Disco: “R.A.P. Music”, Killer Mike

/ Por: Cleber Facchi 22/05/2012

Killer Mike
Hip-Hop/Rap/Alternative
https://www.facebook.com/pages/Killer-Mike/

Por: Cleber Facchi

Em 2012 fazer dançar é a expressão de ordem dentro do hip-hop norte-americano. Longe das esquizofrenias que se apoderaram do gênero no último ano, uma boa soma de nomes – inclusive responsáveis pelo mesmo clima caótico que se apoderou do estilo em 2011 – têm investido na construção de trabalhos mais comerciais, impactantes e com um pé firme nas pistas. Por trás dos beats quentes, nada de versos descartáveis, mas sim um conjunto de palavras fortes. Uma soma de versos ora tomadas pelo teor político, ora esboçando o cotidiano obscuro de seus anunciadores, figuras como Killer Mike, um filho da geração de rappers da década de 1990, mas que soa tão atual e necessário quanto há 20 anos.

Apresentado ao público pela primeira vez dentro do clássico Stankonia – obra máxima do OutKast –, Mike deve se transformar em uma das figuras mais comentadas do meio no decorrer dos próximos meses, tudo por conta do recente R.A.P. Music (2012, Williams Street). Mais novo e bem pontuado trabalho do artista, o álbum chega impondo um sentimento de reconhecimento tardio, afinal, com mais de seis registros lançados, este é o primeiro trabalho que tanto públic como crítica parecem finalmente ouvir com atenção a cada verso esculpido pelo norte-americano.

E não é pra menos. Com pouco mais de 45 minutos de duração, o registro rompe com boa parte das redundâncias e pseudo-originalidades que tanto definem a safra atual. Movido pelo fluxo dançante que caracteriza o trabalho de nomes como Kendrick Lamar e Schoolboy Q, Mike aproveita da sonoridade “fácil” para apresentar um surpreendente conjunto de versos sempre firmes. Um registro que contra todas as tendências e atuais preferências de produtores e rappers, soa tão original e intenso quanto foram os grandes tratados planejados há duas ou mais décadas.

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Longe de grandes arranjos instrumentais ou inovações sonoras que tanto caracterizam o rap atual, Mike deixa de lado todo e qualquer aparato exagerado para se concentrar na produção de um registro simples, porém, honesto em todos os sentidos. O destaque aqui não são os pianos ou orquestrações que definem e acompanham os discos épicos de Kanye West, nada das batidas experimentais que ocupam os álbuns do Death Grips ou muito menos os versos ascendentes que costuram a discografia de Jay-Z. A sutileza e a firmeza que preenchem o registro vão de encontro ao que fora definido no final dos anos 80, absorvendo o mesmo tom sóbrio de artistas como Public Enemy, Ice Cube e tantos outros que marcaram o período.

Para quem reclama sobre a futilidade e as constantes exaltações ao luxo que tanto caracterizam o hip-hop comercial, em R.A.P. Music Mike parece romper completamente com essa lógica. As letras que fluem com o passar da obra tratam sobre sobrevivência (Don’t Die), fé (Ghetto Gospel), política (Reagan) e recortes até simples do cotidiano (Go!), prova de que mesmo dentro de assuntos já “batidos”, ainda há muito a ser explorado. Curioso notar, mas mesmo dentro dos pontos mais fortes e amargurados do trabalho há sempre a necessidade de entregar um som fácil, atraente aos ouvidos menos exigentes, prova constante da habilidade e inteligência do produtor El-P.

Há em R.A.P. Music uma formatação não ambiciosa, como se Killer Mike quisesse apenas olhar para suas origens e transformar isso em rap. O álbum parece mergulhado dentro de uma lógica própria, um terreno conhecido apenas pelo rapper e as pessoas sobre quem ele rima. A beleza e a força do registro, entretanto, estão relacionadas em como ele consegue não apenas capturar em versos esse suposto distante universo, como nos arrastar imediatamente para dentro dele.

R.A.P. Music (2012, Williams Street)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: El-P, Public Enemy e Big K.R.I.T.
Ouça: Ghetto Gospel e Don’t Die

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.