Disco: “The Feast of the Broken Heart”, Hercules and Love Affair

/ Por: Cleber Facchi 29/05/2014

Hercules and Love Affair
Electronic/House/Disco
http://herculesandloveaffair.net/

Por: Cleber Facchi

Andy Butler

A última vez que Andy Butler abriu um álbum do Hercules and Love Affair com um Hercules Theme, o contexto assumido pelo produtor parecia ser muito diferente do atual. Longe da avalanche de artistas inclinados a reviver a década de 1990, o artista fez do primeiro álbum do coletivo nova-iorquino, em 2008, uma obra de redescoberta do período e suas tendências. Arranjos tímidos, sexualidade exposta, a voz densa de Antony Hegarty – elemento envolventes dentro de cada canção. Longe da mesma atmosfera, Butler abre agora as portas do terceiro álbum de estúdio, mantendo firme a estética inicial do projeto, porém, em busca de um novo universo de possibilidades.

Menos esparso que o antecessor Blue Songs, de 2011, The Feast of the Broken Heart (2014, Moshi Moshi) assume de vez o lado pop de seu idealizador, como um flerte com o grande público. Da faixa de abertura, Hercules Theme 2014, ao encerramento do disco, em The Key, cada minuto do trabalho aponta para a transformação, usando das melodias e versos fáceis como um princípio para o delineamento para o álbum. Todos os elementos da obra ainda são encarados de forma coletiva, mas o fechamento do disco se dá de outra forma.

Como uma trilha sonora para o verão – de 1991 ou atual -, Butler deixa de lado as tapeçarias detalhistas para reforçar um álbum simples, feito para o consumo imediato. Enquanto há seis anos o mesmo exercício era assumido de forma minuciosa, vide a coleção detalhista de arranjos em You Belong e This Is My Love , hoje pouco disso parece ter sobrevivido – o que está longe de parecer um erro. Como o disco de 2011 já havia identificado, Butler quer apenas arrastar o ouvinte para a pista, efeito que se reforça no ritmo de Do You Feel The Same? e demais faixas essencialmente comerciais do disco.

Ainda que seja encarado como o ponto central da obra, Butler segue a trilha dos dois últimos discos, entregando os versos de cada música para um novo time de vocalistas. Naturalmente imerso na cultura LGBT norte-americana, o álbum abre espaço para que Rouge Mary, Krystle Warren e o assertivo John Grant – todos homossexuais – assumam presença no decorrer da obra, fragmentando o universo do produtor em diferentes personagens. Sim, a ausência da voz marcante de Hegarty ainda minimiza o crescimento da presente obra, mas isso está longe de prejudicar o rendimento das canções.

Partindo de uma assumida relação com o Pop, Butler brinca com versos redundantes, batidas que estimulam a dança de forma involuntária, além de uma adaptação criativa de diversos conceitos instrumentais lançados no primeiro álbum. Melhor exemplo disso está logo na abertura do registro, com My Offence, uma fina representação de todo o fluxo da presente obra. Lembrando uma canção esquecida (e gay) do Hot Chip, a faixa fornece as regras para as demais faixas do trabalho – ora compactas e eróticas (como The Light), ora intensas e radiantes (como em 5.43 To Freedom).

Consciente da própria incapacidade em superar o debut – um dos registros mais importantes do novo século -, Butler finaliza um disco que foca apenas na dança, acertando justamente por conta desse efeito “simplista”. Livre do caráter limitador que parecia ocupar as músicas de Blue Songs, The Feast of the Broken Heart segue a trilha das canções pensadas para a série DJ-Kicks, em 2012, garantindo ao ouvinte 44 minutos ininterruptos de boas letras e batidas certeiras.

Andy Butler

The Feast of the Broken Heart (2014, Moshi Moshi)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Holy Ghost!, Azari & III e The Juan Maclean
Ouça: My Offence, I Try To Talk To You e Do You Feel The Same?

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.