Críticas

Mac DeMarco

: "Salad Days"

Ano: 2014

Selo: Captured Tracks

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Real Estate, Ariel Pink

Ouça: Passing Out Pieces, Chamber Of Reflection

8.5
8.5

Disco: “Salad Days”, Mac DeMarco

Ano: 2014

Selo: Captured Tracks

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Real Estate, Ariel Pink

Ouça: Passing Out Pieces, Chamber Of Reflection

/ Por: Cleber Facchi 01/04/2014

Mac DeMarco é um homem comum. Gosta de falar sobre amor, canta sobre o prazer de fumar um cigarro e usa da mediocridade do cotidiano como uma ferramenta para as próprias composições. Naturalmente descompromissado, mas ainda assim capaz de ressaltar aspectos curiosos de um dia aprazível, o cantor e compositor canadense mais uma vez abre as portas do universo particular que o envolve para apresentar Salad Days (2014, Captured Tracks). Um álbum que fala/canta inteiramente sobre ele, mas que esbarra na casualidade de qualquer espectador.

Passo seguro em relação ao que 2, registro de “estreia” do músico, trouxe em 2012, o presente álbum vai além de brincar com temas aleatórios e pequenas confissões, trata-se de uma obra em que a maturidade do músico impera evidência. Se há dois anos o canadense  abria o disco falando sobre a vida em um efeito de crônica leve, em Cooking Up Something Good – “Quando a vida se move lentamente/ Apenas deixe-a ir” -, com a inaugural faixa-título, DeMarco soa existencialista – “Rolando pela vida, para rolar e morrer” -, mas sem parecer um poeta sombrio. Mais uma vez o músico discorre sobre o amor (Let My Baby Stay), conselhos reciclados (Brother) e personagens (Jonny’s Odyssey), premissa que ocupa o álbum até o último instante.

Afundado com segurança nas ambientações caseiras dos anos 1980, DeMarco abraça a morosidade de Ariel Pink e do conterrâneo Sean Nicholas Savage para reforçar um projeto tão autoral, quanto partilhado. A leveza que comanda o disco se esbalda em acordes econômicos, guitarras poluídas sutilmente pela distorção e uma doce melancolia que segue as pistas do efeito imposto em My Kind Of Woman. Nada tende ao exagero no interior do disco, pelo contrário, durante todo o percurso o músico parece inclinado a fugir dos instantes de grandeza, fazendo de Salad Days um disco marcado pela serenidade.

Em busca de consolidar uma obra homogênea, DeMarco pode até se esquivar da formação de canções íntimas do grande público – caso de Freaking Out The Neighborhood, do disco passado -, mas isso não quer dizer que fluidez do registro seja prejudicada. Coeso, Salad Days deixa de lado o uso de melodias descomplicadas para convencer o ouvinte pelas as palavras. Em Passing Out Pieces – “Assistindo a minha vida, passando bem na frente dos olhos / Que inferno de história, oh é chata?” ,- um fino exemplo do registro. Perceba como o compositor parece brincar com o universo de jovens adultos sem necessariamente parecer repetitivo.

Ainda que musicalmente “simples” em relação ao trabalho anterior, com o novo disco DeMarco aproveita para investir em pequenos experimentos controlados. Com um espaço maior, os sintetizadores funcionam como uma ferramenta complementar aos versos tristes esbanjados pelo músico. Basta o sofrimento de Chamber Of Reflection ou teor ascendente de Passing Out Pieces para perceber a forma como o músico lida com as harmonias. Mesmo as tradicionais guitarras ganham um toque extra de frescor, afinal, é difícil não se deixar seduzir pela tonalidade matinal de Let Her Go ou detalhismo nostálgico de Goodbye Weekend, músicas que afastam de vez as comparações com o trabalho de Mark Knopfler (Dire Straits).

Para ser absorvido com leveza, Salad Days é um trabalho que está longe de garantir respostas imediatas ao espectador. Dos versos aos arranjos homogêneos, tudo parece fluir dentro de um estágio compreendido em essência apenas por DeMarco. Todavia, o ambiente empoeirado que cresce com as guitarras, as letras curtas e o tratamento confortável dado aos sons impedem que o disco passe despercebido. Documental, cada instante do álbum ecoa a serenidade do compositor, que continua a fumar seu cigarro e brincar com os temas complexos sem fugir do (próprio) entendimento simples da vida.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.