Disco: “Half Way Home”, Angel Olsen

/ Por: Cleber Facchi 18/09/2012

Angel Olsen
Indie/Folk/Female Vocalists
https://www.facebook.com/angelolsenmusic

Por: Cleber Facchi

Basta apenas sentimento para movimentar o trabalho da cantora e compositora Angel Holsen. Ou pelo menos é isso que Half Way Home (2012, Bathetic) primeiro registro oficial da artista norte-americana evidencia e toda sua extensão. Sublime na condução, amargo na maneira como os versos são lentamente entalhados, o álbum parece absorver cada mínimo (e até imperceptível) sentimento da artista, figura que se transforma na matéria base para o álbum. Sejam exaltações românticas, desgastes melancólicos ou pequenas construções introspectivas que curiosamente se relacionam com o que há de mais íntimo no espectador, tudo contribui para o crescimento do registro de acabamento simples, mas imenso na forma que se relaciona com as mais profundas percepções da natureza humana.

Praticamente solitária e se revezando na construção de todas as obscuras exaltações instrumentais que florescem pelo trabalho, a cantora vinda de Chicago, Illinois passeia ao longo do registro de 11 memoráveis composições destilando acordes simples, uma ferramenta que embora pareça limitada, soa inteligente e necessária ao bom desenvolvimento do projeto. Quase ausente de efeitos percussivos e cercada pela sobriedade de parcos violões, Olsen utiliza do uso intencionalmente limitado dos instrumentos para ampliar de forma significativa todos os limites de sua voz, elemento que se não sustenta o trabalho individualmente, serve para hipnotizar o ouvinte logo em uma primeira audição.

Por vezes soando como uma versão feminina dos anseios soturnos de Bill Callahan (ou seria Bonnie “Prince” Billy?) e em outras como uma Joanna Newsom reformulada e menos “medieval”, Angel transforma os vocais aplicados no decorrer do álbum em uma arma de acertos ilimitados e alvos garantidos. Você não precisa de muito para se interessar pelo trabalho da cantora. Basta uma rápida passagem pela faixa de abertura, Acrobat, para logo perceber do que se trata o trabalho da norte-americana, que passeia de forma brilhante por uma dose de calmaria inicial para logo depois se aprofundar em enormes exaltações vocais que nitidamente expandem os limites da melancolia sustentada pelo disco.

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Como se flutuasse em algum lugar da década de 1960, ao mesmo tempo em que soa confortavelmente bem instalada nas referências típicas da música folk contemporânea, Olsen sabe como converter a tonalidade “limitada” de sua obra em algo que pouco a pouco se apega a incontáveis referências. Por vezes capaz de conversar com o que Leonard Cohen propôs em discos como Songs From a Room (1969) e Songs of Love and Hate (1971) e ainda assim próxima da mesma beleza confessional aplicada em discos recentes como For Emma, Forever Ago (2008) do Bon Iver, a cantora se perde (de forma assertiva) em um oceano de experiências. Elementos necessários e que lentamente evidenciam o surgimento de uma artista singular, dona de um som de propriedades nitidamente particulares.

Entregue ao uso de acertos sombrios e construções instrumentais “minimalistas”, Olson revela em alguns instantes da obra uma tonalidade distinta do que em grande escala define a execução de Half Way Home. Em The Waiting, por exemplo, logo na abertura do disco, a cantora deixa claro que para além dos realces caseiros e ponderados que costuram o trabalho uma verve ilimitada de novas possibilidades são capazes de fluir em suas mãos, algo que as guitarras bem instaladas (e sujas) definem de forma atrativa. Até algumas passagens bem exploradas pelo Country Alternativo são ensaiadas em Lonely Universe e The Sky Opened Up, canções que mantém nos pequenos encaixes sombrios um caminho não óbvio para o que parece se desenvolver no restante da obra.

De natureza reduzida e delicada, Half Way Home é um trabalho que parece fluir dentro de uma medida de tempo e conceitos próprios. Simples por objetivo, cada nuance ou acorde que se esconde no interior da obra surge confortavelmente bem encaixada, como se Angel Olsen tivesse noção exata de cada particularidade que dá vida ao amargurado e assim ainda romântico disco. Talvez até falte ao registro alguma exaltação que o transforme em um trabalho maior ou incorporações instrumentais que garantam um sentido mais amplo ao álbum, entretanto, a maneira sutil como a cantora valoriza cada detalhe, faz com que o disco cresça naturalmente, maior do que qualquer tentativa forçada que pudesse torná-lo grande.

Half Way Home (2012, Bathetic)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Joanna Newsom, Feist e Bill Callahan
Ouça: Acrobat, The Waiting e Free

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.