Disco: “Multi-Love”, Unknown Mortal Orchestra

/ Por: Cleber Facchi 15/06/2015

Unknown Mortal Orchestra
Psychedelic/Indie/Alternative
http://unknownmortalorchestra.com/

Com o lançamento do segundo trabalho em estúdio, II (2013), Ruban Nielson e os parceiros do Unknown Mortal Orchestra partiram em busca de um novo universo de referências musicais. Da sonoridade suja e naturalmente esquizofrênica lançada por gigantes como Captain Beefheart e toda a geração de artistas pós-1967, base do primeiro disco, pouco sobreviveu. Para ocupar essa “lacuna”, um diálogo aproximado com o mesmo R&B de Prince e outros veteranos da década de 1970, preferência que também conduz os arranjos e versos do terceiro álbum do grupo, Multi-Love (2015, Jagjaguwar).

Passo além em relação ao último lançamento da banda, com o presente registro, o coletivo original de Auckland, Nova Zelândia continua a investir no uso descomplicado das melodias, entretanto, encontra no experimento um mecanismo de transformação. São peças como a inaugural faixa-título, canção que mesmo sustentada pelo uso de arranjos e temas radiofônicos, jamais tende ao óbvio, brincando com a interpretação do ouvinte a cada novo ruído distorcido.

Em uma observação atenta, Multi-Love parece entregar ao ouvinte o mesmo cardápio de composições apresentadas no trabalho anterior, porém, hoje cobertas pelo granulado sujo e carga de distorções que marca o primeiro registro da banda, de 2011. Exemplo claro disso está nas melodias e vozes encaixadas no interior de Like Acid Rain e Ur Life One Night. Montadas de forma urgente, ambas as canções passeiam pela psicodelia caseira de 1960 sem necessariamente abandonar o diálogo com as referências lançadas na década seguinte.

Com a chegada de Can’t Keep Checking My Phone, quarta faixa do álbum, um breve distanciamento desse continuo jogo de experiências. Marcada pelas batidas e ritmo acelerado, a composição de abertura climática – como a trilha sonora de um filme de suspense – logo se entrega à dança, como um flerte rápido com a obra de Giorgio Moroder. A mesma proposta ainda se repete com Necessary Evil, porém, de forma controlada, interrompendo o ritmo frenético inicialmente proposto pelo grupo.

Outra que se distancia do eixo central da obra é Extreme Wealth and Casual Cruelty. Obscura e marcada pelo vocal sujo do vocalista, a canção perturbada pelos sentimentos talvez seja a peça mais distinta de toda a discografia da banda. Enquanto Nielson sufoca de forma melancólica, sintetizadores instáveis e até um saxofone no melhor estilo Exile on Main St. (1972) alteram os rumos da composição, preparando o terreno para o eixo final da álbum – um retrato ainda ainda mais sombrio e perturbado do grupo.

Reflexo do completo amadurecimento do Unknown Mortal Orchestra, Multi-Love lentamente afasta o coletivo neozelandês de possíveis comparações ao trabalho de Tame Impala e outros representantes da neo-neo-psicodelia. Trata-se de uma obra que reflete as escolhas da banda, traz de volta uma série de conceitos reforçados desde o último disco, mas, acima de tudo, reforça o quanto Nielson e os parceiros de estúdio ainda parecem longe do conforto.

Multi-Love (2015, Jagjaguwar)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Foxygen, Tame Impala e Mac DeMarco
Ouça: Multi-Love, Extreme Wealth and Casual Cruelty e Can’t Keep Checking My Phone

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.