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Críticas

Meneio

: "Meneio"

Ano: 2015

Selo: Balaclava Records

Gênero: Experimental, Pós-Rock

Para quem gosta de: Kalouv e Mahmed

Ouça: UVB, Instiga e Virgem Vertigem

8.5
8.5

Disco: “Meneio”, Meneio

Ano: 2015

Selo: Balaclava Records

Gênero: Experimental, Pós-Rock

Para quem gosta de: Kalouv e Mahmed

Ouça: UVB, Instiga e Virgem Vertigem

/ Por: Cleber Facchi 15/10/2015

Ruídos eletrônicos, arranjos espaçados, delicadas inserções de vozes e batidas que seguem dentro de uma medida própria de tempo. Durante pouco mais de 30 minutos duração, esse é o cenário musicalmente arquitetado pela banda Meneio. Uma colisão de ideias, referências extraídas de várias décadas e membros vindos de diferentes projetos da cena musical paulistana, mas que atuam de maneira concisa, harmônica, em cada fragmento instrumental do autointitulado registro de inéditas que acaba de ser retirada do forno.

Orquestrado e produzido pelos próprios integrantes da banda – formada por Jovem Palerosi (guitarra e samples), Eduardo Rodrigues (sintetizador e samples), Adeniran Balthazar (baixo) e Zé Guilherme Aquiles (bateria) -, o registro masterizado por Arthur Joly no Estúdio Reco-Master, soa como um passeio por diferentes cenas e tendências do rock alternativo dos anos 1990 sem necessariamente tirar os pés do presente. Temas e pequenas ambientações climáticas que parecem crescer lentamente na cabeça do ouvinte.

Basta uma rápida passagem pela trinca inicial de composições – formada por UVB, Tao e Instiga – para perceber o completo fascínio do quarteto pela obra de gigantes do Jazz/Post-Rock. Em um permanente diálogo com a música apresentada há duas (ou mais) décadas, solos alongados de guitarras, efeitos enevoados e samples resgatam com delicadeza o trabalho assinado por veteranos como Tortoise, The Sea and Cake, Stereolab e Radiohead. Um fino exercício de apropriação, sempre curioso e referencial, mas que logo mergulha em um cenário marcado pelo ineditismo.

Diferente de outros representantes da cena nacional, concentrados (ou talvez restritos) ao uso de instrumentos e bases “orgânicas”, durante a execução de todo o trabalho, o uso preciso de efeitos eletrônicos se revela como um elemento fundamental para a construção do trabalho. Mais do que um complemento, ocultando as pequenas lacunas da obra, sintetizadores, samples e batidas parecem servir de base para o desenvolvimento e crescimento de cada uma das nove faixas tecidas pela banda.

Canção de abertura do disco, UVB não apenas sintetiza a relação da banda com a música eletrônica, como parece apontar a direção para todo o restante do disco. Faixa mais extensa da obra, a composição de quase cinco minutos borbulha em meio a efeitos climáticos, batidas secas e todo um catálogo de ruídos mecânicos encaixados lentamente. A mesma proposta volta a se repetir em faixas como Virgem Vertigem e Acalmaria, entretanto, quanto mais o disco avança, mais o ouvinte é acomodado em um labirinto de sons e arranjos etéreos, por vezes mágicos, como se instrumentos e retalhos eletrônicos fossem agrupados em uma mesma massa sonora.

Produzido em um período de ano e quatro meses, o registro – e cada uma das nove faixas – em nenhum momento parece perder o equilíbrio, mantendo a relação até o último instante. Ainda que cada composição passeie por um imenso campo de texturas e possibilidades, nítido é o tracejado que delimita todo o bloco de canções em um mesmo cenário conceitual, como se cada faixa servisse de estímulo para a música seguinte sem necessariamente interferir na ordem e plena coerência que estimula o registro até a última nota.  

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.