Disco: “Frou Frou”, Bárbara Eugenia

/ Por: Cleber Facchi 16/10/2015

Bárbara Eugenia
Nacional/Indie/Alternative
http://www.barbaraeugenia.com/

Fotos: Daryan Dornelles

Quem foi que machucou seu coração desse jeito, Bárbara Eugenia?

Em uma espiral melancólica que teve início ainda em 2010, com Journal de BAD, a cantora e compositora carioca encontra no terceiro registro de inéditas, Frou Frou (2015, Independente), uma expansão do som atormentado que também deu vida aos versos e confissões de É o que temos, bem-sucedida obra lançada em 2013. Lamúrias e segredos que fazem da artista uma espécie personagem real, interpretando com sobriedade os mais variados medos e desilusões amorosas vividas por diferentes indivíduos.

Trabalho mais coeso da artista até aqui, Frou Frou despeja logo nos minutos iniciais uma sequência de faixas capazes de embriagar o ouvinte. Até o respiro breve em Para Curar o Coração, curiosa parceria com as cantoras Naná Rizzini, Bluebell, Andreia Dias e Cláudia Dorei, composições como Besta, Vou Ficar Maluca, Pra Te Atazanar e Recomeçar crescem poderosas, radiofônicas, como um resumo entristecido de toda a produção da artista nos últimos cinco anos.

Em Besta, faixa de abertura do disco, uma perfeita representação de toda a massa de arranjos e versos tristes que lentamente cercam o ouvinte até a chegada da homônima canção de encerramento. “Preste atenção no que eu digo / Você me marcou com unhas e dentes / E sangue / Eu lhe tenho amor / Eu lhe tenho amor“, desaba Eugenia em um ato de perfeita dramaticidade, abrindo passagem para a sequência de casos de amor não resolvidos que preenchem todo o restante da obra.

Acompanhada pelos mesmos parceiros de banda dos dois últimos álbuns de estúdio, Eugenia e o time composto por Clayton Martin, David Bernardo e Jesus Sanchez atravessam diferentes décadas e propostas a cada faixa do disco. Enquanto o Blues ecoa de maneira renovada em Ai, Doeu!, basta um rápido passeio por faixas como Vou Ficar Maluca e Pra Te Atazanar – parceria com Rafael Castro – para perceber o explícito apreço do time de instrumentistas pela música brega/jovem guarda dos anos 1960 e 1970. Assim como no álbum de 2013, não faltam referências aos trabalhos de Odair José, Roberto Carlos, Fagner e todo o time de veteranos da música romântica brasileira.

A diferença em relação aos dois últimos álbuns da cantora está explícita divisão de Frou Frou em dois lados distintos. Com a breve Para Curar o Coração como ponto de referência, Eugênia concentra na primeira metade do álbum um acervo de canções marcadas pelo romantismo “pop”. No restante da obra, o uso detalhado de temas experimentais e psicodélicos. Não por acaso músicas como Ouvir Dizer – parceira com Peri Pane – e Cama, composição originalmente apresentada no terceiro álbum de inéditas da Cérebro Eletrônico, são encaixadas nesse mesmo bloco. Sobram ainda faixas costuradas por versos em inglês, caso da dançante Doppelganger Love e da empoeirada Baby.

Do ápice criativo (e sentimental) alcançado em Coração e Roupa Suja, ambas do álbum lançado em 2013, a artista parece ter encontrado o caminho para o presente disco – indo um pouco além. Interessante notar como mesmo nos instantes mais complexos da obra, a relação de proximidade entre a cantora e o ouvinte é constante, quase direta. Da abertura com Besta, passando pela sequência de músicas que detalham os sentimentos de diferentes compositores, nunca antes um trabalho de Barbara Eugênia pareceu tão acessível, completo e sofredor quanto Frou Frou.

Frou Frou (2015, Independente)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Pélico, Céu e Cidadão Instigado
Ouça: Besta, Pra Te Atazanar e Recomeçar

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.