Disco: “Settle”, Disclosure

/ Por: Cleber Facchi 29/05/2013

Disclosure
British/Electronic/Garage
http://disclosureofficial.com/

Por: Cleber Facchi

Disclosure

A nostalgia é parte inevitável no que alimenta o trabalho dos irmãos Guy e Howard Lawrence com o Disclosure. Nascidos no começo da década de 1990, os dois irmãos e parceiros de produção podem não ter vivido a ascendência da cena House – inglesa e norte-americana -, ou talvez fossem muito novos para compreender as maquinações do Garage UK no começo dos anos 2000, porém, tão logo Settle (2013, PMR), primeiro registro da dupla tem início, é como se física ou conceitualmente eles estivessem lá. Um curioso efeito de nostalgia não vivenciada que assume efeitos claros, transformando cada instante do delicadamente construído primeiro disco da dupla em um catálogo de sons para os não iniciados.

A julgar pela maneira como os samples de vozes se trançam em meio a batidas no decorrer de When a Fire Starts to Burn, logo na abertura do disco, todo um cardápio de essências são apresentadas em doses imoderadas pelo álbum. É como se The Chemical Brothers se encontrasse com Aphex Twin, enquanto Daft Punk compartilha experiências com Burial e Joy Orbinson em uma festa de música pop. Referências talvez desconexas, impróprias dentro do contexto de cada artista, porém cuidadosamente exploradas e encaixadas em um mesmo universo na precisão do registro. Os irmãos Lawrence estão naturalmente inclinados a fazer o ouvinte dançar, não importando os rumos e riscos para que isso aconteça.

Embora pareça contraditório dentro dos preceitos e orientações específicas dos diferentes gêneros que recheiam a obra, o que aproxima cada colagem de forma não conflitante pelo trabalho é a orquestração não submissa do pop. Presença constante em todo o álbum, o estilo se dissolve amigavelmente nos vocais hipnóticos de Aluna Francis (AlunaGeorge) em White Noise, brinca com o erotismo na extensão de January (com Jamie Woon) e até apela aos exageros do R&B em músicas como You & Me e Confess to Me. Settle é de maneira bem simples um registro de natureza pop, mas que sabe como vestir de eletrônica.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=bkk2H3Ztrfk?rel=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=93ASUImTedo?rel=0]

Desprovido do hermetismo natural que ocupa qualquer registro do gênero, cada faixa dissolvida pela obra assume um encaminhamento específico. Não existem retas ou possíveis regularidades sonoras pelo disco, efeito que naturalmente amplia o território e as dimensões em torno da estreia do Disclosure. Enquanto Stimulation, por exemplo, poderia facilmente ecoar em qualquer pista da década de 1990, Latch (parceria com Sam Smith) se apega ao presente, fluindo como um encontro não conflitante entre as vozes que circulam pela obra de Calvin Harris ou talvez uma versão melhor elaborada do que Jamie Lidell não conseguiu com o último disco. É a partir desse ponto que a mutabilidade do trabalho se concretiza, como se a dupla garimpasse o que há de mais assertivo em tudo o que foi construído nas últimas três décadas de eletrônica.

Fechado dentro de um time acertado de colaboradores, Settle busca revelar em oito das 13 faixas do registro parte do que ecoa na música britânica atual. Uma extensão naturalmente ampliada daquilo que SBTRKT estou há dois anos com o primeiro disco, mas que funciona com novidade dentro da proposta da dupla. Mais do que emprestar os próprios vocais, a presença de Eliza Doolittle, Jessie Ware, entre outros artistas recentes serve para mesclar referências externas com a proposta particular da dupla. Dessa forma, não é difícil esbarrar na dramaticidade do London Grammar em Help Me Lose My Mind ou no preciosismo pop de Sam Smith na construção de Latch. Pilhas e pilhas de colagens sonoras – antigas e recentes – escolhidas a dedo.

Por mais que a variedade de percursos seja óbvia e necessária ao crescimento da obra, em nenhum momento os irmãos Lawrence fogem de uma imposta relação instrumental com o Future Garage. Os limites, entretanto, permanecem amplos, o que naturalmente transforma Settle no mais rico e comercialmente acessível catálogo para as pistas de 2013 – feito que dificilmente deve ser superado. Não é preciso esforço para perceber que pouco é exposto como novidade pela obra, entretanto, ao resgatar elementos esquecidos da eletrônica ou mesmo garantindo direcionamento àquilo que por vezes é visto com desgaste, a dupla supre as redundâncias, finaliza um disco criativo e inevitavelmente convida o ouvinte para dançar.

Disclosure

Settle (2013, Island)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: AlunaGeorge, Sepalcure e SBTRKT
Ouça: White Noise, You & Me e When A Fire Starts To Burn

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/93555520″ params=”” width=” 100%” height=”166″ iframe=”true” /]

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/88606549″ params=”” width=” 100%” height=”166″ iframe=”true” /]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.