Disco: “True Romance”, Charli XCX

/ Por: Cleber Facchi 12/04/2013

Charli XCX
Pop/Electronic/Synthpop
http://charlixcxmusic.com/

 

Por: Cleber Facchi

Charli XCX

A britânica Charlotte Aitchison sempre teve tudo para se transformar em uma típica representante da música pop, como boa voz, parceiros influentes e a capacidade de produzir composições pegajosas. Além, claro de um atributo extra: A beleza. Felizmente ela resolveu ir além. Sob o nome de Charli XCX, a cantora de Hertfordshire, Inglaterra já acumula meia década de composições tomadas pelo encontro melódico entre a eletrônica e o pop, marca que ela só conseguiu aprimorar de fato há pouco menos de dois anos, quando Stay Away e a grudenta Nuclear Seasons a apresentaram de vez ao público. Ora brincando com o Hip-Hop, ora íntima dos sintetizadores sombrios da década de 1980, a artista alcança o primeiro álbum solo com a sobriedade de quem sabe onde pisa e ainda insiste em ir além.

Praticamente um catálogo de tudo o que XCX vem desenvolvendo desde o começo de 2011, o recente True Romance (2013, Asylum) costura todos os grandes lançamentos da cantora de forma a alimentar um cenário funcional apenas dentro dos vocais inexatos e batidas não lineares que a cantora (e um time de produtores) vem construindo. Faixas que dançam pelas referências de Robyn, navegam pela onda de artistas da cena Small Pop, vão até a década de 1980, voltam para a Chillwave e tratam o R&B com um toque de Witch House. Referências obviamente instáveis, mas que parecem alimentar de forma eficiente o rico catálogo que se acomoda com exatidão na mente da britânica.

Mesmo com boa parte das faixas já conhecidas do público, o posicionamento exato e uma “segunda mão de tinta” na produção tratam de presentear o álbum em completude com um toque de novo. Mais do que amarrar cada faixa dentro de uma sonoridade exata e conceitualmente íntima, Charli movimenta pelo disco velhas conhecidas, como You’re The One, ou faixas mais recentes, à exemplo de You (Ha Ha Ha), de forma que tudo faça parte de um mesmo plano musical. É como se aquela composição lançada há dois anos seguisse o mesmo roteiro lírico-musical do tudo o que a britânica tem construído desde o começo do presente ano, o que de fato acontece.


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Revelando composições inclinadas à confissão, Aitchison trata de cada faixa como um mecanismo natural de visita ao passado – muitas vezes recente e extremamente doloroso. Ainda que composições mais antigas já explorem isso com acerto (vide o caso de Nuclear Seasons e a bem sucedida Stay Away), é na seleção de músicas realmente inéditas que Charli surpreende. Sempre orientadas pelas metáforas, Black Roses, por exemplo, vai até a década de 1980 (ou seriam os primeiros discos do The Knife?) para destilar as emoções mais sombrias da artista. O mesmo acontece com How Can I, música que transforma as dores de XCX em uma matéria-prima volátil.

Sempre interessada na construção de músicas instáveis e marcadas pela quebra constante de gêneros, a cantora usa de cada espaço do álbum para experimentar novas tendências. Da faixa de abertura, passando pela reformulada versão de You (do conterrâneo Gold Panda) até as passagens pelo rap em So Far Away e Cloud Aura (parceria com Brook Candy), tudo é voltado ao contraste e irregularidade dos sons. O que poderia se transformar em um completo exagero para o trabalho, acaba se convertendo na principal engrenagem que movimenta o disco. Colagens aleatórias que tiram a artista da zona de conforto durante todo o tempo, mantendo o ouvinte sempre preso aos detalhes e à dinâmica do disco.

Livre de manifestar a mesma seriedade que abastece a obra de Grimes (em quem a britânica tanto se inspira), ou mesmo longe de revelar o grandiosismo da conterrânea Jessie Ware, Charli XCX acerta por apenas perverter o pop e ainda assim divertir. Quase uma antítese em relação ao que Marina and The Diamonds e outras artistas próximas desenvolvem, em True Romance a cantora parece interessada em brincar com os sons, sem se importar com a construção de um trabalho vendável ou possivelmente radiofônico. Estranho notar que é justamente isso que ela encontra assim que o disco inicia.

 

Charli XCX

True Romance (2013, Asylum)


Nota: 7.8
Para quem gosta de: Sky Ferreira, Grimes e Icona Pop
Ouça: You (Ha Ha Hs), So Far Away e Nuclear Seasons

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.