Disco: “Honeymoon”, Lana del Rey

/ Por: Cleber Facchi 24/09/2015

Lana del Rey
Pop/Female Vocalists/Dream Pop
http://lanadelrey.com/

Lana del Rey finalmente parece ter se encontrado. Depois de flertar com o Pop/Hip-Hop em Born to Die (2012) e mergulhar de cabeça no rock dos anos 1970 com Ultraviolence (2014), a cantora e compositora norte-americana assume com o quarto registro de inéditas, Honeymoon (2015, Interscope / Polydor), sua obra mais sensível e equilibrada. Uma inevitável continuação do mesmo acervo romântico explorada desde as primeiras canções de sucesso – caso de Blue Jeans e Video Games -, porém, hoje cercada de de versos e arranjos sóbrios, essencialmente provocantes.

De forte carga emocional, com o presente disco, a cantora sustenta uma espécie de narrativa dramática que se estende do primeiro ao último ato da obra. Uma delicada seleção de contos musicados, poemas de amor e versos tristes que retratam o mesmo sofrimento vivido por diferentes indivíduos apaixonados – em Honeymoon, interpretados pela personagem real de Lana del Rey. A própria abertura do álbum, um orquestral e enevoado arranjo de cordas, típico do cinema Noir dos anos 1940/1950, reforça o aspecto “cinematográfico” do álbum – mais uma vez ambientado no quente estado da Califórnia.

Terceiro álbum da parceria entre Lana del Rey e o produtor estadunidense Rick Nowels (Jamie XX, Lykke Li), Honeymoon é uma obra que se divide entre a necessidade de atender as exigências do pop e distanciar a cantora de um possível zona de conforto. Composições de forte apelo comercial estão por todos os lados, caso da faixa-título, Freak, High By The Beach e Music To Watch Boys To, nada que interfira na constante inserção de faixas lentas, perfumadas pela habitual letargia que sustenta o trabalho de del Rey desde os primeiros inventos.

A relação da cantora com o Jazz parece ser outro elemento essencial para o desenvolvimento da obra. Exemplo disso sobrevive nos versos e arranjos montados para a melancólica Terrence Loves You. Triste música de separação – “Eu me perdi quando perdi você” -, a terceira faixa do disco parece estabelecer as bases para todo o restante da obra, encaixando solos de piano, sopros, metais e violinos que crescem e diminuem de acordo com as exigências (e lamentos) da cantora. Um meio termo entre o clima típico dos clubes de jazz e a atmosfera criada pelo compositor Angelo Badalamenti para a trilha sonora de Twin Peaks – uma das principais influências de del Rey em toda a discografia.

Tamanha sutileza na construção dos arranjos parece servir de estimulo para a formação dos versos que recheiam a obra. Salve o brilho pop de faixas como High By The Beach e Music To Watch Boys To, pela primeira vez um trabalho de Lana del Rey se distancia do uso de versos descartáveis e cíclicos, focando em músicas delicadamente extensas. Versos como os de God Knows I Tried, um longo tratado sobre o completo isolamento da cantora, perdida em um mundo de exageros alcoólicos, cenários acinzentados e confesso desespero – “Eu não tenho muito para viver / Desde que encontrei minha fama”.

Ainda que a tristeza seja um elemento substancial desde o primeiro álbum da cantora, poucas vezes antes Lana del Rey pareceu tão honesta e íntima do próprio público quanto em Honeymoon. A cada nova faixa, uma sequência de confissões, versos amargos, sedutores – “Meu amor é quente cheio de fogo / Meu amor está cheio de fogo” – e a completa expressão do lento descontrole emocional da artista, elementos que arrastam com naturalidade o ouvinte para dentro desse pequeno turbilhão de emoções, soluços e desejos. Uma constante sensação de que o esboço criado pela artista há poucos meses em Ultraviolence finalmente ganhou cor e vida.

Honeymoon (2015, Interscope / Polydor)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Lorde, Banks e Lykke Li
Ouça: High By The Beach, God Knows I Tried e Terrence Loves You

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.