Disco: “Overgrown”, James Blake

/ Por: Cleber Facchi 10/04/2013

James Blake
British/Electronic/R&B
https://www.facebook.com/jamesblakemusic

 

Por: Gabriel Picanço

James Blake

Quem ouviu o disco de estreia de James Blake, em 2011, ou até mesmo seus EP‘s anteriores, se surpreendeu com a fórmula simples e altamente eficaz apresentada pelo rapaz. Explorando uma variação mais lenta e espaçada da batida do dubstep, pianos, vocais em loop e linhas poderosas de baixo que preenchiam todas as faixas, Blake criou ambientes intensos e emocionantes, sem nunca deixar de lado a delicadeza. Sendo sempre o mais simples possível, até mesmo em suas apresentações ao vivo, o resultado que conseguia era continuamente incrível. Por isso, como é de se esperar que aconteça com qualquer artista que tenha chamado tanta atenção em sua estreia, aos poucos foi crescendo o interesse pelo o que viria a seguir. Em seu EP Enough Thunder, também de 2011, Blake já se mostrava mais confortável para experimentações. Mas, o lançamento acima de tudo serviu para assegurar que, sim, James Blake tinha condições de superar o hype e se firmar no time dos bons produtores de música eletrônica da atualidade. Agora, com Overgrown (2013, Republic), o britânico se qualifica para algo muito maior.

Primeiramente, Overgrown é um disco deslumbrante e tecnicamente impecável. É curioso notar como cada detalhe, de cada música, está ali por uma razão específica e cumpre perfeitamente a sua função. O uso do silêncio e de ruídos que são quase táteis faz com que as pequenas variações durante cada faixa sejam sentidas mais facilmente. Considerando que Blake poderia ter escolhido um caminho mais fácil, como insistir no post-dubstep, ele avançou e muito. Continuam, é claro, algumas das características principais já ouvidas antes, mas cada detalhe parece estar um nível acima. Até mesmo as letras, que nunca foram dos aspectos mais importantes de sua produção, aqui surgem aperfeiçoadas, intensificando o efeito da cada música. Em sua maioria, bem como acontece no primeiro disco, as faixas são melancólicas, carregadas de uma dramaticidade que mantem firme ao longo do álbum.

A elegância e fragilidade característica dos vocais, bem como a utilização de frases que se repetem em loop, são novamente exploradas, complementadas sempre pelas frequências muito graves das linhas de baixo as e batidas criativas que evidenciam o aprimoramento do soul eletrônico de Blake – bem mais eletrônico do que soul agora. Blake apresenta algo diferente a cada faixa. Logo na abertura, Overgrown, uma nota aguda surge ao longe e cresce lentamente ate o refrão, trazendo por fim, elementos que transformam a delicada canção em algo muito mais forte. Fica claro logo no início que o recente álbum será uma viajem bem mais intensa do que foi o primeiro trabalho. Em I Am Sold, por exemplo, apesar da introdução calma, a mudança para uma batida mais dura e a voz ecoada a partir do refrão transportam a música para um ambiente bem mais sombrio e obscuro, resultado estendido em outras canções do disco.


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Temas como o sofrimento, a solidão e o medo do abandono envolvem todo o registro, assim como a beleza delicada e a fragilidade características das melodias e da voz de Blake. Até mesmo em Our Love Comes Back, uma das músicas mais calmas do disco, os ruídos desequilibram um pouco a tranquilidade que a faixa poderia trazer. Take A Fall For Me, com a participação do rapper RZA, é um apelo desesperado, onde a eminencia da perda está mais uma vez presente. Já Retrograde, onde o artista se aproxima mais do R&B, um loop vocal anuncia: “We’re alone now”. Porém, o clima melancólico não arrasta o álbum para baixo, uma vez que a harmonia entre cada detalhe da obra acaba por ser uma característica mais proeminente.

Apesar da calma cósmica de Overgrown, não faltam também alguns momentos mais exaltados. Em Digital Lion, parceria com Brian Eno, após, a introdução, alguns segundos de silêncio precedem a entrada da estremecedora (porém não escandalosa) combinação de baixo, percussão e belíssimos samples vocais. A faixa cresce com muita intensidade, mas nunca explode, como é de costume. Voyeur, por sua vez, repete uma fórmula parecida. Os vocais de Blake, repetidos em um verso de forma hipnótica, aos poucos deixam o início delicado da música, e passam a ser carregados, primeiramente pela batida mais acelerada do que de costume, e em seguida por sintetizadores e efeitos que crescem e se entrelaçam até cobrir quase por completo a voz, transformando a música, por fim, em uma intensa e ruidosa faixa de IDM. To The last em seguida, traz de volta o soul para o primeiro plano e suaviza as coisas. Delicada, é sem dúvidas umas das melhores exibições vocais de Blake ate o momento.

É arriscado dizer se com apenas 23 anos Blake está próximo de alcançar o seu auge. Fica claro, porém, que ele não pretende entrar na zona de conforto, e que Overgrown poderá fortalecer ainda mais o seu crescimento. Outros artistas, que cada vez mais o procuram para colaborações, agora deverão fazer fila para trabalhar com o produtor.  Faixas como Retrogade e Digital Lion abrem caminho para que a música de James Blake alcance cada vez mais pessoas, o que pode possibilitar até mesmo algum sucesso comercial – feito limitado no registro de estreia. Mas, mesmo que nada disso se concretize, o que importa até aqui é comprovar que Overgrown traz músicas perfeitamente construídas e executadas por um jovem e talentoso artista, que, apesar da aparente fragilidade de sua produção, sempre consegue resultados extremamente vivos e profundos.

 

James Blake

Overgrown (2013, Polydor)


Nota: 8.8
Para quem gosta de: Nicolas Jaar, Mount Kimbie e How To Dress Well
Ouça: Digital Lion, Retrograde e Overgrown

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.