Disco: “O que você quer saber de verdade?”, Marisa Monte

/ Por: Cleber Facchi 08/11/2011

Marisa Monte
Brazilian/Female Vocalists/MPB
http://www.marisamonte.com.br/

 

Por: Cleber Facchi

Dentre todas as grandes representantes da nossa música Marisa Monte é e sempre foi a única capaz de promover uma carreira ao mesmo tempo sólida e versátil, dialogando de forma peculiar tanto com a grandiosidade do samba como com as tonalidades radiofônicas da música pop. O resultado dessa sonoridade sempre dicotômica está em seu amplo número de seguidores, indivíduos que há mais de duas décadas se entregam de maneira fiel aos registros da cantora, uma musicista que consegue encantar tanto o apurado julgo da crítica, como o diversificado público que a idolatra.

Sempre marcada pelo longo espaço entre um registro e outro, em 2006 a carioca apresentou ao mundo o que pode ser compreendido como a maior de suas obras, um trabalho “duplo” ou fragmentado em duas distintas frequências musicais. De um lado estava o melódico e acessível Infinito Particular, um registro que assumidamente se relaciona com a música pop e reforça algo que a cantora vinha explorando desde sua estraia em estúdio com o álbum Mais, de 1991. O resultado está em um jogo de composições fáceis, doces e incrivelmente capazes de tocar o grande público, algo bem representado pela melancolia de Pra ser Sincero e a delicadeza de Vilarejo, faixas que mais uma vez permitiram que a cantora circulasse pela programação de rádios ou canais de TV.

Do outro lado estava o álbum Universo ao Meu Redor e consequentemente a maioridade musical da carioca, diluindo um conjunto de sambas entristecidos e uma fluência instrumental (e lírica) que imediatamente se voltava ao clássico Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão, registro que de fato consagrou a carreira da musicista. O encontro entre essas duas vertentes acabou por condensar toda a carreira de Monte, que mais uma vez se posicionou como uma das grandes, se não a maior, voz da nossa música.

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Passados exatos cinco anos desde que os dois suntuosos registros foram entregues pela cantora, chega finalmente a hora de nos encontrarmos com o sucessor daqueles dois álbuns, com Marisa imediatamente perguntando: o que você quer saber de verdade? Imersa em um conjunto de sons que dialogam diretamente com os dois registros anteriores, a cantora se assenta em uma maré de calmarias, esvoaçando composições permeadas pela delicadeza e a atmosfera suave de suas canções. Entre o samba e o pop, a carioca mais uma vez alcança a tradicional sonoridade simétrica de outrora, embriagando o ouvinte com um conjunto de composições sempre agradáveis e harmônicas.

Da faixa título ao fecho do registro se escondem (ou revelam-se) composições que reforçam a interação da cantora com uma série de importantes nomes da música brasileira. Seja o eterno parceiro Arnaldo Antunes (que aparece em 9 das 14 canções do disco), uma rápida transição pela música de Jorge Ben Jor (na doce Descalço no Parque) ou até a inédita contribuição do conterrâneo Rodrigo Amarante (no baião O que se quer), do princípio ao fim o álbum é visível o apego à identidade nacional da compositora, que mais uma vez garante uma coleção de admiráveis composições.

Suave até seus momentos finais, o registro evoca uma constante inclusão de sons puramente regionalistas ou elementos que reforçam o caráter essencialmente bucólico da obra da cantora. Se o reinado da musicista parecia abalado mediante a proliferação de novas contribuintes da música nacional – como a açucarada Tulipa Ruiz ou a versátil Karina Buhr –, com a chegada de seu sexto trabalho em estúdio mais uma vez temos uma comprovação da grandiosidade da carioca. Marisa Monte novamente transforma o universo ao nosso redor em uma sequência de exaltações ao seu infinito particular, atendendo às demandas de seu público e fornecendo exatamente o que ele quer saber de verdade.

 

O que você quer saber de verdade? (2011, EMI)

 

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Arnaldo Antunes, Adriana Calcanhotto e Tulipa Ruiz
Ouça: Depois e Descalço no Parque

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.