, basta apenas acertar o passo.

Esperanza

Esperanza (2013, Independente)

Nota: 6.0
Para quem gosta de: Pública, Maglore e Vivendo do Ócio
Ouça: Vai e Melancholia

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.