Disco: “Etiópia”, Sambanzo

/ Por: Cleber Facchi 22/03/2012

Sambanzo
Brazilian/Jazz/Experimental
http://sambanzo.blogspot.com.br/

Por: Cleber Facchi

Somente em 2011 o mineiro Thiago França foi responsável por dar cobertura a três grandes projetos da cena musical brasileira. Um Labirinto Em Cada Pé, do paulistano Romulo Fróes, Memórias Luso/Africanas do produtor Gui Amabis e, o mais importante deles, Metá Metá, trabalho desenvolvido ao lado dos colegas Juçara Amaral e Kiko Dannuci e registro que melhor contribuiu para dar visibilidade ao saxofonista. Ainda próximo desses mesmos colaboradores, porém livre para tomar as direções que bem entender, França, agora sob o nome de Sambanzo, apresenta um registro inteiramente marcado pelo suingue, utilizando do sax vívido que comanda para conduzir o ouvinte por entre complexos e riquíssimos campos musicais.

Impregnado pelo tom volátil do samba e da gafieira, a temática calorosa da música africana e toda a multiplicidade de escolhas favorecidas pelo jazz, Etiópia (2012, Independente) apresenta Thiago França em um estado completamente oposto de qualquer possível território que o músico tenha pisado nos últimos anos – ou pelo menos tenha demonstrado em forma de registro ao público que o acompanha. Experimental, mas nunca intransponível, o disco esbanja brasilidade e forte aproximação com o ouvinte, que mesmo na ausência de palavras deve compreender todo o vocabulário do registro.

Talvez por conta dos diversos projetos em que esteve envolvido ao longo dos últimos anos – além dos trabalhos mencionados acima, França já esteve ao lado de gente como Criolo, Céu e tantos mais da cena paulistana -, Etiópia acabe soando como um projeto de múltiplas formas e faces. Cada composição do álbum envereda para um novo caminho de sons, ritmos e quenturas, com o saxofonista passeando por eles sem ao menos fazer uma pausa – algo que ele demonstra não precisar em nenhum momento.

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A variedade de ritmos que comandam o álbum tornam-se evidentes logo na execução de O Sino da Igrejinha, música de abertura do trabalho. Com quase nove minutos de duração, a faixa abre em meio a contornos climáticos, pula diretamente para o jazz, deixa fluir um triste tom carnavalesco até cair de vez no suingue, abrindo espaço para as musicas seguintes. Com as outras faixas não é diferente, com o músico atribuindo formas e valores mutáveis em cada novo segundo das canções. Talvez a única composição que mantenha certa linearidade seja Xangô da Capadócia, que ao se entregar ao jazz acaba soando como algo próximo do que John Coltrane desenvolveu no clássico Giant Steps.

Por vezes Sambanzo tira os dois pés do chão e se permite flutuar. Durante a extensão de Capadócia, por exemplo, França abre um vórtice rápido no meio da faixa, sugando por meio do saxofone e os efeitos levemente sintetizados que o cercam todos os demais instrumentos ou mínimos ruídos que se instalam no interior da obra. A mesma percepção se faz presente na canção título, em que a batida leve e o clima ameno da composição (aliados ao sempre presente saxofone) embriagam o ouvinte com uma onda instrumental suave e hipnótica.

Embora acompanhado de um grupo eficacíssimo de músicos – sendo eles Kiko Dinucci (guitarra), Marcelo Cabral (baixo), Samba Sam (percussão) e Welington Moreira “Pimpa” (bateria) -, o álbum todo esbanja a força de França, que está presente tanto na abertura do disco como no acorde final da dançante Risca-Faca. A força do saxofonista, entretanto, não desmerece a contribuição dos demais integrantes, algo rapidamente compreendido nas guitarras ágeis de Xangô, nas linhas de baixo da faixa título ou mesmo no constante embate entre Sam e Pimpa durante o desenvolvimento de todo o disco. França é o destaque, mas ele não vem desacompanhado.

Etiópia (2012, Independente)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Metá Metá, Bixiga 70 e Kiko Dannuci
Ouça: Xangô e Capadócia

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.