Disco: “Sina”, The Baggios

/ Por: Cleber Facchi 15/10/2013

The Baggios
Brazilian/Blues Rock/Rock
http://www.thebaggios.com.br/

Por: Cleber Facchi

The Baggios

As guitarras, batidas e vozes estão longe de encontrar conforto nas mãos de Julio Andrade e Gabriel Carvalho. Mentes insanas aos comandos do The Baggios, a dupla sergipana volta ao mesmo cenário rústico proposto com o autointitulado primeiro disco, de 2011, sufocando mais uma vez os ouvintes com uma avalanche de ruídos e vocais entregues aos berros. Quem espera por qualquer instante de calmaria ou possível mudança na estratégia crua exposta pela dupla, terá em Sina (2013, Independente), segundo registro em estúdio, uma continuação inevitável e melhor estruturada do debut que apresentou oficialmente o projeto.

Tão barulhento e intenso quanto o álbum anterior, o presente disco é uma obra que resgata as experiências ruidosas de outrora, porém, transformando o fluxo intenso da dupla em um palco para boas melodias. Pista para o que direciona toda a estrutura do registro, Afro, canção de abertura trata nos versos velozes e guitarras marcadas pela sujeira um salto criativo. Enquanto no projeto de 2011 cada elemento parecia encaixado em um efeito ponderado de descoberta, hoje a dupla esbanja firmeza, mantendo até o ecoar da última música, Descalço, um sintoma de concisão talvez inexistente até pouco tempo.

Longe e ao mesmo tempo perto dos clichês que solucionam o Blues Rock há décadas, a banda vai da essência do Led Zeppelin aos “novatos” do The Black Keys sem necessariamente perder pontos em originalidade. O clima empoeirado e seco do nordesde parece ser a base para a construção de um cenário que se deixa consumir tanto pela saudade (De Malas Prontas), como pela celebração (Blues do Aperreio). Melancólico ou exaltado, Sina garante até o último segundo a presença de riffs densos e batidas construídas com intensidade. Uma prova de que a dupla passou os últimos dois anos aprimorando tudo o que havia de melhor na estética do primeiro álbum.

Dentro desse encaminhamento, o eixo inicial do disco se sustenta em uma solução ascendente de vozes e sons que se complementam. Blues do Aperreio, Sem Condição e a própria faixa-título são algumas das músicas que naturalmente impulsionam a obra (e o ouvinte), substituindo a simplicidade imposta no registro de 2011 por um jogo de novas experiências instrumentais. Do uso de metais na envolvente Esturra Leão, passando pela dualidade suingada e crua de Vagabundo Arrependido, Sina, mais do que uma obra pontuada pela sobriedade, é um trabalho que assume pequenos experimentos.

Longe de apenas soterrar os tímpanos do ouvinte com um jogo de canções volumosas, o álbum autoriza por diversas vezes a construção de instantes abrandados. Do xote cativante de Salomé Me Disse – com direito a sanfonas e vocais leves -, ao rock (quase) brando de Tardes Amenas, o trabalho media durante todo o tempo os excessos com momentos de puro controle. Entretanto, a timidez está longe de se acomodar pelas rachaduras do disco, o que faz com que a cada instante minimamente ponderado, faixas ainda mais intensas (como Um Rock Para Zorrão e Descalço) se apoderem do registro.

Sem intervalos, ainda que capaz de sustentar pequenos respiros eventuais, Sina vai até os últimos instantes edificando uma muralha densa de ruídos ásperos. Não há complexidade, tão poucos barreiras conceituais que busquem atrapalhar o resultado melódico da obra. Esse detalhamento faz de cada música um passo seguro para a consolidação da faixa seguinte, como se todas as canções fossem posicionada em um mesmo cenário, finalizado de fato apenas ao ecoar do último acorde.

The Baggios

Sina (2013, Independente)

Nota: 7.7
Para quem gosta de: Vespas Mandarinas, Nevilton e Black Drawing Chalks
Ouça: Descalço, Blues do Aperreio e Esturra Leão

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.