Críticas

Perfume Genius

: "Put Your Back N 2 It"

Ano: 2012

Selo: Matador

Gênero: Indie, Folk

Para quem gosta de: Antony and the Johnsons, Youth Lagoon

Ouça: Take Me Home, Hood

8.2
8.2

Disco: “Put Your Back N 2 It”, Perfume Genius

Ano: 2012

Selo: Matador

Gênero: Indie, Folk

Para quem gosta de: Antony and the Johnsons, Youth Lagoon

Ouça: Take Me Home, Hood

/ Por: Cleber Facchi 26/01/2012

Mike Hadreas é um verdadeiro aprendiz. Vindo de Seattle, o jovem músico passou a última década dissecando todos os ensinamentos ministrados pelo habilidoso Sufjan Stevens e toda a gama de idealizadores da melancolia norte-americana (ou mesmo mundial), convertendo todo esse acumulado de experiências nas bases para o primeiro registro em estúdio de sua incipiente carreira, Learning, de 2010. De lá para cá, Hadreas foi aos poucos abandonando a percepção de aprendiz para logo se transformar em um mentor (talvez de si próprio ou de uma pequena parcela de ouvintes), feito que ele reforça agora com a chegada do segundo e melhor desenvolvido trabalho da carreira.

Se antes era Stevens – responsável pelos clássicos discos Illinois (2005) e Michigan (2003) – a principal base para o trabalho do músico, hoje as experiências de Hadreas talvez sejam outras, ou melhor, estejam mais bem estabelecidas. Em cada canto de Put Your Back N 2 It (2012, Matador) a presença musical de Antony Hegarty não apenas auxilia a produção do músico, como estabelece todas as direções do trabalho, que recorre ao Baroque Pop de Hegarty para a formatação de um álbum melhor estruturado, soturno e abertamente sofrido.

Outro aspecto da presença do líder do Antony and the Johnsons está no forte conteúdo homossexual que caracteriza todo o disco. Grande temática dos trabalhos de Antony, o homossexualismo transita por cada uma das 12 novas composições de Hadreas, que assim como no disco de estreia acaba se perdendo em canções intimistas e faixas sempre confessionais, utilizando de um relacionamento recente (que não deu certo) como o mote para a maior parte das músicas do álbum. Até a capa do trabalho – um conjunto de jovens descamisados – evoca levemente a temática gay do registro, que para além de dialogar com um gênero em específico tem suas composições abertas aos mais distintos públicos.

Em se tratando do aspecto instrumental do disco Put Your Back N 2 It se orienta como uma exata continuação de Learning. Enquanto a voz leve de Hadreas passeia pelo álbum, um piano choroso vai servindo de base para cada uma das canções presentes, ora cercado por teclados obscuros e marcados pelo tom atmosférico, ora por um limitado encaixe de cordas, violões e toda uma variedade de novos instrumentos que rompem com o aspecto de registro iniciante proposto pelo músico há dois anos. Até a percussão, aspecto antes limitado ganha maior destaque ao longo do disco, revelando novas tonalidades ao trabalho do Perfume Genius.

Fazendo uso de uma sonoridade mais ampla, o músico consegue ao longo do disco estabelecer uma série de importantes e até comerciais composições. É o caso do primeiro single do álbum, Hood (com a já marcante estrofe “You never call me baby / If you knew true / All that I waited so long / For you love / I will fight baby not to do) que pode facilmente garantir maior destaque ao trabalho do artista.  Outras canções dotadas da mesma acessibilidade poética e lírica são Take Me Home e Dark Parts, ambas permeadas por versos deliciosos e uma instrumentação harmônica, uma das principais marcas deste registro, que perde um pouco da experimentação de outrora para se transformar em algo mais próximo do ouvinte.

Empregando a dor como principal ferramenta para o alcance da maturidade no decorrer do disco, Mike Hadreas (a grande matéria-prima do trabalho) impressiona não apenas por transformar sua intimidade em algo universal, mas pela maneira como aborda um convencional término de relacionamentos em algo parcialmente inédito. Talvez esse caráter de ineditismo aflore por conta da honestidade derramada pelo músico durante todo o álbum, transformando versos muitas vezes simples, em um retrato sincero de sentimentos que muitas vezes acabam desgastados ou artificialmente enquadrados.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.