Disco: “The Next Day”, David Bowie

/ Por: Cleber Facchi 05/03/2013

David Bowie
Rock/Singer-Songwriter/Alternative
http://www.davidbowie.com/the-next-day

 

Por: Cleber Facchi

David Bowie

David Bowie parece ter encontrado em Tony Visconti uma solução para se desviar da sequência de lançamentos ruins que vinha acumulando desde 1980. Dono de algumas das obras mais importantes da história da música, o cantor inglês rompe o hiato de dez anos para continuar o que iniciou com o parceiro nova-iorquino no início da carreira, posteriormente aprimorou na “Era Berlim” e hoje prossegue no terceiro ato de um projeto iniciado em 2002, com o disco Heathen. Vigésimo quarto álbum na carreira do músico britânico, The Next Day (2013, Iso Records/Columbia) está longe de refletir a fase mais inventiva do cantor, porém, serve como um aviso para os que tentam derrubá-lo: O “Camaleão do Rock” está de volta, e em nítida boa forma.

Não espere por maquiagens ousadas, personagens fantásticos que vieram do espaço ou o velho contraste andrógino que percorreu a fase mais rica do compositor, assim como nos dois trabalhos anteriores, o novo Bowie é sóbrio, porém, não menos convincente. Contrário de Paul McCartney, Bob Dylan e outros gigantes do rock, o artista britânico parece ser o que mais próximo esteve de uma linearidade. Ainda que a produção apresentada na década de 1990 tenha caído em um misto exagerado de música pop e eletrônica, o britânico sempre se manteve íntimo dos próprios inventos, tratando de (quase) tudo como uma continuação do que estabelece “eras” antes.

Embora tenha acumulado expectativa o suficiente para deixar os fãs mais afoitos em completo estado de desespero, The Next Day é um trabalho que merece ser apreciado sem exageros e com completa atenção. Mesmo típico do trabalho do músico britânico, esperar que a essa altura da vida Bowie nos presenteasse com um trabalho tão revolucionário quanto os clássicos discos lançados na década de 1970 seria simplesmente um erro. Não há nada no decorrer da obra que o músico já não tenha experimentado ao longo de toda a carreira ou mesmo que outros artistas tenham explorado no lugar dele. Todavia, é justamente ao lidar com essa necessidade de reviver o passado, que o músico garante pequenos concentrados de novidade ao novo lançamento.


[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=QWtsV50_-p4?rel=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=gH7dMBcg-gE?rel=0]

Como se tivesse escapado do álbum Low (1977), How Does The Grass Grow? condensa guitarras, teclados e vozes em um mesmo ambiente melódico e comercial. São quase cinco minutos de versos prontos para serem decorados, enquanto cantos confortáveis se espalham deliciosamente ao fundo da canção. Alegre, a música surge como uma espécie de contraponto ao material cinza que se movimenta no decorrer do álbum ou mais especificamente em The Stars (Are Out Tonight). Faixa mais intensa de todo o registro, a canção é uma provável incorporação temática do que Bowie construiu a partir de “Heroes”, em 1977. Sobram até passagens pelos sons mais acinzentados de Aladdin Sane (1973) em Love Is Lost, e até um pouco do brilho pop que acompanhou o músico de 1980 até meados da década seguinte, marca visível no romantismo instrumental quase tolo de Valentine’s Day.

Recheado por diferentes marcas (próprias ou mesmo vindas de outros projetos inspirados em seu próprio trabalho), é ao brincar com a melancolia que Bowie alcança novidade e garante o ponto de maior acerto dentro da obra. Enquanto a balada Where Are We Now? amarga os pensamentos mais existenciais do músico em uma sonoridade que bem poderia pertencer ao R.E.M. da década de 1990, a bela You Feel So Lonely You Could Die consegue ir um pouco além. Nitidamente influenciada pelo trabalho do Arcade Fire, que por sua vez revela marcas expressivas de Bowie por toda a discografia, a canção se encontra com a música gospel em uma explosão de vozes e arranjos volumosos de forte temática emocional. Um cruzamento perfeito entre a força dolorosa dos versos e épico instrumental.

Contrariando o que Tony Visconti anunciou recentemente, The Next Day é sim um registro pensado para botar David Bowie em uma nova turnê – anuncio que deve se concretizar em breve. Diferente de tantos registros de propósito similar, o novo álbum parece longe de se revelar como uma compilação de canções descartáveis ou que ao vivo serão substituídas por clássicos. Do momento em que a faixa-título inicia, passando pela boa forma de Dirty Boys, The Stars (Are Out Tonight), Dancing Out In Space até os instantes mais dolorosos do trabalho, tudo remete ao velho Bowie, um pouco desgastado em alguns momentos, porém, suficientemente bom para se apresentar com destaque a toda uma nova geração que provavelmente desconhece sua obra.

 

The Next Day

The Next Day (2013,  Iso Records/Columbia)


Nota: 7.8
Para quem gosta de: Roxy Music, Iggy Pop e Lou Reed
Ouça:  The Stars (Are Out Tonight), The Next Day e Where Are We Now?

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/81070247″ params=”” width=” 100%” height=”166″ iframe=”true” /]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.