Disco: “I Know What Love Isn’t”, Jens Lekman

/ Por: Cleber Facchi 10/08/2012

Jens Lekman
Swedih/Indie Pop/Singer-Songwriter
http://www.jenslekman.com/

Jens Lekman parece ser dono de um método particular para transformar sentimentos e percepções complexas em composições de acabamento simples e linguagem universal. Trazendo no amor, nas paixões e até em certa dose de erotismo as principais ferramentas de “trabalho” para elaborar cada novo e sempre delicado lançamento, o cantor e compositor sueco chega ao terceiro registro em estúdio esbanjando toda essa habilidade como um apaixonado poeta. Figura que parece compreender os mais variados sentimentos e confissões humanas de maneira peculiar, o músico nos ensina a converter o que antes poderia ser entendido de forma simples em algo grandioso, épico e ainda assim delicadamente confessional.

Passados cinco anos desde que lançou aquela que é a maior obra de toda sua carreira, o clássico Night Falls Over Kortedala (2007), Lekman faz do presente disco não uma continuação, mas uma aprimorada e ainda mais sutil experiência do que fora testado há meia década. Em I Know What Love Isn’t (2012, Secretly Canadian) a necessidade de flutuar em um campo de delicadezas e composições permeadas pela saudade arrastam o músico para um cenário novo e de consequentes renovações. Longe de superar ou sequer prosseguir com o que fora exposto há cinco anos, o cantor nos acomoda em um cenário onde a paixão dá lugar à saudade, o beijo se converte em despedida e que era grandioso, hoje tenta nos confortar.

Tudo se opõe de forma doce e serena no decorrer do novo disco. Distante de conduzir músicas de natureza épica como aconteceu ao longo de And I Remember Every Kiss, If I Could Cry (It Would Feel Like This) e Kanske Ar Jag Kar I Dig, Lekman se fecha em uma calmaria mezzo dolorosa, mezzo intimista, revelando uma antítese do que propunha em 2007. Esqueça a presença monumental da orquestra que acompanhou o músico durante toda a extensão do disco. Em nova fase tudo soa de forma diminuta, com o artista se envolvendo com a elaboração de faixas mais econômicas, controladas, mas ainda assim tão encantadoras quanto no passado.

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Por conta dessa natureza menos exaltada das proporções orquestrais, não são poucos os momentos em que a pegada mais “rock” de Lekman se torna evidente. Talvez pela similaridade dos vocais somado ao resultado menos volumoso do instrumental que rege o disco, em faixas como Become Someone Else’s e Some Dandruff on Your Shoulder a aproximação do sueco com o trabalho de Morissey (nos Smiths da fase “Strangeways, Here We Come”) é constante. Se observarmos a maneira como o músico utiliza do novo disco para destilar seus sentimentos, a semelhança com a produção do ex-vocalista do The Smiths é ainda maior, afinal, o que é The End of the World Is Bigger Than Love se não uma bela representação do que o britânico fazia em idos da década de 1980?

Mesmo beirando a breguice em alguns instantes – como evidencia na faixa título e na canção de encerramento do álbum, Every Little Hair Knows Your Name -, Lekman transforma essa honestidade poética e os versos estritamente confessionais em um mecanismo de diálogo direto com ouvinte. É como se o músico traduzisse de maneira simples tudo aquilo que sempre buscamos expressar em um momento de melancolia, mas pela dor (ou incapacidade própria) não conseguimos pronunciar. Essa virtude do compositor é a mesma dos registros anteriores, um exercício iniciado no debut When I Said I Wanted to Be Your Dog (2004) e aprimorado de forma surpreendente ao longo de todo o último disco.

Longe de se apresentar como um registro musicalmente grandioso – aspecto que até o último EP do cantor, An Argument with Myself (2011) acabou incentivando -, I Know What Love Isn’t é um projeto que prende o ouvinte pela poesia. Em curtos segundos é como se Lekman transformasse todos os sentimentos de complexidade incalculável em algo racional, de fácil assimilação para todas as partes e ainda assim capaz de encantar quando pronunciado. Não há nada de novo na maneira como o músico incorpora uma série de preferências e confissões românticas ao longo do trabalho. Entretanto, ao olhar para particularidades por vezes esquecidas dos mais convencionais e por vezes desgastados sentimentos, Lekman revela um universo novo, um resultado (hoje) inteiramente permeado pela dor.

I Know What Love Isn’t (2012, Secretly Canadian)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Acid House Kings, Belle and Sebastian e The Magnetic Fields
Ouça: The World Moves On e The End of the World Is Bigger Than Love

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.