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Críticas

Jessie Ware

: "Tough Love"

Ano: 2014

Selo: PMR / Island

Gênero: R&B, Soul, Pop

Para quem gosta de: The XX, Katy B e FKA Twigs

Ouça: Tough Love, Say You Love Me

8.0
8.0

Resenha: “Tough Love”, Jessie Ware

Ano: 2014

Selo: PMR / Island

Gênero: R&B, Soul, Pop

Para quem gosta de: The XX, Katy B e FKA Twigs

Ouça: Tough Love, Say You Love Me

/ Por: Cleber Facchi 20/10/2014

Sutileza em oposição à imponência. Do ambiente ocupado por arranjos e batidas fortes em Devotion (2012), estreia de Jessie Ware, apenas a voz expressiva da cantora permanece imutável na sequência Tough Love (2014, Island / PMR). Partindo da mesma curva leve assumida em faixas como Running e Sweet Talk, do trabalho anterior, Ware escapa lentamente do (desgastado) R&B pastiche da década de 1990, uma solução coesa e necessária para o crescimento da obra, capaz de movimentar com naturalidade todo um novo acervo de conceitos e sonoridades.

Entregue em parcelas, com músicas apresentadas em pequenos intervalos semanais, Tough Love está longe de parecer uma obra já decifrada pelo público. Ainda que o ouvinte tenha saboreado algumas das principais canções do disco, as peças lançadas desde o anúncio do registro são aleatórias. Fragmentos agora montados e desvendados com a mesma leveza que rege o álbum.

Sempre compactas, as letras assinadas por Ware se movimentam com precisão, ocupando lacunas e arranjos tímidos do disco. Versos confessionais, como os de Want Your Feeling (“Light still shining in the room/ You left me here“) ou da própria faixa-título (“You have me crying out/ crying out for more“), que sobrevivem do manso crescimento das vozes, fuga do refrão imediato e completo abandono de prováveis exageros instrumentais. Em uma dança lenta e sedutora, Tough Love parece hipnotizar o ouvinte sem que ele perceba.

Tamanha coerência entre as faixas e explícita sensibilidade não pode ser creditada apenas ao esforço individual de Ware. Mesmo vendido sob a assinatura da cantora, parte da beleza e equilíbrio da obra nasce da atenta orientação de Ben Ash (Two Inch Punch) e Benny Blanco, produtores do disco. Sob o título de BenZel – inicialmente apresentado como uma dupla de adolescentes japonesas -, o duo amplia o exercício iniciado na adaptação de If You Love Me, transformando a cantora em uma peça volátil, ora íntima do pop atual (Pieces), ora mergulhada em temas autorais (Say You Love Me).

Além do esforço em desenvolver a estrutura do álbum, cabe ao duo organizar e encaixar as canções divididas entre Ware e diferentes colaboradores. De um lado, canções produzidas por James Ford do Simian Mobile Disco (Want Your Feeling) e Julio Bashmore (Keep On Lying) – este último, parceiro de longa data e frequente colaborador da cantora; nos versos, a assinatura de Dev Hynes (Want Your Feeling), Miguel (Kind Of…Sometimes…Maybe), além da melancólica Share It All, faixa em parceria com Romy Madley-Croft (The XX) e Bashmore, porém, reservada apenas à edição Deluxe do registro.

Intencional, ou não, são estas mesmas interferências que salvam a cantora de um fastidioso regresso ao primeiro disco. Com exceção de Cruel e Sweetest Song, produzidas ao lado de Dave Okumu, grande responsável pela composição de Devotion, todo o arsenal do trabalho transmite leveza e frescor. Logo na música de abertura, sintetizadores e referências à década de 1980; em Want Your Feeling, diálogos graciosos com a música Disco dos anos 1970; já na derradeira Desire – íntima de FKA Twigs -, uma curiosa desconstrução do R&B. Dosando estabilidade e renovação sem escapar do pop, Tough Love acomoda Ware – e o próprio ouvinte – em um cenário ainda familiar, porém, carregado de segredos e novos planos a serem explorados.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.