Charme Chulo
Indie/Post-Punk/Alternative
http://www.myspace.com/charmechulo
O que aconteceria se o The Smiths resolvesse tocar viola caipira? Ou se Almir Sater se interessasse pelo rock? O resultado sem sombra de dúvidas seria o Charme Chulo. Aquela levada de guitarras típica dos anos 80, instrumentação semi-acústica, letras que falam sobre “polacas azedas”, Mazzaropi, amores de boteco e agregados da cultura popular se convergem nas composições dessa banda curitibana, que desde a estreia com o EP Você sabe muito bem onde eu estou em 2004 tem surpreendido a público e crítica com suas composições harmoniosas.
Nas mãos do quarteto Igor Filus (voz), Luciano Assumpção (baixo), Rony Carvalheiro (bateria) e Leandro Delmonico (guitarra e viola caipira) foi criado em 2007 o primeiro disco inteiro da banda, o que imediatamente os alavancou como uma das apostas para o novo rock brasileiro daquele e dos próximos anos. Lançado de maneira independente e contando com um projeto de incentivo cultural local, o álbum vem com doze canções, sendo algumas faixas reeditadas do primeiro EP.O álbum te fisga logo na primeira faixa, o hit absoluto Mazzaropi Incriminado, em que o post-punk vem embebido de guitarras caipiras, acréscimos discretos de sanfona e uma letra que exalta o povo brasileiro o suas dificuldades de maneira bem humorada.
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Já a sequência A caminho das luzes essa noite vem menos carregada da sonoridade regionalista, embora a viola ainda esteja lá. Se até aí você não ceder aos encantos da banda é Polaca Azeda que vai te derrubar. O solo de viola caipira no começo, a letra cômica, a bateria quase militar de Carvalheiro e Filus desafinando aqui e ali, o que só aumenta o charme da canção. As palmas no meio da faixa e o ritmo festivo dão um “q” de Kings of Leon dos primeiros discos faz de longe com que ela seja a melhor composição do álbum.
Em Piada Cruela história tragicômica de um amor proibido é o que dá vida à canção, que com seus toques de melancolia e a voz de Margareth Makiolke traz uma beleza incomparável ao disco. Se lançada no início dos anos 90 Amor de Boteco competiria de igual para igual com Leandro e Leonardo, Chitãozinho e Xororó ou qualquer dupla sertaneja do período tamanha a semelhança, tanto na letra como na sonoridade, com as típicas canções do período. Não deixa a vida te levar dá uma modernizada no som e traz uma letra positivista e reflexiva para dentro do álbum, enquanto Apaixonante na Tristeza retoma o lado melancólico do trabalho que segue ainda com a belíssima Romaria dos Desvalidos.
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Falando sobre solidão em Solito a Reinar, o grupo entrega uma das letras mais divertidas do disco. A busca pela sonoridade sulista se firma em Intriga de Cinco Pessoas, em que guitarras totalmente distorcidas se entrelaçam com solos de sanfonas, enquanto o vocal vem entoado com forte sotaque paranaense.
Barretos e Geada no seu coração finalizam profundamente amarradas ao toque regional, embora não tenham a mesma energia das composições iniciais. A excelência o álbum levaria o quarteto a se apresentar fora do estado de origem e garantiria ainda que dois anos depois o grupo voltasse com Nova Onda Caipira (2009). A mescla de elementos tão distantes como a música sertaneja de raiz e o rock em nenhum momento soa incoerente dentro do álbum, pelo contrário é como se toda essa pluralidade de sons e texturas fosse desde sempre assim. Como se o rock sempre fosse tocado por uma viola, e como as a música sertaneja sempre viesse carregada de guitarras e solos distorcidos.
Charme Chulo (2007)
Nota: 8.5
Para quem gosta de: Banda Gentileza, Do Amor e Nevilton
Ouça: Polaca Azeda
Por: Cleber Facchi
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.