Disco: “Go Tell Fire To The Mountain”, WU LYF

/ Por: Cleber Facchi 13/06/2011

WU LYF
British/Experimental/Lo-Fi
http://www.worldunite.org/

Por: Cleber Facchi

Há mais de vinte anos um quase movimento explodia através das produções musicais que circundavam toda a região de Manchester, no noroeste da Inglaterra. Embora sejam inexplicáveis os fatores que levaram a isso, durante o período que vai do final dos anos 80 aos princípios da década de 1990, nunca a produção local esteve tão em alta. Da profusão de artistas que se lançavam naquele período vinham nomes como The Stone Roses, Happy Mondays e The Charlatans, cada uma dessas bandas munidas de algum trabalho puramente conceitual e transgressor. Passadas duas décadas do que ficou definido como “Madchester”, os ecos daquela geração ainda se prolongam, influenciando ou servindo de base para uma série de artistas atuais.

Mais recente lançamento a vir das úmidas terras britânicas é o álbum Go Tell Fire To The Mountain (2011) do quarteto WU LYF (World Unite Lucifer Youth Foundation), um dos trabalhos mais excêntricos e revolucionários que vieram do velho continente na última década. Se durante anos alguns artistas vem recriando o que seria uma sonoridade pós-apocalíptica, tomada por um conjunto de sons claustrofóbicos, instáveis e vanguardistas, então a sonoridade do grupo inglês é anterior a isso, como se anunciasse o fim dos tempos, um prelúdio de toda a destruição que está por vir.

Há quase dois anos quando a banda formada por Ellery Roberts (vocal, órgão), Tom McClung (baixo), Joseph Manning (bateria) e Evans Kati (guitarra) lançou seus primeiros singles e EPs caseiros, a maneira esquizofrênica com que o grupo trabalhava suas canções deixava indícios de que algo grandioso estava por vir, porém, nada tão grandioso quanto o que é revelado neste primeiro trabalho de estúdio. Gravado e produzido de forma independente em uma igreja abandonada nos arredores de Manchester, o primeiro disco do quarteto britânico revela uma coleção de faixas amarguradas, raivosas, assustadoras e todas dotadas de pura originalidade. Um álbum que aumenta sua estranheza em cada nova audição e que por isso nos suga cada vez mais para dentro de seus limites.

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A sujeira que se espalha em toda a dezena de canções do álbum deturpa os mais variados estilos musicais a fim de desenvolver algo que se revele como original. Sob uma embalagem Lo-Fi pendências ao post-punk, toques de math rock, ambientações dignas do Post-Rock (não são poucos os que apontam Goodspeed! Black Emperor como uma das maiores referências do grupo), música gótica e até rock de arena acabam reconfigurados. É como se distintas vertentes musicais fossem quebradas em milhares de pedaços, e cada mínimo fragmento fosse encaixado novamente, porém de maneira aleatória, quase nonsense.

Mais do que um reduto de faixas sujas, Go Tell Fire To The Mountain é um disco que abraça a música pop sem medo. Por mais que o direcionamento dado ao trabalho seja de pura experimentação e as letras entreguem um caráter politizado, as melodias e os versos fáceis são os elementos que trazem para a singular obra um caráter radiofônico e que tenta se aproximar de seus ouvintes. Do grupo de faixas que primam por sua acessibilidade estão We Bros, Dirt e Such a Sad Puppy Dog, uma tríade de composições que se destacam pela construção de melodias crescentes e refrões de fácil absorção.

Por mais que seja possível assimilar o trabalho do WU LYF com o de outras bandas, a singularidade das composições é o que dá destaque ao projeto, movimenta o álbum e hipnotiza o ouvinte. Nada que tenha vindo da Inglaterra nos últimos anos consegue soar tão distinto ou excepcional quanto esta estreia. O emaranhado de sons poluídos, gritos roucos e letras que se desvencilham do básico dão ao estrondoso debut um caráter de contra resposta à grande parte do que é promovido pelo rock inglês dos últimos dez ou vinte anos, um tipo de disco que talvez passe despercebido agora, mas que venha a se transformar em clássico em um futuro próximo.

Go Tell Fire To The Mountain (2011)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Salem, How To Dress Well e Zola Jesus
Ouça: DIRT

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.