Resenha: “Ape in Pink Marble”, Devendra Banhart

/ Por: Cleber Facchi 26/09/2016

Artista: Devendra Banhart
Gênero: Folk, Indie, Alternativo
Acesse: http://www.devendrabanhart.com/

 

Poucas vezes antes Devendra Banhart pareceu tão acessível, íntimo do grande público, quanto nas canções de Mala (2013). Oitavo álbum de estúdio do cantor e compositor norte-americano, o trabalho de melodias doces e versos essencialmente românticos parecia indicar a busca do músico por um novo universo de possibilidades. Uma fuga declarada da atmosfera “hippie” de obras como Rejoicing in the Hands (2004) e passagem para um ambiente cada vez mais pop, por vezes comercial.

Nono registro de inéditas do cantor, Ape in Pink Marble (2016, Nonesuch) segue exatamente de onde Banhart parou há três anos. Mergulhado em uma atmosfera de sons enevoados, por vezes minimalistas, o cantor explora com leveza e plena coerência o uso da própria voz, costurando uma sequência de versos marcados pela saudade (Middle Names), calorosas confissões românticas (Souvenirs) e temas consumidos de forma explícita pela melancolia dos sentimentos (Saturday Night).

Discípulo confesso de Caetano Veloso, Banhart faz de Ape in Pink Marble um novo e precioso diálogo com a música brasileira. Acompanhado de perto pelos parceiros de produção Noah Georgeson (The Strokes, Joanna Newsom) e Josiah Steinbrick (Charlotte Gainsbourg, Rodrigo Amarante), o músico norte-americano delicadamente estreita a relação com a Bossa Nova, adaptando arranjos de violão (Good Time Charlie) e vozes sussurradas (Linda) típicos da obra de João Gilberto.

Em Theme for a Taiwanese Woman in Lime Green, sexta faixa do disco, uma perfeita representação do fascínio do músico pelo trabalho de gigantes da MPB. Enquanto um delicado tecido romântico cobre toda a sequência de versos lançados pelo cantor – “I wanna love you once more / Even though we’ve never loved before” –, musicalmente, Banhart e os parceiros de estúdio exploram as nuances do samba, detalhando fragmentos instrumentais e melodias minimalistas durante a construção de toda a faixa.

A principal diferença em relação a outros trabalhos produzido pelo cantor está no delicado uso de sintetizadores durante a construção do registro. São encaixes atmosféricas, caso de Mourner’s Dancer, e temas nostálgicos, como na dolorosa Saturday Night, música que parece saída do começo dos anos 1980. Fragmentos empoeirados e versos românticos que dialogam de forma explícita com o trabalho de Ariel Pink, R. Stevie Moore e até Twin Shadow.

Sereno, Ape in Pink Marble encanta pela forma como cada composição se amarra de forma sublime na canção seguinte. Diferente de Mala, Banhart se distancia da construção de faixas independentes, musicalmente isoladas, detalhando arranjos, melodias e pinceladas acústicas que se completam de forma acolhedora e sensível durante toda a construção do trabalho. Uma obra de instantes, como se diferentes fragmentos instrumentais e sentimentos fossem agrupados sem pressa no interior do disco.

 

Ape in Pink Marble (2016, Nonesuch)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Rodrigo Amarante, Kings of Convenience e Sufjan Stevens
Ouça: Middle Names, Saturday Night e Theme for a Taiwanese Woman in Lime Green

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.