Resenha: “Agosto”, Arthur Melo

/ Por: Cleber Facchi 03/04/2017

Artista: Arthur Melo
Gênero: Indie, Folk, singer-songwriter
Acesse: https://arthurmelo.bandcamp.com/

 

O dedilhado tímido do violão e os versos lentamente assentam no interior do ouvido, preguiçosos: “Eu sigo devagar”. Espécie de complemento ao colorido melódico que inaugura o trabalho do cantor e compositor mineiro Arthur Melo, Café, canção que sucede a homônima faixa de abertura do EP Agosto (2017, La Femme Qui Roule), deliciosamente se espalha como um fio condutor para o registro de temas acústicos e versos confessionais assinados pelo músico de Belo Horizonte.

De essência matutina, vagaroso, o trabalho de apenas seis faixas parece desenvolvido para cercar e confortar o ouvinte. Um registro precioso, sorridente e entristecido na mesma medida. “Entra / Mas entra devagar / Não repara na bagunça / Eu não arrumei da última vez que alguém esteve aqui / No final, ele sempre acaba bagunçado”, canta em Coração, música que utiliza da metáfora de um espaço físico (o quarto) para retratar o sofrimento e sentimentos confusos do eu lírico.

O mesmo cuidado se revela na propositada repetição dos versos em Já Deu, quarta faixa do disco. “Acho que deu o que tinha que dar / Podemos ser somente amigos / Acho que deu o que tinha que dar / Eu me precipitei em te falar”, canta Melo em uma espiral melancólico, sensível. Encontros e desencontros de um casal, conceito que conversa diretamente com a faixa de abertura do disco, também sustentada pela imposição cíclica de um mesmo verso – “Eu to por um fio”.

Agridoce, Já Deu ainda serve como um poderoso indicativo da complexa arquitetura sonora do disco. Uma lenta sobreposição dos elementos que começa no jogo entre voz e violão e termina na formação de um pop orquestral, denso, completo pela delicada inserção dos arranjos de cordas. Um cuidado explícito logo nos primeiros minutos do disco, efeito da produção atenta do músico Leonardo Marques (Transmissor, Congo Congo), parceiro de Melo durante toda a construção do álbum.

Em Mantra, quinta faixa do trabalho, um espaço aberto ao experimento. Entre versos ecoados, guitarras e batidas precisas, Melo mergulha em um terreno psicodélico. Uma curva rápida em relação ao conceito intimista apresentado nos primeiros minutos do disco. Transformação explícita na forma como os versos se espalham de forma radiante, dialogando de forma natural com o som que corre ao fundo da canção – “Tem que saber correr pra fugir / Não adianta só ir / Onde o vento te levar”.

Com Vila Velha como faixa de encerramento do disco, Melo regressa ao mesmo ambiente particular apresentado logo nas primeiras canções. “Vem me faz rir outra vez / Vem vamos virar a noite juntos / Vamos falar do que nos interessa / Vamos morrer de rir”, implora enquanto a instrumentação se espalha detalhista e claustrofóbica, reforçando a beleza dos sentimentos e confissões lançadas pelo músico desde o primeiro verso de Agosto.

 

Agosto (2017, La Femme Qui Roule)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Cícero, Castello Branco e Rubel
Ouça: Café, Agosto e Já Deu

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.