Disco: “Trouble Will Find Me”, The National

/ Por: Cleber Facchi 16/05/2013

The National
Indie/Alternative/Rock
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Por: Cleber Facchi

The National

A zona de conforto estabelecida pelo The National desde o primeiro álbum é e sempre será o habitat exato para o aquilo que o grupo de Cincinnati, Ohio vem cultivando. Não espere que os irmãos Devendorf e Dessner preparem uma tapeçaria eletrônica ou possivelmente entalhada em experimentos para que Matt Berninger desfile com seus vocais em barítono. Pelo contrário, cada vez mais o quinteto parece inclinado a se recolher em um ambiente sombrio – similar ao que vem sendo arquitetado desde Sad Songs for Dirty Lovers (2003) -, um princípio sonoro e lírico para o que há mais de uma década abastece com dor e amargura o mar lamurioso da banda.

Contrariando o efeito inevitável que esse tipo de exercício seria capaz de impor à carreira do grupo, ao se fechar dentro de um cenário cada vez mais convencional e possivelmente redundante, a banda conseguiu dar formas a alguns dos melhores registros lançados na década passada. Enquanto Alligator (2005) transformou o sofrimento de Berninger na matéria-prima para o trabalho em conjunto com a banda, ao alcançar Boxer em 2007 a maturidade do coletivo (que parecia ter nascido adulto) aflorou. Sombrio, o registro é um dos exemplares mais convincentes sobre o declínio norte-americano, posicionando na figura do vocalista um personagem que caminha por esse cenário em escombros sociais.

Agora, ao alcançar o sexto registro da carreira, Trouble Will Find Me (2013, 4AD), o quinteto não apenas regressa ao ambiente desolador que trilha desde o começo de carreira, como trata do disco como um projeto de extrema aproximação com o álbum anterior, High Violet (2010). Da maneira como os instrumentos clamam pela simplicidade ao direcionamento “Piano-Bar” que se expande, cada instante da obra parece se conectar ao universo de Sorrow, Afraid of Everyone, Bloodbuzz Ohio e demais composições firmadas há três anos. Um conjunto volumoso de versos sofridos, sons acinzentados e um desmoronamento pessoal que parece arrastar (inevitavelmente) o ouvinte para o mesmo ambiente escuro da banda.


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Cada vez mais concentrado em lamentos alcoólicos  Berninger usa do álbum não como um exercício para afugentar os próprios demônios, mas como método de conforto e nítida aceitação. Como os versos de Demons e o próprio título da obra apontam – um trecho da faixa Sea Of Love -, independente da direção assumida, os problemas, o sofrimento e a dor sempre estarão lá, esperando. Dessa forma, o quinteto atravessa os mais de 50 minutos de duração do registro em um tratado até mais doloroso do que qualquer lançamento anterior da banda. Contrariando a acidez dos três primeiros discos e a dor exposta dos outros dois, Trouble Will Find Me trata do sofrimento como um elemento tão comum, que mais parece um instrumento ou verso inevitável que surge pela obra.

Da mesma forma que nos trabalhos anteriores, são as pequenas nuances e detalhamentos instrumentais que trazem distinção ao propósito da banda. Já que os versos esculpidos no decorrer da obra manifestam a presença única de um personagem – abandonado pela amada e em plena agonia -, é na instrumentação levemente versátil que o grupo se afasta do caráter individualista do registro. Ao lado de St. Vincent, Sharon Van Etten, Sufjan Stevens e outros convidados, o grupo deixa crescer tanto canções marcadas pelo peso das guitarras (Sea Of Love), como faixas concentradas em gracejos dolorosos (I Need My Girl e Pink Rabbits), ampliando os limites da temática instrumental firmada há três anos com High Violet. Assim como toda obra do The National, o novo álbum é um disco que exige tempo, revelando em doses o que só deve ser entendido em completude daqui alguns meses.

Talvez pela extrema aproximação com o que foi sustentado pelo grupo há três anos, o disco custe a engrenar durante as primeiras audições. É uma obra de sustento musical lento, não atenta aos detalhamentos atmosféricos de Boxer ou mesmo o cardápio de hits servidos em Alligator. Entretanto, desprezar a grandeza do álbum parece um erro ainda maior. Deixando a cargo dos parceiros a produção e tecelagem instrumental que cobre toda a obra, Matt Berninger recheia o álbum com tratados de abandono e separação que poucos parecem capazes de replicar. Dessa forma, Trouble Will Find Me se transforma em uma morada inevitável para a dor, e entrar nesse cenário talvez seja uma aventura suportável para poucos.

Trouble Will Find Me (2013, 4AD)


Nota: 8.0
Para quem gosta de: The Antlers, Interpol e Local Natives
Ouça: Sea of Love e Don’t Swallow the Cap

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.