Disco: “Vem Ser Artista Aqui Fora”, Tereza

/ Por: Cleber Facchi 31/08/2012

Tereza
Brazilian/Indie Rock/Alternative
http://atereza.com/

Por: Cleber Facchi

De tempos em tempos o cenário contribui involuntariamente para o surgimento de bandas sérias, artistas de versos acinzentados e temáticas que parecem capazes de tudo, menos agradar ao grande público ou mesmo pequenas parcelas dele. É como se algumas bandas simplesmente esquecessem os ouvintes e estabelecessem a criação de um disco particular, repleto de elementos e preferências conhecidas e compreendidas apenas por eles. A boa música existe, os versos detalhados e a seriedade estão lá, mas falta a necessária capacidade de dialogar com os espectadores, falta um mínimo (e assertivo) tempero pop que seja capaz de atiçar a curiosidade e de fato chamar as atenções de quem talvez queira apenas se divertir.

Em Vem Ser Artista Aqui Fora (2012, Independente) fica visível o esforço do quinteto carioca Tereza em compreender e satisfazer essa necessidade do público. Donos de um som que transita pelo pop sem cometer os mesmos desajustes e exageros típicos de trabalhos do gênero, a banda faz do registro de estreia um tratado que se abre aos mais variados públicos, colecionando composições de versos fáceis (que muito lembram Phoenix), ritmo pegajoso e todo um diversificado catálogo de experiências que parece fluir como a trilha sonora para um dia quente de verão. Continuação apurada e bem resolvida do que a banda já havia testado no EP Onça, apresentado no último ano, o novo registro traz ao público uma série de faixas bem resolvidas que fisgam rapidamente, assim que passam pelos ouvidos.

Distante do enquadramento melancólico e das preferências instauradas pelos conterrâneos do Los Hermanos há mais de uma década, o quinteto formado por Mateus Sanches, João Volpi, Sávio Azambuja, Rodrigo Martins e Vinícius Louzada se prende de maneira atenta ao que flutua no panorama musical estrangeiro, acrescentando sempre que possível um toque de verde e amarelo em cada composição. Por vezes próximos das mesmas referências incorporadas por Chaz Bundick no dançante e Lo-Fi Toro Y Moi (da fase Underneath The Pine), ao mesmo tempo em que incorporam uma série de referências formadas pelo Vampire Weekend do disco Contra (2010), o grupo carioca nos arrasta até o fecho do álbum em uma maré de sonorizações ensolaradas e sempre crescentes.

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Menos denso que o último EP do quinteto (ainda que o trabalho traga uma série de canções nele presentes), em Vem Ser Artista Aqui Fora é constante a necessidade da banda em passear por canções despojadas e livres de qualquer conceito mais sério ou contemplativo. Por mais que os vocais de Vinícius Louzada (um misto de Evandro Mesquita da Blitz com Luke Jenner do The Rapture) soem exagerados em diversos momentos, tudo faz parte da proposta enérgica do grupo, que do afrobeat-pop ensolarado de Vamos Sair Para Jantar (que parece uma música do Holger cantada em português) aos experimentos curiosos de Adultos são Crianças pt. 2 jamais abandona a estrutura leve e o toque acessível da obra.

Parte da mesma leva de bandas que encontram na música pop (e em suas variáveis) uma ferramenta inusitada e criativa, o quinteto transforma em guitarras o que Mahmundi traduz em sintetizadores e converte em português o que o Wannabe Jalva transborda nos versos em inglês do disco Welcome to Jalva (2011). Rápido, o trabalho se extingue em menos de 40 minutos, o que contribui para o acabamento veloz concedido às faixas, canções como a melancólica Maquina Registradora, que mesmo distinta em relação as demais faixas do álbum mantém firme o ar de diversão e o clima enérgico do disco. Sobra até para a banda apostar em pequenos inventos, sobrevoando a música eletrônica em Calçada da Batalha (que em alguma medida lembra o Franz Ferdinand do disco Tonight: Franz Ferdinand) e pequenos experimentos ambientais em Rumo ao Branco.

Repleto de tendências instrumentais que vão do synthpop oitentista (Sandau) ao indie rock convencional que se materializou na década passada (Siris), o disco de 11 rápidas canções se desenvolve fácil, pronto para as massas ao mesmo tempo em que mantém uma intensa relação com os ouvintes “moderninhos”. Sem respostas para as questões complexas da vida, do universo ou qualquer outro questionamento de caráter mais adulto, a banda Tereza incorpora ao longo do álbum a proposta de apenas cativar e divertir o espectador, mesmo que isso se dissolva de maneira efêmera e até desapareça em uma próxima estação. Vem Ser Artista Aqui Fora acerta justamente por não parecer sério ou pretensioso, prendendo fácil todo e qualquer ouvinte que dificilmente vai passar pelo trabalho sem decorar cada verso proclamado pela banda.

Vem Ser Artista Aqui Fora (2012, Independente)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Mahmundi, Colombia Coffee e Holger
Ouça: Vamos Sair Para Jantar, Arariboia e Sandau

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.