Disco: “S EP”, SZA

/ Por: Cleber Facchi 25/04/2013

SZA
R&B/Experimental/Lo-Fi
https://soundcloud.com/justsza

 

Por: Cleber Facchi

SZA

SZA representa boa parte do que identifica a música negra atual. São colagens assumidas de sons, gêneros e diferentes conceitos sonoros, eixo que a norte-americana representa tanto na capa colorida de S EP (2013, Independente), como na sonoridade vasta que se derrama ao longo de toda a obra. Construído como uma composição de três atos – uma para cada letra do “nome” da cantora -, o trabalho concentra no primeiro exemplar um resultado abertamente voltado ao etéreo. Enquanto batidas são agrupadas lentamente, os vocais puxam o ouvinte para um universo que mesmo tratado com nostalgia, preza pela novidade.

Livre da limpidez de um registro em estúdio, SZA e produtores como Felix Snow e Patrick Lukens encontram no clima caseiro de uma mixtape a ambientação perfeita para representar toda a intimidade da artista. Fã do coletivo de Hip-Hop Wu-Tang Clan – o próprio nome é uma brincadeira com o produtor RZA -, a cantora comprime as batidas típicas do gênero com letargia, fazendo dos vocais arrastados um brinde à nova safra do R&B. É como se Jessie Ware e Aluna Francis transitassem por uma versão Lo-Fi do que Beyoncé alcançou no álbum 4 (2011), derramando nas confissões dolorosas e românticas um exercício de identidade para a presente obra.

Embora a relação com a música negra seja a engrenagem que movimenta o trabalho, tal marca está longe de representar a peça mais importante que sustenta o novo projeto da norte-americana. Como dito, a proposta de SZA se constrói inteiramente na colagem de elementos líricos e sonoros de diferentes fontes e épocas. Um efeito que a cantora manifesta de maneira bem aproveitada tanto na estética Lo-Fi do EP como nos experimentos etéreos que orientam a música recente – principalmente o que vem de terras canadenses.


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Mesmo a relação com o presente musical é instável. Por mais que ecos de Grimes e até batidas próximas das testadas pela dupla Purity Ring sejam despejadas pelo disco, muito de S EP parece saltar diretamente da década de 1990. Exemplo mais expressivo disso está na maneira como a cantora se aproveita dos vocais, resgatando aspectos que há duas décadas apresentaram Björk ao público. De fato, a presença da islandesa surge como um instrumento assertivo ao longo da obra, marca que a novata trata de administrar em uma versão particular, menos sintética e, claro, muito mais próxima da música negra.

Paralelo à construção instrumental das faixas, colagens de vozes e pequenos discursos surgem em pontos estratégicos da obra, auxiliando SZA na construção do propósito sentimental do disco. The Odissey, por exemplo, se aproveita exatamente desse aspecto, antecipando com um diálogo tragicômico de um casal a atmosfera que a cantora discute posteriormente nos versos da canção. É preciso notar que é justamente a partir da mesma faixa que a artista soluciona o eixo final da obra, mergulhando nas canções mais amargas do registro, como Pray e Ice Moon.

Ainda que os exemplares seguintes da pequena epopeia de SZA não sejam concluídos até o final do ano, S EP traz na arquitetura concisa e na relação eficiente das faixas uma obra que se sustenta em completude. Não há qualquer interesse da artista (ao menos por enquanto) em firmar raízes em um bloco específico de sons ou conceitos, logo, a inexatidão das formas e a busca por um tratado instável se materializa positivamente como a única certeza de toda a obra.


SZA

S EP (2013, Independente)

 

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Jessie Ware, Solange e How To Dress Well
Ouça: Icemoon e Pray

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.