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Críticas

Father John Misty

: "I Love You, Honeybear"

Ano: 2015

Selo: Sub Pop

Gênero: Folk, Chamber Pop

Para quem gosta de: Fleet Foxes, Phosphorescent

Ouça: True Affection, Chateu Lobby #4

8.6
8.6

Disco: “I Love You, Honeybear”, Father John Misty

Ano: 2015

Selo: Sub Pop

Gênero: Folk, Chamber Pop

Para quem gosta de: Fleet Foxes, Phosphorescent

Ouça: True Affection, Chateu Lobby #4

/ Por: Cleber Facchi 24/03/2015

Não existe espaço para o amor no mundo da música. Exagero? Faça o teste: quantos discos clássicos ou álbuns recentes, de nítida exaltação ao amor, você consegue listar? Projetos radiantes, marcados pelo mesmo sentimento de plenitude que domina um indivíduo apaixonado. Pronto. Agora, pense apenas em discos marcados pela dor. Álbuns inspirados pela separação, mágoas e relacionamentos fracassados. Não vá muito longe: apenas discos lançados nos últimos meses, há poucas semanas ou do acervo “proibido” que você visitou há poucas horas. Notou alguma diferença entre as listas?

Contrário ao ensinamento de filmes e séries românticas, em se tratando da música, a dor convence, marca e até “canta” mais alto do que o amor. O que explica essa (sádica) preferência? Um elemento bastante simples: a honestidade. De Adele a Bob Dylan, Sharon Van Etten a Lionel Richie, não existem segredos e relatos intimistas que permaneçam ocultos ao final de um relacionamento. Traições, brigas ou antigos sussurros românticos: tudo acaba exposto.

Joshua Tillman parece entender bem isso. Ao assumir o papel de Father John Misty – “personagem” e projeto autoral criado logo após o rompimento com o Fleet Foxes, onde atuou até o lançamento de Helplessness Blues (2011) -, o músico não poupa na exposição da própria intimidade. Mesmo fazendo uso de um pseudônimo, protegido em manto de sarcasmo, canções sobre sobre sexo, uso de drogas ou relatos de sedução barata refletem apenas a imagem do cantor. Temas retratados com humor e honestidade, componentes também fundamentais para a interpretação de Tillman sobre o amor e a vida conjugal em I Love You, Honeybear (2015, Sub Pop).

Em uma explícita curva conceitual, dentro até da própria carreira, Tillman assina um trabalho muito maior do que a previsível seleção de ” contos” imaginada desde último álbum do músico, o debut Fear Fun (2012). Mesmo sob o título de Father John Misty, cada verso deriva de fragmentos pinçados do cotidiano do cantor. Uma obra ainda irônica e carregada humor – vide o relato em I Went to the Store One Day ou o anti-hino de Bored in the USA -, mas ao mesmo tempo sensível, centrada no convívio, amor e conflitos ao lado da esposa do cantor, a diretora Emma Elizabeth Tillman.

Esquivo de versos açucarados, típicos em obras “apaixonadas”, Tillman deturpa toda a fantasia do amor nos primeiros instantes do disco, logo que a faixa-título se apresenta ao ouvinte. Em meio ao coro de arranjos e vozes suavizadas – “Honeybear, honeybear, honeybear” -, o contrastado encaixe de palavras “sujas” – “rímel, sangue, cinzas e esperma“-; um relato cru, real, de qualquer casal depois do sexo. Entre recortes intimistas e versos de fácil transposição, o mesmo lirismo honesto aos poucos invade todo o registro. Uma obra quase invasiva, salva pelo humor flexível do artista.

Reflexo do completo domínio de Tillman sobre a obra – sobrepondo até a base lírica do disco -, I Love You, Honeybear carrega nos arranjos orquestrais um refinamento espantoso. Entretanto, mesmo a sensibilidade reforçada nos arranjos não passa de um novo tempero no jogo satírico do cantor – capaz de replicar os mesmos temas de artistas românticos dos anos 1960/1970. Uma estrutura dramática, talvez em excesso, porém, fundamental para o tom sarcástico de Tillman, o narrador/personagem de uma história de amor tão real, que até parece fictícia.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.