Iceage
Danish/Punk/Post-Punk
http://www.myspace.com/egaeci
Por: Cleber Facchi
Sempre que o rock ou a música em geral começa a se intelectualizar demais ou passa a erguer barreiras que transformem todos os sons em algo desmesurado denso torna-se a hora de alguém contestar esse tipo de estratégia, entregando ao público um registro cru, longe de um som embaçado, mas que por sua simplicidade e dinamismo causa impacto e consegue derrubar a musicalidade intelectual que se faz presente. Os responsáveis por este “serviço” em 2011 são quatro garotos dinamarqueses, que escondidos sob o nome de Iceage revelam ao mundo um álbum sujo, rápido e livre de qualquer tipo de instrumental moroso.
Tocando juntos desde os 12 anos de idade, os jovens Johan Surrballe Wieth, Dan Kjaer Nielsen, Elias Bender Ronnenfelt e Jakob Tvilling, todos na casa dos 20 anos e habitantes da capital dinamarquesa Copenhagen trazem em sua estreia o tom de luta, contestação e instabilidade, seja ela política ou instrumental. New Brigade (2011, Tambourhinoceros) e seus 25 minutos botam abaixo uma série de trabalhos recentemente lançados sejam eles estreias ou discos de veteranos, álbuns que insistem em fazer de guitarras sujas e doses nada ponderadas de distorção um caminho para sua música.
Equivalente ao que o trio britânico Male Bonding alcançou ano passado através do álbum Nothing Hurts (2010, Sub Pop), o quarteto se especializa na construção de faixas completamente anárquicas, em que o peso das guitarras e a fluidez do som tomam de assalto os tímpanos dos ouvintes. Passeando ao longo de três décadas, o grupo consegue amarrar sons vindos da música punk nos anos 70, o post-punk britânico na década de 1980, além de muito do noise e do rock alternativo na década de 90, principalmente Sonic Youth e uma boa soma de artistas do hardcore californiano que explodia na mesma década.
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Se os sons secos e o direcionamento acelerado são os dois elementos de base para a construção de todo o álbum, de certa forma a busca por um som demasiado simples ou que honre as raízes da música punk acaba distante de New Brigade. Por mais que o disco seja inundado pela velocidade das guitarras é possível encontrar dentro do álbum um tipo de atmosfera, a quase instauração de um som climático, não complexo, mas que se distancia de boa parte de discos do gênero. Enquanto Male Bonding ou Women (donos de um som similar) seguem pela produção de discos carregados de desapego ou excessiva simplicidade, os dinamarqueses preenchem suas faixas com uma carga extra de ruídos e uma ambientação obscura.
À medida que o disco cresce, um tipo de instrumental sufocante passa a acompanhar as faixas, algo que nos mobiliza a se distanciar de Broken Bones, Eyes, Never Return ou demais composições, mas que ao mesmo tempo nos prende, nos obriga a ficar. A relação de amor e ódio se intensifica ainda mais através das letras da banda, com Ronnenfelt falando sobre a passagem para a vida adulta, temáticas quase cotidianas, Deus, um pingo de existencialismos joviais e qualquer outra adversidade que alguém de 20 anos passa a se deparar.
Se é possível perceber as mínimas influências que definem o trabalho da banda no decorrer do álbum – sendo Joy Division a principal delas – pelo menos o Iceage não faz disso uma espécie de ode ao trabalho daqueles que os inspiraram. Diferente de Yuck ou demais artistas que usam do velho “copiar e colar”, dentro da estreia do quarteto dinamarquês mesmo perceptíveis as influências elas passam longe de soar como cópias. O punk, noise, post-punk e garage rock são apenas bases na mão dos quatro garotos de Copenhagen, para além disso fica apenas a inovação e a habilidade do grupo em transformar todos estes sons em um concentrado acústico próprio, sujo e verdadeiramente instigante.
New Brigade (2011)
Nota: 8.6
Para quem gosta de: Male Bonding, Joy Division e Fucked Up
Ouça: Broken Bone
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.