Disco: “Impossível Breve”, Jennifer Souza

/ Por: Cleber Facchi 25/07/2013

Jennifer Souza
Brazilian/Indie/Folk
http://www.jennifersouza.com/

Jennifer Souza

Cercado em conceitos e composições instrumentais singulares, Nacional (2011), segundo registro em estúdio da banda Transmissor, não trouxe apenas a um entendimento pleno sobre a própria obra grupo mineiro, mas um caminho seguro para que seus integrantes partissem em carreira solo. Assim como o exercício imposto com o lançamento de Dia e Noite no mesmo Céu (2012), estreia solo de Leonardo Marques, a parceira de banda e também vocalista Jennifer Souza prova da identidade adquirida em coletivo como uma premissa para os sons concebidos no primeiro álbum autoral, o delicado e naturalmente doloroso Impossível Breve (2013, Independente).

Condensado leve de nove faixas, o disco segue em um percurso assumido pela linguagem particular da artista, mas de aproximação constante com o universo coletivo da banda que a apresentou. Atenta à relação dos sons e temáticas reveladas com o grupo, Souza faz do disco uma lenta abertura para um universo confessional, utilizando das próprias melancolias e desilusões compartilhadas como uma premissa para cada faixa comportada que cresce pela obra. Ainda próxima dos companheiros de banda – que assumem parte da produção, instrumentos e a gravação da obra -, a cantora firma com o registro um ambiente familiar, porém, longe de possíveis redundâncias e carregado de surpresas.

Também centrado em elementos específicos da década de 1970 – algo como uma versão leve dos ensaios de Milton Nascimento com o Clube da Esquina -, Impossível Breve encontra na relação com a música Folk e as sobreposições do Jazz um sentido de novidade. Alimentado até a última música por guitarras brandas e uma linha de baixo que preenche as lacunas, o disco cresce em cima de um sentido consciente e bem resolvido: apresentar de forma definitiva os vocais de Jennifer Souza. Se ao lado dos parceiros da Transmissor a cantora surgia como um tempero, estimulando o toque agridoce do trabalho, em projeto solo todos os olhares (e ouvidos) apontam para ela.

A densidade dos vocais está presente em cada mínimo aspecto que abastece a composição do álbum. Seja nas paisagens acústicas de Sorte ou Azar, na aceleração leve de Para Keruac ou mesmo no dueto com Fabio Góes (em Pedro e Lis), a voz bem alinhada da cantora se sustenta em essência, transformando os instrumentos em um complemento funcional. O resultado dessa completa entrega da artista torna as letras amargas do disco ainda mais convincentes. É como se os versos talvez previsíveis de Esparadrapo ou a saudade ponderada em Possível Breve crescessem para além dos próprios limites, impondo presença ao trabalho.

Mesmo que o enquadramento formidável dos vocais sirvam de sustento natural ao disco, negar a base instrumental planejada para atender às exigências do trabalho seria um erro. Exemplo claro da relação de acerto entre as vozes e instrumentos chega logo no começo do disco, com Vouloir. Sombria e ambientada em um cenário à meia luz, a música traz no uso de metais (que remetem à Life In a Glass House do Radiohead) um reforço, como se a cantora “duelasse” com os instrumentos em uma medida de plena acerto. Já em Logo Tudo Acabado há um efeito curioso, com a própria voz de Jennifer sendo dissolvida como instrumento, resultando em um composto etéreo capaz de reforçar o uso das guitarras climáticas que encaminham o álbum para o eixo final.

Disposta ao invento e, ainda assim, capaz de ressaltar uma série de elementos previamente incorporados, Jennifer Souza encontra na sobriedade de Impossível Breve um trabalho que foge dos limites de outras cantoras brasileiras. Longe do ambiente fechado da cena paulistana – que concentra Tulipa Ruiz, Céu, Karina Buhr, entre outras artistas recentes -, a cantora mineira exprime grandeza e uma linguagem particular com o primeiro disco solo. Uma extensão clara da obra do Transmissor, mas acima de tudo, um exercício de identidade.

 

Impossível Breve (2013, Independente)

Nota: 8.1
Para quem gosta de: Transmissor, Leonardo Marques e Quarto Negro
Ouça: Vouloir, Pedro e Lis e Cuida de Si

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.