Disco: “Sacode”, Nevilton

/ Por: Cleber Facchi 05/03/2013

Nevilton
Brazilian/Alternative Rock/Indie
http://www.nevilton.com.br/

 

Por: Cleber Facchi

Nevilton

Nevilton é um respiro. Contraponto festivo dentro do jogo de experiências cada vez mais herméticas, eletrônicas e tomada por exageros clichês que marcam parte da música nacional, principalmente o rock, o músico paranaense e os parceiros de banda provam que é possível brincar com o pop sem desvios ou conceitos tendenciosos. Orientado em essência por versos radiofônicos, bem humorados e carregados por guitarras de formatação simples, o trio de Umuarama, Paraná assume com o lançamento do segundo registro em estúdio a prova de que bastam apenas músicas criativas (e certa dose de intensidade) para que exista o acerto. Entre canções de amor e passeios pelo cotidiano, chega a hora e a vez de Sacode.

Da mesma forma que nos trabalhos anteriores, Nevilton e os parceiros Tiago “Lobão” Inforzato e Éder Chapolla se esforçam para não parecer o último sucesso hipster adequado às preferências da moda. Da primeira à última faixa, tudo remete a um tipo de som esquecido. Algo que lembra a descoberta do rock nacional da década de 1980 ou a boa forma do Los Hermanos antes do louvor exagerado que tomou conta de Ventura (2003). Um composto de versos que cairiam bem nas mãos de grupos extintos como Astromato, fariam Nando Reis e os mineiros do Skank morrerem de inveja e até representam o bom humor que Stephen Malkmus construiu com o Pavement na década de 1990. Músicas que lidam com a ironia da vida, sem se entregar ao clima blasé e a depressão imoderada que toma conta de dez em cada onze lançamentos do gênero na música nacional.

Se levarmos em conta a proposta de “coletânea” que comandava o bem sucedido disco de 2011, com o novo álbum Nevilton lança de fato o aguardado primeiro registro “De Verdade”. São 12 composições marcadas pelo ineditismo, oposto das reformulações e do resgate incorporado no trabalho passado – um verdadeiro concentrado de boa parte das músicas conquistadas nos primeiros EPs e singles da banda. Tão entusiasmado quanto em Pressuposto EP (2010), trabalho que apresentou a banda ao médio público, Sacode emenda uma faixa em cima da outra ao longo de 44 minutos e cinco segundos. Uma sequência de músicas que se extinguem tão rapidamente quanto a onda de distorções, berros e melodias que fizeram de O Morno a maior composição do grupo – pelo menos até agora.


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Ouvir o novo álbum do trio paranaense é como se encontrar como uma versão pop do mesmo clima que tomou conta do mais recente disco da dupla Japandroids, Celebration Rock (2012). São faixas que mesmo prontas para o ambiente claustrofóbico de um quarto cinza, se armam perfeitamente para a explosão das apresentações ao vivo. Enquanto os suspiros de Crônica parecem arquitetados para o apoio do público, Satisfação cresce em um bom humor que quase tende ao trabalho do Chiclete Com Banana (sério). Um semi-Axé Rock que pode causar arrepio nos “puristas”, mas deve transformar Nevilton em uma verdadeira maquina de manipulação do público durantes as (sempre) apoteóticas performances ao vivo. Ainda não está convencido? Então espere até cair nas garras do rock romântico de Jardineiro ou na melancolia de fim de tarde que passeia por Espero Que Esteja Melhor.

Nevilton não apenas cresceu entre um trabalho e outro, como parece pronto para agarrar uma parcela ainda maior do público. Com o presente trabalho temos não apenas um resgate honesto do rock tupiniquim – esqueça essa copia deslavada de Raul Seixas ou Los Hermanos que vocês estão habituados a ouvir -, mas também um bom registro de parceria entre uma banda um produtor. Depois de quase duas décadas acomodado na imagem mitológica que ajudou a construir, o barbudo Carlos Eduardo Miranda prova seu valor e consegue extrair o máximo da banda paranaense. Por vários momentos a colaboração parece reviver a boa fase do músico gaúcho durante a construção do primeiro álbum dos Raimundos, em 1994. E se levarmos em conta tudo o que foi produzido nas últimas duas décadas, Sacode talvez seja a representação mais honesta, crua e assertiva do rock nacional de lá para cá.

Para ouvir o novo álbum talvez seja necessário deixar de lado o trabalho de Cícero, Metá Metá, Silva, Tulipa Ruiz ou qualquer outro projeto de marcas não óbvias, porém essenciais para a reformulação da música nacional e que surgiram nos últimos anos. Sacode é um disco genuíno de Pop Rock, aquele estilo musical que você talvez tenha deixado de lado no final da década passada ou fingido esquecer há muito tempo. Sem se aproximar de um grupo ou de outro, o disco transita contraditório aos acertos estrangeiros que comandam a música alternativa ou mesmo de extrema oposição à plasticidade descartável que faz do pop nacional obsoleto. Assim como no álbum passado, Nevilton caminha solitário em uma via que mesmo tortuosa nos versos mais tristes, explode em celebração e originalidade na maior parte do tempo.

 

Nevilton

Sacode (2013, Independente)


Nota: 8.7
Para quem gosta de: Apanhador Só, Vivendo do Ócio e Bidê ou Balde
Ouça: Crônica, Satisfação e Jardineiro

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.