Disco: “Law and Order”, Jonathan Rado

/ Por: Cleber Facchi 23/09/2013

Jonathan Rado
Indie/Folk/Alternative
https://www.facebook.com/jonathanradomusic

Por: Fernanda Blammer

Jonathan Rado

De todas as surpresas que o cenário musical de 2013 proporcionou até agora, We Are the 21st Century Ambassadors of Peace & Magic, mais recente álbum de estúdio da dupla Foxygen, talvez seja uma das mais gratificantes. Caminho direto para as composições nostalgicamente instaladas na década de 1960, o álbum é uma visita suave e carregada de lisergia ao passado, mas sem deixar os dois pés bem fixos no presente. Morada de canções de amor e versos de detalhamento simples, mas comovente, o disco funciona como um ponto de encontro entre as bases musicais/líricas de Sam France e Jonathan Rado, duo que mesmo descoberto recentemente, acumula uma sequência de pequenas obras caseiras desde idos de 2005.

Em meio a boatos e pequenas crises que talvez interfiram na continuidade do projeto, Rado assume a dianteira e apresenta ao público Law and Order (2013, Woodsist), primeiro registro solo e uma espécie de continuação ao disco apresentado há alguns meses. Resposta ou possível confirmação ao que identifica a parcela conceitual do músico com o Foxygen, o álbum encontra na relação musical com as décadas de 1960 e 1970 mais uma evidência do fascínio do norte-americano pela herança Hippie e toda a sonoridade imposta há mais de quatro décadas.

Ora atento ao manuseio psicodélico do Folk (Faces), ora capaz de brincar com o Garage Rock em um esforço de nostalgia (Would You Always Be At Home), o debut solo do norte-americano é de forma bastante clara um exercício de construção musical isolada. Cada verso, som ou mínima incorporação estética da obra esbarra de forma evidente na figura de seu criador, efeito que força o ouvinte a se desprender das próprias convicções para trafegar pelo registro em um sentimento de observação. Não se trata de voltar ao passado como na recente obra do Foxygen, mas de acompanhar 12 composições que manifestam a própria interpretação de Rado em relação a esse cenário.

Dividido em dois grupos específicos de composições, o álbum manifesta nessa relação de interferência musical dupla os erros e acertos da obra. Quando ameno, Rado faz nascer composições aos moldes de All the Lights Went Out in Georgia e Seven Horses, canções marejadas pela saudade, versos místicos e um cheiro de passado que, longe de cair em redundâcia, acerta sem grandes dificuldades. O melhor exemplar de toda essa interpretação branda e voltada ao passado está em Hand in Mine, um adorável dueto (dividido com a namorada) e que bem poderia ser encontrado em algum single perdido da década de 1960. Um esforço harmônico que passa pelo pop e ocupa com leveza os ouvidos do espectador. Nada além do bom e velho Jonathan Rado do Foxygen dando as caras.

Entretanto, ao desviar daquilo que já provou ser capaz de manusear com precisão, Rado cai em uma tentativa falha de reinvento que custa parte expressiva de toda a beleza do trabalho. Seja pelo abuso lisérgico-experimental de Looking 4a Girl Like U ou dos ruídos caóticos instalados em I Wanna Feel it Now!!!, cada peça do álbum alimentada pela raiva não apenas destoa do que parece bem empregado nos instantes de amenidade da obra, como se manifesta atrasado em relação ao que outros artistas já desenvolvem. Soando um Ty Segall sem testosterona, Rado faz das distorções um princípio de desequilíbrio, manifestação que, longe de brindar o ouvinte com acerto, torna o registro desgastante, por vezes tolo.

Duas obras erroneamente condensadas dentro de um só registro. Essa parece ser a principal manifestação do dicotômica Law and Order, álbum que mesmo alimentado por boas canções favorece no embate entre gêneros um exemplar torto. Sobra até para um Synthpop estranho aparecer ao final do disco, em Pot of Gold, prova de as ideias circulam com intensidade pela mente do músico, mas de forma desconexa em grande parte do tempo. Se o Foxygen corre o risco de chegar ao fim, uma coisa é certa, Jonathan Rado vai ter de se esforçar um pouco mais para alcançar o mesmo nível de maturidade que parece revelar somente ao lado do parceiro Sam France.

Jonathan Rado

Law and Order (2013, Woodsist)

Nota: 6.0
Para quem gosta de: Foxygen, Jackson Scott e Unknown Mortal Orchestra
Ouça: Faces, Hand in Mine e Seven Horses

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.