Em um ano marcado pelo retorno de nomes consagrados, grandes novidades e artistas que passaram por um intenso processo de transformação, abraçando uma nova parcela do público, trago uma seleção com 50 obras que marcaram 2024. São trabalhos que vão da eletrônica ao pop, do rock ao jazz em um esforço de mapear o que há de melhor e mais interessante na música internacional.
#50. Erika de Casier
Still (2024, 4AD)
Com o lançamento de Sensational (2021), Erika de Casier não apenas foi apresentada à uma parcela ainda maior do público, como passou a colaborar com nomes importantes da indústria da música. De produtores como Mura Masa ao grupo sul-coreano NewJeans, com quem esteve envolvida na produção do EP Get Up (2023),sobram momentos em que a portuguesa radicada na Dinamarca parecia ampliar o próprio campo de atuação. Pequenos ensaios e encontros pontuais que culminam agora na chegada de Still. Terceiro e mais recente registro de estúdio da cantora, compositora e produtora portuguesa, o material desenvolvido em parceria com Natal Zaks e Nick León, com quem já havia trabalhado anteriormente, é tanto uma manifestação dessas colaborações vividas pela artista nos últimos anos, como uma extensão das pesquisas sonoras que de Casier tem elaborado sobre o pop produzido entre o final da década de 1990 e início dos anos 2000. Canções que vão do R&B ao drum and bass em uma abordagem sempre particular. Leia o texto completo.
#49. Chanel Beads
Your Day Will Come (2024, Jagjaguwar)
Your Day Will Come é uma obra estranhíssima e, por isso mesmo, fascinante. Estreia de Shane Lavers como Chanel Beads, o registro de nove faixas estabelece logo na inaugural Dedicated To The World parte dos elementos que serão incorporados pelo compositor nova-iorquino ao longo do álbum. São vozes sempre carregadas de efeitos, arranjos de guitarras abstratos, retalhos e camadas de sintetizadores que mudam de direção a todo instante, como se Lavers brincasse com a interpretação do próprio ouvinte. É como se o músico partisse de uma abordagem pop, incorporando elementos da música produzida nos anos 1980, 1990 e 2000, porém, utilizando de uma proposta deliciosamente fragmentada, torta. A própria Police Scanner, vinda logo em seguida, funciona como uma boa representação desse resultado. Instantes em que Leavers partilha de uma linguagem similar a de Alex G, Car Seat Headrest e outros idealizadores conhecidos pelo repertório caseiro, mas que deixa o rock em segundo plano para provar de outros ritmos. Leia o texto completo.
#48. Kali Malone
All Life Long (2024, Ideologic Organ)
Registros com foco na produção minimalista costumam se revelar como exercícios criativos marcados pela atmosfera solitária. Dentro de estúdios e quartos fechados, compositores buscam dar vida a suas ideias por meio de instrumentos, computadores e outras ferramentas de trabalho. Não é o caso de All Life Long. Mais recente criação da compositora e pianista estadunidense Kali Malone, o repertório gravado em diferentes locações mostra o esforço da instrumentista radicada na Suécia em continuamente tensionar os limites da própria obra, trilhar novos caminhos e estreitar laços com diferentes colaboradores. Inaugurado pelo uso das vozes em Passage Through The Spheres, o trabalho instantaneamente rompe com as bases densas que há mais de uma década orientam as criações da instrumentista e revela o que talvez seja o principal direcionamento criativo de Malone em All Life Long: ampliar os próprios domínios. São estudos que preservam as habituais repetições que marcam a obra da compositora, porém, partindo de uma nova perspectiva, como uma fuga do enquadramento solitário vivido durante o período pandêmico. Leia o texto completo.
#47. Artms
Dall (2024, Modhaus)
Com o fim do contrato de exclusividade com o selo Blockberry Creative e consequente encerramento das atividades do LOONA, cinco ex-integrantes do grupo de k-pop, Heejin, Haseul, Kim Lip, Jinsoul e Choerry, foram recrutadas pela Modhaus para dar vida a outro projeto. O resultado desse processo está na criação do Artms, quinteto que, como o próprio nome aponta, busca inspiração na deusa grega da Lua e em outros temas celestiais para dar vida ao primeiro álbum de estúdio da carreira, o delicado Dall. Assim como aconteceu em grande parte das composições do LOONA, prevalece em Dall a entrega de um repertório marcado pelo refinamento dado aos arranjos, uso calculado das batidas e harmonias de vozes sempre caprichadas, destacando o processo de produção do material. São faixas que mergulham em temas românticos, evidenciando a sensibilidade dos versos que dialogam com o título da obra, uma abreviação para “Devine All Love and Live“, algo como “Todo o Amor Divino e Vida“, na tradução para o português.
#46. Jlin
Akoma (2024, Planet Mu)
Muito embora parta de uma abordagem bastante característica, cada novo trabalho de estúdio de Jlin abre passagem para um novo território criativo. Com Akoma, terceiro e mais recente disco de inéditas da produtora norte-americana, não seria diferente. Sequência ao material apresentado em Black Origami (2017), o registro de onze composições segue de onde a artista parou há cinco anos, porém, utiliza de uma série de outros elementos que tensionam a experiência do ouvinte e ampliam os domínios da obra. Terceira faixa do trabalho, Summon talvez seja o exemplo mais representativo disso. Em um intervalo de quatro minutos, Jlin deixa de lado o uso de formatações sintéticas para destacar a construção das batidas e componentes percussivos de forma orgânica. É como se a artista partisse de uma proposta ritualística, mas que aos poucos se perde em uma insana sobreposição de elementos, quebras e ruídos que rompem com a lógica de um registro tradicional, resultando em um espaço permanentemente aberto às possibilidades. Leia o texto completo.
#45. Empress Of
For Your Consideration (2024, Major Arcana)
Lorely Rodriguez parece, pela primeira vez em mais de uma década de carreira como Empress Of, ter se encontrado criativamente. Em For Your Consideration, quarto e mais recente álbum de estúdio, a cantora e compositora norte-americana combina elementos dos três trabalhos apresentados anteriormente, Me (2015), Us (2018) e I’m Your Empress Of (2020), porém, utilizando de um fino toque de transformação e intensa relação com a música pop que aos poucos leva o material para outras direções. Parte desse resultado vem da escolha da artista em romper laços com as antigas gravadoras para seguir de maneira independente, tendo total controle criativo sobre o registro. O efeito direto desse processo está na entrega de um trabalho que destaca a herança latina de Rodriguez, conceito que vem sendo incorporado desde o lançamento de Us, passa pelo refinamento técnico que marca o repertório de Me e cresce no uso de formatações dançantes que apontam diretamente para o material apresentado em I’m Your Empress Of. Leia o texto completo.
#44. Still House Plants
If I Don’t Make It, I Love U (2024, Bison)
Não vou mentir para vocês: ouvir as composições de If I Don’t Make It, I Love U está longe de ser encarado como uma experiência agradável. Baterias com tempos estranhos, guitarras irregulares e vozes sempre dissonantes criam uma sensação de desconforto que acompanha o ouvinte do princípio ao fim do mais recente trabalho de estúdio do Still House Plants. São canções que mais parecem ideias em formação, por vezes esqueléticas, porém, vivas, evidenciando o incomum processo de criação da banda. E isso tem um motivo. Desde que formado, no início da década passada, na Escola de Artes de Glasgow, na Escócia, o trio londrino composto por Jess Hickie-Kallenbach (voz), Finlay Clark (guitarra) e David Kennedy (bateria) tem incorporado um método de criação pouco usual. Composições com aberturas e fechamentos estruturados, mas que reservam ao público um miolo de improvisos e experimentações que transportam para dentro de estúdio uma atmosfera ao vivo. Um espaço conceitual em que tudo e nada pode acontecer. Leia o texto completo.
#43. Kali Uchis
Orquídeas (2024, Geffen)
Dizer que Kali Uchis vive hoje sua melhor fase seria um erro. Afinal, desde que revelou o primeiro álbum de estúdio da carreira, Isolation (2018), a cantora e compositora norte-americana em nenhum momento deixou de surpreender. Depois de alcançar uma parcela ainda maior do público durante a apresentação de Sin Miedo (del Amor y Otros Demonios) (2020), a artista descendente de colombianos passou a investir em uma abordagem ainda mais sofisticada, vide o neo-soul psicodélico de Red Moon In Venus (2023), obra que se competa agora, dez meses depois, com a chegada do fino repertório de Orquídeas. Embora concebido simultaneamente com o registro que o antecede, o que explica o mesmo refinamento estético e rica base instrumental, Orquídeas soa como uma continuação direta do material entregue pela cantora durante o lançamento de Sin Miedo (del Amor y Otros Demonios). Parte desse resultado vem da escolha de Uchis em reservar ao disco um catálogo de canções interpretadas quase que integralmente em espanhol. Mais do que isso, o trabalho marcado pela vulnerabilidade dos temas, dramas e sentimentos avassaladores funciona como um componente de diálogo com diferentes representantes da música latina. Leia o texto completo.
#42. Nicolas Jaar
Piedras 1 / Piedras 2 (2024, Other People)
Filho de um dos mais notórios críticos ao domínio imperialista dos Estados Unidos, o artista chileno Alfredo Jaar, Nicolas Jaar sempre manteve um forte discurso político em grande parte de suas composições. Basta voltar os ouvidos para músicas como No, parte do provocativo Sirens (2016), para perceber a forma como o produtor nova-iorquino sempre buscou tensionar a experiência do ouvinte, levando para dentro de cada novo trabalho de estúdio temáticas bastante pertinentes como repressão, censura e a busca por libertação. Vem justamente dessa abordagem contestadora o estímulo para o denso repertório de Piedras. Inicialmente pensado como um concerto em homenagem às vítimas da brutal ditadura de Augusto Pinochet no Chile, o trabalho foi aos poucos sendo expandido no que o artista batizou de Archivos de Radio Piedras, um projeto que combina radionovela, resistência cultural, música eletrônica e a força da memória. Leia o texto completo.
#41. This Is Lorelei
Box For Buddy, Box For Star (2024, Double Double Whammy)
Mesmo conhecido pelo trabalho como uma das metades do Water From Your Eyes, projeto dividido com a cantora e compositora nova-iorquina Rachel Brown, foi com o This Is Lorelei que Nate Amos entregou ao público algumas de suas melhores e mais estranhas criações. São dezenas de registros que se acumulam desde o início da década passada, quando começou a publicar suas composições. É como um longo ensaio para o que se concretiza com a chegada de Box For Buddy, Box For Star. Primeiro registro oficial do músico estadunidense, o álbum de dez faixas funciona tanto como um acumulo natural de tudo aquilo que Amos tem incorporado ao longo da última década, como um explícito ponto de maturação e refino em relação ao próprio repertório. São canções que ainda continuam a vagar pelos mais variados estilos, sem a pressão e consistência talvez esperada de um álbum do gênero, porém, totalmente livres da habitual atmosfera caseira que parecia orientar o vasto catálogo de obras acumuladas pelo artista. Leia o texto completo.
#40. Parannoul
Sky Hundred (2024, Longinus / Poclanos / Topshelf)
O que acontece quando a mágica chega ao fim? É exatamente isso que Parannoul busca explorar em Sky Hundred. Quarto e mais recente trabalho de estúdio do projeto sul-coreano, o sucessor de After the Magic (2023) segue de onde um músico parou no último ano, detalhando conflitos sentimentais e temas existenciais, porém, substituindo a plasticidade explícita no tratamento dado aos arranjos por um material consumido pelos efeitos, ruídos e pequenos atravessamentos instrumentais. Inaugurado de maneira catártica por A Lot Can Happen, composição que posiciona os pianos em primeiro plano, evocando o Black Country, New Road em Ants From Up There (2022), Sky Hundred pode até seguir de onde o músico sul-coreano parou no último ano, porém se estabelece de forma irregular. É como se o artista transportasse para dentro de estúdio a mesma atmosfera ao vivo de After The Night (2023), efeito direto do desenho torto dado aos arranjos e uso de quebras estratégicas que surgem ao longo do material. Leia o texto completo.
#39. Cassandra Jenkins
My Light, My Destroyer (2024, Dead Oceans))
Com o lançamento de An Overview on Phenomenal Nature (2021), Cassandra Jenkins, que já contava com o introdutório Play Till You Win (2017), elevou ainda mais o nível da própria criação. Satisfatório perceber em My Light, My Destroyer, um trabalho que não apenas preserva, como potencializa esse mesmo resultado. Da aplicação das vozes ao refinamento dado aos arranjos, cada mínimo fragmento do registro destaca a força criativa, entrega e sensibilidade no processo de criação adotado pela musicista. Tendo na temática cósmica um importante componente de condução para o trabalho, Jenkins parte desse olhar para o universo ao redor como forma de refletir sobre a própria solidão, medos e inseguranças. “Eu não quero mais rir sozinha“, canta na enérgica Clams Casino, música que soa como uma canção perdida do Wilco, efeito direto do uso destacado da guitarra, porém, ainda íntima de tudo aquilo que a cantora e compositora nova-iorquina tem incorporado dentro e fora de estúdio desde o início da década passada. Leia o texto completo.
#38. Floating Points
Cascade (2024, Ninja Tune)
Quem esperava que o breve período de calmaria em Promises (2021), delicada parceria com o saxofonista Pharoah Sanders (1940 – 2022), pudesse suavizar o trabalho de Sam Shepherd como Floating Points, vai se surpreender com o repertório entregue pelo produtor britânico em Cascade. Sequência ao material apresentado em Crush (2019), o registro segue de onde Shepherd parou há cinco anos, contudo estabelece na maior aceleração e reforço aplicado às batidas um poderosíssimo componente de renovação. Feito para as pistas, Cascade diz a que veio logo na matadora sequência formada por Vocoder [Club Mix], Key103 e Birth4000. São pouco menos de 20 minutos em que o produtor brinca com a fragmentação das vozes e destaca o uso de texturas sintéticas, mas que em nenhum momento se sobrepõem ao impacto das batidas. É como uma interpretação ainda mais frenética em relação ao disco anterior. Golpes rápidos que alternam entre a house e o techno, porém preservando o habitual experimentalismo que orienta a IDM. Leia o texto completo.
#37. Clairo
Charm (2024, Longinus / Poclanos / Topshelf)
Na contramão de outros nomes da indústria, sempre acompanhados de seus habituais parceiros criativos, Clairo tem feito de cada novo álbum de estúdio uma plataforma para estreitar laços com os mais variados colaboradores. Em Immunity (2019), foi Rostam Batmanglij, músico que havia acabado de deixar o Vampire Weekend e ajudou a artista a moldar a própria sonoridade. Dois anos mais tarde, foi a vez do requisitado Jack Antonoff que, entre sessões com Taylor Swift e Lorde, atuou na produção do atmosférico Sling (2021). Sempre interessada em ampliar os próprios horizontes criativos, Clairo retorna agora com o terceiro álbum de estúdio da carreira, Charm, e mais um novo colaborador, o músico Leon Michels. Conhecido por integrar o projeto Sharon Jones & the Dap-Kings, o produtor ainda acumula parcerias com Norah Jones, Lee Fields e outros artistas voltados ao jazz/soul, direcionamento que, mesmo preservando a sonoridade reducionista da cantora, orienta parte expressiva do repertório montado para o presente disco. Leia o texto completo.
#36. Godspeed You! Black Emperor
No Title as of 13 February 2024 28,340 Dead (2024, Constellation)
Mesmo partindo de uma abordagem essencialmente instrumental, os integrantes do Godspeed You! Black Emperor continuam a utilizar da própria obra como uma importante plataforma política. Em No Title as of 13 February 2024 28,340 Dead, oitavo e mais recente trabalho de estúdio, o coletivo canadense denuncia o número de palestinos mortos desde que Israel iniciou a invasão à Faixa de Gaza, em outubro de 2023, e o espaço de tempo que compreende a finalização do disco, em fevereiro deste ano. Entretanto, para além desse pano de fundo conceitual, o grupo encabeçado por Efrim Menuck transporta parte dessa atmosfera opressiva para cada uma das seis composições que integram o disco. Inaugurado por Sun Is a Hole Sun Is Vapors, o álbum que conta com produção assinada por Jace Lasek ganha forma aos poucos, detalhando camadas de guitarras e ruídos ocasionais que não apenas servem para ambientar o ouvinte, como marcam o reencontro da banda após o também provocativo G d’s Pee at State’s End! (2021).
#35. 1010Benja
Ten Total (2024, Three Six Zero)
O som de sirenes, a risada histérica, o barulho de explosões e a voz interrompida pelo que parece ser um desabamento. Em poucos minutos, Benjamin Lyman, o 1010benja, revela o estranho e ao mesmo tempo fascinante território criativo que busca explorar no primeiro trabalho de estúdio da carreira, o aguardado Ten Total. São dez composições que destacam a relação do músico estadunidense com o R&B tradicional, porém, pontuada pelo delirante atravessamento de informações, ritmos e vozes. É como um regresso ao mesmo tipo de som incorporado por nomes como Miguel, em Kaleidoscope Dream (2012), e Frank Ocean, na sequência formada por Nostalgia, Ultra (2011) e Channel Orange (2012), mas que em nenhum momento oculta a identidade criativa e capacidade de 1010benja em construir um repertório que pertence somente a ele. Canções que passeiam por diferentes décadas e esbarram na obra de nomes importantes como Prince e Kanye West, porém, preservando um sempre curioso senso de aproximação. Leia o texto completo.
#34. Fontaines D.C.
Romance (2024, XL Recordings)
Mesmo longe de casa, os integrantes do Fontaines D.C. encontraram uma forma de explorar a relação com o país de origem, a Irlanda, de forma sempre pertinente. Exemplo disso fica bastante evidente em Skinty Fia (2022), trabalho em que Grian Chatten e seus parceiros de banda transformam a mudança para a cidade de Londres e a saudade de Dublin no estímulo para um repertório que se aprofunda em questões como a passagem do tempo, conflitos políticos e todo um catálogo de composições marcadas por temas pessoais. Interessante perceber em Romance, quarto e mais recente trabalho de estúdio da banda, uma obra que não apenas rompe com essa lógica, como amplia os horizontes do quinteto irlandês. Princípio de uma nova fase na carreira do grupo, o registro inverte a lógica local para explorar o universo ao redor. A própria escolha em substituir Dan Carey, com quem vinham trabalhando desde Dogrel (2019), por James Ford (Jessie Ware, Arctic Monkeys), funciona como uma clara representação desse resultado. Leia o texto completo.
#33. Fabiana Palladino
Fabiana Palladino (2024, Paul Institute / XL Recordings)
Mesmo parte de uma importante família de instrumentistas, Fabiana Palladino decidiu seguir seu próprio caminho. Longe do suporte do pai, Pino Palladino, reverenciado baixista que já colaborou em estúdio com nomes como D’Angelo e John Mayer, além do irmão, Rocco, personagem de destaque do novo jazz inglês, a cantora e compositora britânica encontrou no discreto Jai Paul seu principal parceiro criativo. Juntos, os dois artistas atravessaram a última década em um reduzido, porém, precioso catálogo de composições. Passado esse longo processo de preparação, Palladino regressa agora com a entrega do primeiro trabalho de estúdio da carreira. Autointitulado, o registro de dez faixas é um material que se revela aos poucos, sem pressa, porém, encanta a cada novo e sempre meticuloso movimento da cantora inglesa. São composições que dialogam com o presente, partilhando do mesmo método de produção incorporado por artistas como 1010benja e Tirzah, mas que lenta e delicadamente parecem conduzir o ouvinte em direção ao passado. Leia o texto completo.
#32. The Cure
Fabiana Palladino (2024, Universal Music)
O avanço lento da introdutória Alone é essencial para entender aquilo que Robert Smith e seus parceiros de banda no The Cure buscam desenvolver em Songs of a Lost World. Mais do que um simples retorno do grupo inglês após um intervalo de 16 anos, o sucessor de 4:13 Dream (2008) é uma verdadeira jornada instrumental e poética através do tempo. São composições que tratam sobre a iminente aproximação da morte e o fim de tudo aquilo que conhecemos, como uma melancólica carta de despedida. A exemplo de David Bowie em Blackstar (2016) e Bob Dylan em Rough and Rowdy Ways (2020), Songs of a Lost World se sustenta na formação de canções que tratam sobre indivíduos solitários e deslocados, como se grande parte das relações, amores e amizades conquistadas no decorrer da vida tivessem se esgotado. A própria imagem de capa do disco, uma criação de 1975 do escultor esloveno Janez Pirnat (1932 – 2021), representa isso de forma bastante eficiente, surgindo como as ruínas de um rosto consumido pelo tempo. Leia o texto completo.
#31. Jamie XX
In Waves (2024, Young)
Desde que deu início aos trabalhos em carreira solo, o produtor Jamie XX sempre soube como equilibrar os temas introspectivos explorados com os companheiros de grupo no The xx com um repertório voltado às pistas. Exemplo disso fica bastante evidente durante toda a execução de In Colour (2015), registro em que o som pulsante de Gosh convive de forma amigável com o rap ensolarado de I Know There’s Gonna Be (Good Times) e o lirismo contemplativo de Loud Places, delicado encontro com a parceira de banda Romy. Com a chegada de In Waves, segundo e mais recente trabalho do artista inglês em carreira solo, essa relação entre os momentos de maior contemplação e o olhar atento para as pistas fica cada vez mais desequilibrada, com o produtor voltando seus esforços para a entrega de uma obra essencialmente dançante. Os temas sentimentais ainda estão lá, picotados em fragmentos de vozes, como na mensagem de Treat Each Other Right (“Tudo o que temos a fazer é tratar um ao outro bem”), mas o foco está nas batidas. Leia o texto completo.
#30. Mdou Moctar
Funeral For Justice (2024, Matador)
Em meados de 2023, enquanto excursionavam pelos Estados Unidos para promover o elogiado Afrique Victime (2021), Mahamadou Souleymane e seus parceiros no Mdou Moctar foram surpreendidos com a notícia de que não poderiam regressar ao país de origem, Níger, na região Oeste do continente africano, por conta de um golpe de estado. Longe de casa e inspirados pelos recentes acontecimentos, o quarteto encontrou o estímulo que faltava para trabalhar no repertório de Funeral For Justice. De forte caráter político, como tudo aquilo que a banda tem incorporado desde as primeiras empreitadas em estúdio, Funeral For Justice sustenta na construção dos versos uma reflexão atenta sobre o impacto do colonialismo europeu no continente africano e a herança do domínio francês em Níger. Em geral, são letras curtas e cíclicas, porém, sempre impactantes, como uma potencialização das temáticas que embalam as criações do grupo desde o amadurecimento artístico e consolidação explícita em Ilana: The Creator (2019). Leia o texto completo.
#29. Brittany Howard
What Now (2024, Island)
Longe do Alabama Shakes, Brittany Howard parece ter encontrado a passagem para um território criativo ainda mais interessante e musicalmente diverso. Exemplo disso fica bastante evidente com a apresentação de What Now, obra em que resgata uma série de elementos característicos do antigo projeto, vide a forte relação com a música negra dos anos 1950 e 1960, porém, partindo de um permanente senso de atualização poético, instrumental e rítmico que leva o fino repertório de Howard para outras direções. Síntese desse curioso processo de transformação vivido pela cantora, Prove It To You evidencia o esforço da musicista em ampliar o próprio campo de atuação. Do momento em que tem início, nas batidas secas que se completam pelos teclados de Lloyd Buchanan, Howard, sempre em companhia do produtor Shawn Everett (Kacey Musgraves, The Killers), se permite provar da música eletrônica, porém, preservando sua identidade e vozes sempre impecáveis. É como um remix pulsante de tudo aquilo que a compositora havia testado no álbum anterior, Jaime (2019), princípio de todas as mudanças consolidadas no presente disco. Leia o texto completo.
#28. Geordie Greep
The New Sound (2024, Rough Trade)
Se você ouvir os três discos do Black Midi em sequência, Schlagenheim (2019), Cavalcade (2021) e Hellfire (2022), perceberá como o som do grupo britânico foi de algo essencialmente cru para um repertório cada vez mais complexo. Parte desse resultado vem do confesso interesse do vocalista e principal compositor da banda, o guitarrista Geordie Greep, em incorporar cada vez mais elementos, ampliando os horizontes do projeto. É como um delirante atravessamento de informações, diferentes ritmos e possibilidades que ganha novo e curioso significado com a chegada do material entregue em The New Sound. Estreia de Greep em carreira solo, o registro concebido durante os intervalos da última turnê do Black Midi, que agora segue em hiato, destaca o esforço do músico inglês em romper com qualquer traço de conforto. São composições que seguem de onde o guitarrista parou em Hellfire, porém, partindo de uma abordagem ainda mais diversa, estruturalmente imprevisível e complexa, proposta que vai do jazz à música brasileira. Leia o texto completo.
#27. Knocked Loose
You Won’t Go Before You’re Supposed To (2024, Pure Noise)
O grito atormentado do vocalista Bryan Garris logo nos segundos iniciais de Thirst, música de abertura em You Won’t Go Before You’re Supposed To, ajuda a entender a crueza que move o terceiro e mais recente trabalho de estúdio do Knocked Loose. Em um intervalo de menos 30 minutos, a banda de Oldham County, Kentucky, enfileira composições que partem de conflitos pessoais, porém, a todo momento se aprofundam em temas religiosos, políticos e sociais que ampliam significativamente os limites do álbum. “Eu tentei lutar contra isso / Mas não consigo me esconder da verdade“, revela Garris logo na composição seguinte, Piece By Piece, reforçando a angústia que invade a construção dos versos. É como um ensaio para o que se revela de forma ainda mais interessante na posterior Suffocate, inusitada parceria com a cantora Poppy e um campo aberto à bateria de Kevin Kaine, sempre marcada pela inserção de tempos estranhos e mudanças de estrutura que acabam tensionando criativamente os demais integrantes do Knocked Loose. Leia o texto completo.
#26. Father John Misty
Mahashmashana (2024, Sub Pop)
Em agosto deste ano, quando apresentou a primeira coletânea de sucessos sob a alcunha de Father John Misty, Greatish Hits: I Followed My Dreams and My Dreams Said to Crawl (2024), Josh Tillman surpreendeu o público ao revelar a inédita I Guess Time Just Makes Fools of Us All. Embora extensa, com pouco mais de oito minutos de duração, a composição parecia fascinar pelo dinamismo em relação aos últimos trabalhos do norte-americano, como uma fuga do som contemplativo de Chloë and the Next 20th Century (2022). Satisfatório perceber esse mesmo direcionamento durante toda a execução de Mahashmashana. Sexto e mais recente trabalho de estúdio de Father John Misty, o registro, cujo nome significa “grande campo de cremação”, em sânscrito, traz de volta as velhas inquietações do músico norte-americano, porém, utilizando de outra perspectiva. São composições que partem de observações sobre o cenário ao redor, mas que estabelecem no lirismo transcendental um precioso componente de transformação para o disco. Leia o texto completo.
#25. Beyoncé
Cowboy Carter (2024, Columbia / Parkwood)
Ainda que a sonoridade e a estética digam o contrário, a mensagem de Beyoncé no texto que apresenta Cowboy Carter (2024) é bastante clara: “esse não é um álbum country“. E ela está certa. Muito mais do que um exercício de estilo ou uma resposta aos que se incomodaram durante a passagem da cantora pela 50ª edição do Country Music Association Awards, a mais importante premiação do gênero nos Estados Unidos, o oitavo álbum de estúdio da norte-americana mostra uma artista interessada em testar os próprios limites. Em um intervalo de quase 80 minutos, tempo de duração do trabalho, Beyoncé se arrisca pelo country, gospel, rock, ópera e eletrônica, porém, preservando a forte relação com o R&B e o pop, suas principais vertentes criativas. O mais fascinante talvez seja perceber como mesmo imersa em diferentes estilos, a artista em nenhum momento diminui o padrão das composições. Tudo é sempre tratado com excelência. Excelência negra. Um meticuloso processo de criação que se reflete até os momentos finais do material. Leia o texto completo.
#24. Laura Marling
Patterns In Repeat (2024, Chrysalis / Partisan)
A primeira coisa que escutamos em Patterns In Repeat é a conversa entre duas pessoas seguida do som de um bebê e risos. Ainda que bastante sutil, essa inserção nos minutos iniciais de Child Of Mine ajuda a entender a atmosfera e parte dos temas que abastecem o oitavo álbum de estúdio da cantora e compositora inglesa Laura Marling. Trata-se de um delicado estudo da artista sobre o processo de gravidez vivido há poucos meses, a interpretação sobre maternidade e o nascimento da primeira filha. Entretanto, Marling já havia cantado sobre grande parte desses mesmos temas há quatro anos, em Song for Our Daughter (2020), trabalho em que, amparada pela obra da poetisa Maya Angelou, cria um diálogo com uma filha imaginária, projetando suas inquietações de forma quase premonitória. Na época, a ideia de ter uma criança era algo distante para a artista, como um conceito criativo a ser explorado dentro de estúdio, proposta que destaca a sensibilidade poética e verdade da cantora ao embarcarmos em Patterns In Repeat. Leia o texto completo.
#23. Mabe Fratti
Sentir Que No Sabes (2024, Unheard of Hope)
Mabe Fratti passou os últimos cinco anos pulando de um projeto para outro sem qualquer possibilidade de descanso. De registros autorais, como Pies Sobre La Tierra (2019), Será Que Ahora Podremos Entendernos (2021) e Se Ve Desde Aquí (2022), passando por obras colaborativas, caso do ainda recente Vidrio (2023), no duo Titanic, e A Time to Love, a Time to Die (2023), junto do coletivo Amor Muere, sobram trabalhos que destacam a potência criativa e permanente reinvento da cantora, compositora e violoncelista guatemalteca. Apesar da produção contínua, Fratti, que hoje reside no México e é parte importante da cena experimental do país, parece cada vez mais longe de se acomodar. Exemplo disso fica bastante evidente em Sentir Que No Sabes. Mais recente álbum de estúdio da musicista, o registro produzido em colaboração com o parceiro Hector Tosta consegue tanto ser o trabalho mais experimental e complexo da artista, quanto sua obra mais convidativa e concisa, estreitando laços com uma nova parcela de ouvintes. Leia o texto completo.
#22. Tyler, The Creator
Chromakopia (2024, Columbia)
Há muito acompanhar o trabalho de Tyler, The Creator deixou de ser uma simples experiência de escuta para se transformar em um verdadeiro evento. Para além do repertório entregue a cada novo registro de estúdio, o rapper norte-americano tem se especializado na produção de obras cada vez mais complexas e abrangentes, conceito que vai da direção de arte à concepção do figurino, da escolha dos colaboradores à seleção das temáticas, direcionamento que ganha nova interpretação em Chromakopia. Oitavo e mais recente trabalho de estúdio do rapper, o sucessor de Call Me If You Get Lost (2021) mostra Tyler em sua melhor forma. Do momento em que tem início, em St. Chroma, preciosa colaboração com o cantor Daniel Caesar, tudo se projeta de maneira totalmente grandiosa. São composições que resgatam o estilo de produção monumental adotado por Kanye West nos anos 2000, porém, preservando a identidade criativa e lirismo cada vez mais elaborado do artista que agora reflete sobre as mudanças na vida adulta. Leia o texto completo.
#21. Julia Holter
Something In The Room She Moves (2024, Domino)
Something In The Room She Moves não é uma obra de rápida interpretação ou para quem busca por respostas fáceis. E não poderia ser diferente. A própria Julia Holter levou mais de dois anos até organizar suas ideias que pareciam espalhadas em meio a uma série de transformações pessoais, como o nascimento da primeira filha durante a pandemia de Covid-19, a perda da voz em decorrência da mesma doença, o falecimento dos avós e a morte precoce de um sobrinho de 18 anos, a quem dedica o trabalho. É como se Holter, mesmo dona de um vasto repertório que se acumula desde a segunda metade dos anos 2000, pela primeira vez tivesse que repensar a própria obra e a forma como se articula dentro de estúdio. Quinta faixa do álbum, Meyou talvez seja a composição mais representativa desse processo. Utilizando da voz como única ferramenta de trabalho, a artista cria um diálogo existencial em que se divide em duas. São harmonias de vozes que vão da calmaria ao caos, tensionando a experiência do ouvinte e rumos do disco. Leia o texto completo.
#20. Blood Incantation
Absloute Elsewhere (2024, Century Media)
Há dois anos, quando os membros do Blood Incantation deram vida ao atmosférico Timewave Zero (2022), havia ficado bastante claro o interesse do grupo formado por Isaac Faulk, Paul Riedl, Morris Kolontyrsky e Jeff Barrett em investir na formação de um repertório marcado pelo uso de temas cósmicos. No lugar das vozes guturais, paredões de guitarras e batidas truculentas, o quarteto de Denver, no Colorado, encontrou em sintetizadores empoeirados da década de 1970 a passagem para um novo e curioso território criativo. Vem justamente desse olhar atento para o passado o estímulo para o mais recente trabalho de estúdio do Blood Incantation, Absolute Elsewhere. Conceitualmente dividido em duas metades que, por sua vez, se fragmentam em três atos específicos, o registro destaca a capacidade do quarteto em equilibrar a força avassaladora do death metal aprimorado em Hidden History of the Human Race (2019) com um conjunto de temas instrumentais que conduzem o ouvinte para campos remotos do espaço sideral. Leia o texto completo.
#19. Los Campesinos!
All Hell (2024, Heart Swells)
Em um cenário dominado por bandas cada vez mais enxutas e uma predominância de artistas em carreira solo, os britânicos do Los Campesinos! são claramente um ponto fora da curva. Mais do que isso, o coletivo formado em 2006, na cidade de Cardiff, no País de Gales, segue tão relevante e interessante hoje quanto na época de sua fundação. Exemplo mais representativo disso pode ser percebido no poderoso repertório de All Hell, primeiro trabalho de inéditas do grupo galês após um intervalo de sete anos. Sequência ao material entregue em Sick Scenes (2017), All Hell concentra todos os elementos que fizeram do grupo de Cardiff um dos mais importantes da segunda metade dos anos 2000. De canções feitas para serem cantadas a plenos pulmões, passando pela potência das guitarras e batidas ascendentes, mais uma vez o grupo formado por Gareth David Paisey, Neil Turner, Tom Bromley, Kim Paisey, Jason Adelinia, Rob Taylor e Matt Fidler consegue equilibrar a potência das apresentações ao vivo com o capricho de estúdio. Leia o texto completo.
#18. Helado Negro
Phasor (2024, 4AD)
Roberto Carlos Lange vive hoje sua melhor fase. Em um contínuo processo de amadurecimento criativo que teve início com o lançamento de Private Energy (2016), passa pelo refinamento de This Is How You Smile (2019) e segue até Far In (2021), cada novo trabalho de estúdio destaca o sempre meticuloso processo de criação do músico que encontrou na identidade de Helado Negro o estímulo para um repertório marcado pela sensibilidade dos temas. São composições reducionistas, porém, profundamente complexas, como um indicativo do caráter processual e uso de pequenos acréscimos que orientam os registros do compositor. Mais recente trabalho de estúdio do músico, Phasor funciona como uma boa representação desse resultado. Concebido após uma viagem de Lange à Universidade de Illinois, onde foi apresentado ao sintetizador Sal-Mar, uma complexa máquina desenvolvida pelo compositor Salvatore Martirano para criar um número infinito de sequências sonoras, o álbum de nove faixas é uma desses registros que se revelam ao público em pequenas doses, sem pressa. Ainda que a introdutória LFO (Lupe Finds Oliveros) evidencie uma urgência poucas vezes antes vista na obra de Helado Negro, cada movimento do instrumentista abre passagem para um universo de novas possibilidades, diferentes ritmos e curiosas mudanças de percurso. Leia o texto completo.
#17. The Smile
Wall Of Eyes (2024, XL Recordings)
A Light For Attracting Attention (2022) ainda nem havia esfriado quando Thom Yorke e Jonny Greenwood, também membros do Radiohead, e o baterista Tom Skinner, ex-integrante do Sons of Kemet, começaram a trabalhar no segundo álbum de estúdio do paralelo The Smile. Mesmo as apresentações da banda, como a intensa passagem pelo festival de jazz de Montreux, que resultou em um excelente registro ao vivo, davam a entender que um novo material de inéditas estava por vir. Entretanto, contra toda essa aparente euforia, o que se percebe em Wall Of Eyes é uma obra que segue em uma medida particular de tempo. Não por acaso, em junho do último ano, quando a banda começou a preparar o terreno para um provável retorno, foi a extensa Bending Hectic, com mais de oito minutos de duração, a composição escolhida para inaugurar essa nova fase do trio. Mais do que uma escolha aleatória, a faixa, completa pela produção de Sam Petts-Davies e as cordas da London Contemporary Orchestra, com quem os membros do Radiohead têm colaborado desde A Moon Shaped Pool (2016), sintetiza parte dos temas que orientam a formação do disco. São versos que tratam sobre a relação com a morte e as experiências humanas, porém, partindo de uma abordagem próxima do onírico. Um misto de realidade e ilusão que vai da poesia aos instrumentos. Leia o texto completo.
#16. Friko
Where We’ve Been, Where We Go From Here (2024, ATO)
Oficialmente, apenas os músicos Niko Kapetan (voz, guitarra) e Bailey Minzenberger (bateria) integram o Friko, porém, a sensação que temos ao ouvir Where We’ve Been, Where We Go From Here, primeiro álbum de estúdio da dupla de Chicago, é a de que estamos de posse de uma obra maior, feita a muitas mãos. Parte desse resultado vem do natural surgimento de colaboradores ocasionais, entre eles o produtor Scott Tallarida e um reduzido time responsável pelos arranjos de cordas. Entretanto, são os ecos de veteranos da cena independente do dos anos 1990 e 2000 que realmente concedem força ao material. Arcade Fire, Broken Social Scene, Built To Spill, Clap Your Hands Say Yeah e Neutral Milk Hotel são apenas alguns dos nomes que instantaneamente vem à cabeça tão logo o trabalho tem início. A própria imagem de capa, uma criação artesanal de Carolina Chauffe, pode ser facilmente interpretada como uma combinação entre as artes de Fevers and Mirros (2000) e I’m Wide Awake, It’s Morning (2005) do Bright Eyes. É como se décadas de referências, diferentes estilos e estéticas fossem reorganizadas dentro de um mesmo repertório. Leia o texto completo.
#15. Nala Sinephro
Endlessness (2024, Warp)
A jornada transcendental iniciada por Nala Sinephro em Space 1.8 (2021) está longe de chegar ao fim. Três anos após o lançamento do primeiro trabalho de estúdio, a multi-instrumentista belga radicada em Londres está de volta com mais um delicado álbum de inéditas, Endlessness. São dez composições em que a musicista de Bruxelas e um seleto time de colaboradores se aventuram com esmero na montagem de um repertório marcado pelo uso de emanações cósmicas e sempre meticulosas paisagens instrumentais. Inaugurado por Continuum 1, o trabalho, que tem produção assinada pela própria instrumentista, diz a que veio logo nos primeiros minutos. Enquanto Sinephro detalha camadas de sintetizadores, a bateria sutil de Morgan Simpson, do Black Midi, concede ritmo à canção que ainda se completa pelo saxofone de James Mollison, um dos membros do Ezra Collective. Não se trata de algo urgente, mas muito mais imediato em relação ao disco anterior, conceito que segue até a composição seguinte, Continuum 2, ainda mais direta. Leia o texto completo.
#14. Mannequin Pussy
I Got Heaven (2024, Epitaph)
I Got Heaven é um desses trabalhos que se encerram tão rápido quanto se iniciam, mas não antes de impactar profundamente o ouvinte. Inaugurado pela potente faixa-título, o registro logo estabelece parte das regras e elementos que serão incorporados pelo Mannequin Pussy, grupo hoje formado pelos músicos Marisa Dabice, Kaleen Reading, Colins Regisford e Maxine Steen. São vozes berradas e guitarras ruidosas, porém, marcadas pelo uso de melodias contrastantes que levam o material para outras direções. Exemplo disso fica bastante evidente em Loud Bark, composição que se revela aos poucos, isolando cada instrumento de forma a destacar a produção meticulosa de John Congleton, mas que explode nos minutos finais, como uma representação da entrega de Dabice. Mesmo quando utiliza de uma abordagem acessível, como no som contido de Nothing Like, há sempre um elemento de ruptura que bagunça a ordem do disco e destaca a forte carga emocional da vocalista. “Se é isso que você quer, eu te daria a minha vida“, confessa. Leia o texto completo.
#13. Beth Gibbons
Lives Outgrown (2024, Domino)
Seja como integrante do Portishead ou nas raríssimas empreitadas em carreira solo, Beth Gibbons sempre pareceu seguir em uma medida própria de tempo. São aparições pontuais, a cada nova década, como no colaborativo Out of Season (2002), junto do multi-instrumentista Paul Webb, ou com a Orquestra Sinfônica da Rádio Nacional Polonesa, com quem trabalhou no espetáculo ao vivo Henryk Górecki: Symphony No. 3 (Symphony of Sorrowful Songs), sob a regência do maestro e compositor polonês Krzysztof Penderecki. Vem justamente dessa ausência de pressa o estímulo para o delicado repertório de Lives Outgrown. Concebido em parceria com o baterista Lee Harris, ex-integrante do Talk Talk, em um intervalo de mais de uma década, e finalizado com o suporte do produtor James Ford, o registro de dez faixas chama a atenção pela forma como cada componente se revela em pequenas doses. São pinceladas instrumentais e poéticas que contrastam com a urgência explícita na temática central do trabalho: a relação com a morte. Leia o texto completo.
#12. Mk.gee
Two Star & The Dream Police( 2024, R&R)
A guitarra solitária que vai de Prince a Jai Paul, as vozes sempre carregadas de efeito, como se saídas de algum trabalho de Bon Iver, a estranha interpretação sobre o R&B, como um diálogo torto com a obra de Frank Ocean. Em Two Star & The Dream Police, primeiro álbum de estúdio de Michael Todd Gordon, o Mk.gee, as referências são bastante explícitas, mas isso não diminui em nada o fascínio sobre a criação do cantor, compositor, multi-instrumentista e produtor norte-americano. São retalhos poéticos e instrumentais que destacam o esforço do artista de Nova Jersey em sutilmente perverter a música pop. Marcado pela fragmentação dos elementos, direcionamento também explícito nos registros anteriores do músico, caso do EP Pronounced McGee (2018) e a mixtape A Museum of Contradiction (2020), Two Star & The Dream Police é uma obra que se revela ao público em pequenas doses, sem pressa. Canções formadas a partir de camadas de guitarras, batidas sempre econômicas, sintetizadores enevoados e inserções vocais que, mesmo distorcidas, em nenhum momento ocultam o domínio técnico do artista. Exemplo disso pode ser percebido na curtinha Rylee & I, composição que soa como uma demo perdida de Michael Jackson. Leia o texto completo.
#11. Waxahatchee
Tigers Blood ( 2024, Anti-)
Katie Crutchfield é um desses raros casos de uma compositora que marcou um período de tempo bastante específico com Cerulean Salt (2013), primeiro lançamento de destaque como Waxahatchee, passou por um lento processo de transformação que envolve registros como Ivy Tripp (2015) e Out in the Storm (2017), até ser reapresentada à uma parcela ainda maior do público com a chegada de Saint Cloud (2020). É como se diferentes vidas e sempre contrastantes propostas criativas habitassem o interior de uma mesma pessoa. Não por acaso, ao mergulharmos nas canções de Tigers Blood, sexto e mais recente álbum de estúdio de Waxahatchee, todos esses componentes acumulados ao longo da última década de carreira se projetam com a mesma intensidade. É como um resumo involuntário de tudo aquilo que define a obra de Crutchfield até aqui. Um misto de passado e presente que invariavelmente esbarra em pequenas repetições estilísticas, porém, estabelece na construção dos versos um necessário elemento de maior transformação. Leia o texto completo.
#10. Kim Gordon
The Collective ( 2024, Matador)
Aos 70 anos, Kim Gordon segue tão provocativa e consciente do cenário que a cerca quanto em início de carreira. Primeiro trabalho de estúdio da cantora e compositora norte-americana após um intervalo de cinco anos, The Collective nasce como um acumulo das experiências e observações da artista sobre a nossa sociedade. Canções que partem da exposição excessiva nas redes sociais para jogar luz sobre outros comportamentos meticulosamente interpretados e dissolvidos em camadas de distorção. Mais uma vez acompanhada pelo produtor Justin Raisen, com quem havia colaborado no disco anterior, No Home Record (2019), a artista estabelece um ponto de equilíbrio entre o experimentalismo proposto há mais de quatro décadas, quando deu vida aos primeiros registros do Sonic Youth, com o que se entende hoje como música pop. Das batidas sujas que bebem do mesmo soundcloud rap de Playboi Carti e Lil Uzi Vert, passando pelo uso da vozes que apontam diretamente para Charli XCX, parceira de longa data de Raisen, Gordon parece dançar pelo tempo enquanto aporta em temáticas e conceitos bastante específicos. Leia o texto completo.
#9. Nilüfer Yanya
My Method Actor (2024, Ninja Tune)
Para a produção do terceiro álbum de inéditas da carreira, My Method Actor, Nilüfer Yanya decidiu seguir uma proposta diferente. Em estúdio, apenas ela e o produtor Will Archer, com quem tem colaborado desde a estreia com Miss Universe (2019), tiveram acesso ao material que foi gestado em conjunto pelos dois artistas. O resultado desse processo está na entrega de uma obra reducionista em se tratando dos arranjos, porém imensa na forma como a cantora britânica explora os próprios sentimentos. Conceitualmente inspirado pelos momentos de transição e diferentes identidades que adotamos ao longo da vida, My Method Actor ganha uma camada extra de profundidade ao detalhar o esforço de Yanya em confrontar a personagem assumida nos palcos e aquela interpretada na vida real. “Espere, estou indo para suas / Complicações / Suas mutações”, canta em Mutations. A própria imagem de capa, com a musicista se encarando no espelho, funciona como uma boa representação desse direcionamento temático do material. Leia o texto completo.
#8. Mount Eerie
Night Palace (2024, P. W. Elverum & Sun Ltd.)
Você nunca sabe o que esperar de Phil Elverum, mas uma coisa é certa: sempre será surpreendido. Novo trabalho de estúdio do cantor, compositor e produtor norte-americano sob a alcunha de Mount Eerie, Night Palace é um bom exemplo disso. São 26 composições que se espalham em um intervalo de 80 minutos de duração, destacando a capacidade do multi-instrumentista em transformar diferentes cenas, acontecimentos e experiências essencialmente simples do cotidiano em algo grandioso. A diferença em relação a outros trabalhos produzidos pelo artista, como o colaborativo Lost Wisdom Pt. 2 (2019), desenvolvido em parceria com a cantora e compositora Julie Doiron, está na ferocidade de Elverum. Como indicado logo na introdutória faixa-título, são composições que posicionam as guitarras em primeiro plano, destacando o uso ruidoso dos arranjos que avançam sobre o ouvinte. Da voz berrada em Swallowed Alive à completa fluidez de I Saw Another Bird, tudo parece pensado para potencializar a obra de Elverum. Leia o texto completo.
#7. Adrianne Lenker
Bright Future (2024, 4AD)
Existem artistas que, muito embora conhecidos pelo forte aspecto confessional de suas criações, como Phil Elverum, Sufjan Stevens e Thom Yorke, levaram uma vida inteira para se expor por completo em estúdio. Não é o caso de Adrianne Lenker. Desde que foi oficialmente apresentada ao público, durante a entrega de Hours Were the Birds (2014), a cantora e compositora norte-americana tem feito das próprias experiências sentimentais, muitas delas incorporadas de forma bastante expositiva, uma inesgotável fonte de inspiração. Sexto e mais recente lançamento em carreira solo da também integrante do Big Thief, Bright Future talvez seja o exemplo mais representativo disso. Marcado pelo reducionismo dos arranjos, o trabalho cresce na profunda sensibilidade dos versos e capacidade da musicista em comover por meio de cenas e acontecimentos simples do cotidiano. A própria canção de abertura, Real House, centrada em memórias da infâncias e momentos em que viu a própria mãe chorar, sintetiza de forma eficiente essa vulnerabilidade. Leia o texto completo.
#6. MJ Lenderman
Manning Fireworks (2024, Anti-)
MJ Lenderman é um verdadeiro contador de histórias. Sempre acompanhado de sua guitarra, o cantor e compositor norte-americano passeia em meio a momentos de intensa desilusão, personagens ambíguos e instantes de maior fragilidade emocional, mas que nunca perdem o senso humor. São composições que evocam notórios sofredores, como Neil Young, Jason Molina e David Berman, porém mantendo sempre um sorriso no canto da boca, como uma assinatura particular e irônica que caracteriza a obra de Lenderman. Quarto e mais recente álbum de estúdio do guitarrista de Asheville em carreira solo, Manning Fireworks talvez seja o exemplo mais representativo disso. Sequência ao material apresentado em Boat Songs (2022), o trabalho segue de onde o músico parou há dois anos, porém substitui as observações sobre o cenário ao redor para mergulhar em faixas cada vez mais pessoais. É como se Lenderman, pela primeira vez, se revelasse por completo para o ouvinte, o que não diminui o tom cômico do disco de nove canções. Leia o texto completo.
#5. Magdalena Bay
Imaginal Disk (2024, Mom + Pop)
“O que significa ser humano?“. Essa é a pergunta que Mica Tenenbaum e Matthew Lewin buscam responder no segundo e mais recente trabalho de estúdio do Magdalena Bay, Imaginal Disk. Centrado na história de True, uma extraterrestre que teve seus implantes cerebrais rejeitados durante um procedimento de atualização, o registro parte de uma abordagem típica de um exemplar de ficção científica, porém, estreita laços com o ouvinte ao estabelecer na força dos sentimentos o estímulo para a formação de cada uma das composições. Sequência ao material entregue pela dupla em Mercurial World (2021), Imaginal Disk se aprofunda ainda mais em questões emocionais, momentos de vulnerabilidade e crises existenciais, como uma extrapolação poética dos conflitos internos dos dois artistas. “Sem amor, estou sem mim“, confessa Tenenbaum logo nos minutos iniciais do disco, na crescente Killing Time, composição que sintetiza parte dos temas que serão explorados pela banda norte-americana nos mais de 50 minutos que embalam a experiência do ouvinte. Leia o texto completo.
#4. Vampire Weekend
Only God Was Above Us (2024, Columbia)
Poucas vezes antes um trabalho do Vampire Weekend pareceu tão direto e ao mesmo tempo complexo quanto Only God Was Above Us. Contraponto ao repertório entregue em Father Of The Bride(2019), registro que marca a adaptação e busca de Ezra Koenig por diferentes possibilidades após a saída do principal parceiro criativo, o multi-instrumentista Rostam Batmanglij, o registro de dez canções encanta ao assumir um percurso torto e autorreferencial, porém, totalmente livre de possíveis excessos. Declaradamente inspirado pela cidade de Nova Iorque, seus personagens e acontecimentos mundanos ao longo das últimas décadas do século XX, Only God Was Above Us se apresenta como uma pitoresca colcha de retalhos e crônicas musicadas, contudo, estabelece em simbologias políticas um importante diálogo com o presente. “Inverídico, cruel e antinatural / Como o cruel, com o tempo, se torna clássico“, canta Koenig em Classical, composição que trata sobre a naturalização da violência dentro da sociedade norte-americana em uma abordagem que atravessa diferentes épocas, incontáveis referências e retalhos de fatos históricos. Leia o texto completo.
#3. Jessica Pratt
Here In The Pitch (2024, Mexican Summer)
Em Here In the Pitch, tão importante quanto os arranjos e vozes trabalhados por Jessica Pratt, são os silêncios. Bolsões estrategicamente posicionados que acabam revelando os estalos dos instrumentos, criam pequenos respiros e concedem ao quarto álbum de estúdio da cantora e compositora norte-americana uma atmosfera única. Um espaço empoeirado que aponta para a década de 1960, como um olhar para o passado, porém, mantendo os dois pés firmes no presente e suas inquietações coletivas. “E ultimamente tenho estado insegura / As chances de uma vida inteira podem esconder seus truques na minha manga / Costumavam ser maiores, agora eu vejo“, detalha na introdutória Life Is, canção que destaca a sensibilidade poética e pequenas angústias que há mais de uma década embalam o trabalho da cantora. São composições talvez reducionistas em excesso, porém, dotadas de uma grandeza incomensurável, como uma acumulo natural dos tormentos, memórias e experiências dolorosas que atravessam a vida de Pratt. Leia o texto completo.
#2. Cindy Lee
Diamond Jubilee (2024, Realistik)
Diamond Jubilee é uma obra sobre como construímos significados e trabalhamos nossas recordações a partir de experiências não necessariamente vivenciadas. Mais recente álbum de estúdio do artista canadense Patrick Flegel sob a alcunha de Cindy Lee, o registro de 32 faixas e mais de duas horas de duração é uma viagem em direção ao passado e ao som produzido nos anos 1960, porém, partindo da interpretação nostálgica de um adulto sobre suas memórias empoeiradas e sensações na década de 1990. “Sim, nasci em 1985, então eu era uma criança nos anos 1990. Eu simplesmente adorava rádio. Havia uma estação chamada 66 CFR, em Calgary, que significa Calgary Flames Radio. Eles traziam músicas antigas durante o dia e depois jogos à noite. Eu deixava isso ligado a maior parte do tempo“, revelou Flegel em uma recente entrevista. Vem justamente dessa olhar atento para o passado, emulando o estilo de composição, o posicionamento das vozes e arranjos, o estímulo para grande parte das canções que abastecem o extenso repertório montado pelo músico. Composições que parecem sintonizadas em uma antiga estação de rádio, porém, corrompidas pelo acréscimo de instrumentos e técnicas de captação que apontam para o presente. Leia o texto completo.
#1. Charli XCX
Brat (2024, Asylum / Atlantic)
Noites de excessos, carros em alta velocidade e relacionamentos complicados. Em mais de uma década de carreira, Charli XCX sempre orbitou os mesmos temas, porém, nunca fez disso o estímulo para uma obra repetitiva. Da fragmentação do pop oitentista em True Romance (2013) ao diálogo com o rock em Sucker (2014), das experimentações em Vroom Vroom (2016), POP 2 (2017) e How I’m Feeling Now (2020) à busca por um som cada vez mais acessível em Charli (2019) e Crash (2022), sobram momentos em que a cantora, compositora e produtora britânica soube como tensionar os limites da própria criação dentro de estúdio. Entretanto, mesmo nesse espaço de contínua ruptura e busca por novas possibilidades, a artista original de Cambridge, na Inglaterra, parece ir ainda mais longe com o lançamento de Brat. Ponto de consolidação estético, sonoro e lírico, o registro inspirado pelas raves que a cantora frequentou ilegalmente durante a adolescência, mais uma vez leva o trabalho de Charli para outras direções. Canções que preservam a relação com o pop, porém, se entregam de vez à força das batidas e produção eletrônica. Leia o texto completo.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.