Disco: “Taiga”, Zola Jesus

/ Por: Cleber Facchi 17/10/2014

Zola Jesus
Alternative/Electronic/Art Pop
http://www.zolajesus.com/

Por: Cleber Facchi

O grande problema de qualquer artista que lida com uma sonoridade restrita, específica em demasia, se encontra na incapacidade de ruptura. No caso de Nika Danilova e o material incorporado pelo Zola Jesus, adaptações eletrônica de temas e referências góticas. Instalada em um ambiente hermético desde o primeiro álbum de estúdio, The Spoils (2009), a cantora alcança o quinto registro de estúdio de forma a reproduzir canções ainda atrativas, porém, marcadas pela comodidade.

Desde a limpidez assumida nos arranjos de Conatus, de 2011, a cantora continua a dar voltas e mais voltas dentro de um mesmo cenário lírico-instrumental. Ausência de inspiração, preguiça ou pressão da gravadora em manter um mesmo formato – a artista agora faz parte do selo Mute, braço da EMI -, a resposta ainda não parece clara, porém, ao revisitar as próprias canções em Versions (2012), Danilova apenas confirmou o quanto parece pouco interessada em ultrapassar os próprios limites.

Em Taiga (2014, Mute), a particular voz pesada e fúnebre, arranjos sombrios e aparatos eletrônicos mais uma vez servem de estímulo para os versos românticos/melancólicos da cantora. Confissões que começam na inaugural faixa-título, cortejam o pop em Go (Blank Sea), brincam com a eletrônica em Hunger, mas em nada acrescentam se observarmos a composição precisa lançada em Stridulum II (2010), até o momento, a grande obra de Danilova e matéria-prima para o presente disco.

Todo esse estágio de conforto faz de Taiga um trabalho fraco? Pelo contrário, poucos registros de Zola Jesus parecem tão envolventes quanto o atual. Mesmo incapaz de projetar canções emocionais e fortes como Night e I Can’t Stand, a fluidez dinâmica do presente álbum parece seduzir o ouvinte sem grandes dificuldades. Enérgica, Danilova passeia madura durante toda a construção do disco, transformando músicas como Dangerous Days e Dust em peças completamente hipnóticas.

Ainda que a base do álbum seja a mesma dos três últimos trabalhos, basta uma audição atenta para isolar um conjunto de novas experiências músicas. Além da estrita relação com o pop, flertes com o R&B preenchem as lacunas vocais de Dust, Lawless e Ego, conduzindo o trabalho da norte-americana para um cenário de parcial novidade. A dúvida é: será que Danilova consegue ir além desse mesmo resultado em um próximo disco?

Enquanto a resposta não chega, arranjos suntuoso, batidas límpidas e a voz forte da cantora invadem de forma irrestrita a mente do espectador, amarrado ao ambiente sombrio/dançante da obra. De forma honesta, nada que Nika Danilova já não tenha apresentado anteriormente, porém, a julgar pela precisão da obra, nada que prejudique a atuação da cantora.

 

Taiga (2014, Mute)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Chelsea Wolf, Austra e Planningtorock
Ouça: Dust, Dangerous Days e Go (Blank Sea)

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.