Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 17/02/2011

Pullovers
Brazilian/Indie Rock/Alternative
http://www.myspace.com/pullovers

Quem acompanhava o trabalho dos paulistanos do Pullovers desde que a banda teve início em 1999 deve ter tido uma surpresa enorme ao ouvir Tudo que eu sempre sonhei (2009), quarto trabalho de estúdio do grupo encabeçado pelo vocalista Luiz Venâncio. Com a banda completando dez anos de carreira, o novo álbum não apenas trazia uma mudança radical na sonoridade do grupo, como se consolidava como um dos maiores (se não o maior) disco daquele ano. As letras em inglês davam lugar a uma poesia em língua pátria com competência de quem há tempos se aventurava por esse terreno.

O grupo formado por Luiz Venâncio (voz/guitarra), Rodrigo Lorenzetti (teclados), Bruno Serroni (baixo), Angelo Lorenzetti (violão), Gustavo Beber (bateria) e Habacuque Lima (guitarra) entrega o ouro já na primeira faixa do álbum, Tudo que eu sempre sonhei, canção que dá nome ao disco. A letra angustiante perpassa a vida de um jovem adulto e suas desilusões existenciais, além de problemas que envolvem relacionamentos, emprego e a obrigação de crescer. O uso de violoncelos ao fundo culmina ainda mais para a forma melancólica atribuída à canção.

A dinâmica dos álbuns anteriores do grupo, como Rinding Lessons (2002) e Carniça (2005), esse com participação da musa Geanine Marques (atual Stop Play Moon), parece simplesmente esquecida nesse quarto trabalho. A sonoridade “família” de O Amor Verdadeiro Não tem Vista para o Mar em nenhum momento remete a canções como High Heels I, em que a instrumentação da banda parecia voltada muito mais ao indie rock dos anos 90. O ritmo mais agradável das musicas permite que delicadezas como 1932 (C.P.) possam ganhar forma, mostrando que o aspecto relaxante das atuais composições do grupo não apenas mostram uma nova faceta dos Pullovers, como entreguem uma banda ainda melhor do que a que figurava nos lançamentos anteriores.

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Talvez o maior acerto do álbum esteja no fato de Venâncio não reduzir suas criações a faixas pop comercialmente descartáveis. As canções que vem despejando pequenas histórias em nossos ouvidos fluem numa naturalidade poucas vezes encontrada no rock moderno, raramente se utilizam de refrões e se apoiam na construção de situações corriqueiras e reais. Impossível não se motivar por faixas como Lição de Casa, Semana ou a futebolística e enérgica Futebol de Óculos.

Inegavelmente a tristeza se mantém estabilizada dentro desse disco. Começa com a faixa de abertura, vem inserida quase de maneira discreta na maioria das outras canções, explode com Quem me dera houvesse Trem, chega com O que dará o Salgueiro e finaliza na letra de Tchau, mesmo com o ritmo dessa expresso de maneira meio circense e não tão melancólica.

Tudo que eu sempre sonhei é um trabalho que funciona com um frescor e ineditismo que faz o Pullovers não parecer uma banda veterana. Não apenas a quebra nas composições, que agora são em português, mas tudo sonoridade, as letras, o estilo dos músicos e os próprios integrantes da banda parecem de maneira diferente.  Algumas mudanças dentro do cenário musical nem sempre são tão interessantes ou funcionam de maneira coerente. O mesmo não pode ser dito dessa nova fase do Pullovers.


Tudo que eu sempre sonhei (2009)

Nota: 9.2
Para quem gosta de: Los Hermanos, Astromato e Apanhador Só
Ouça: Marcelo ou eu traí o rock

Por: Cleber Facchi

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.