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Críticas

Ayrton Montarroyos

: "Ayrton Montarroyos"

Ano: 2017

Selo: Independente

Gênero: MPB, Bossa Nova

Para quem gosta de: Tibério Azul, Vitor Araújo

Ouça: E Então, Alto Lá, Não Me Arrependo

8.0
8.0

Resenha: “Ayrton Montarroyos”, Ayrton Montarroyos

Ano: 2017

Selo: Independente

Gênero: MPB, Bossa Nova

Para quem gosta de: Tibério Azul, Vitor Araújo

Ouça: E Então, Alto Lá, Não Me Arrependo

/ Por: Cleber Facchi 05/05/2017

Mais conhecido pela participação na quarta edição do programa The Voice Brasil, em 2015, Ayrton Montarroyos tinha tudo para seguir a trilha de outros participantes da competição. Uma boa voz, carisma e a possibilidade de abraçar uma boa parcela do público, efeito da visibilidade óbvia de qualquer apresentação em um palco sob os holofotes da Rede Globo. Vice-campeão, o pernambucano decidiu esperar e resgatar fragmentos de um projeto autoral que vem sendo desenvolvido desde 2013, quando foi convidado a participar do disco em tributo ao centenário de nascimento do músico Luiz Gonzaga (1912 – 1989).

Com direção musical do guitarrista Rovilson Pascoal e produção de Thiago Marques Luiz, o autointitulado registro de 11 faixas, estreia solo de Montarroyos, entrega ao público o que há de melhor no trabalho do cantor e compositor pernambucano. Entre versos doces, por vezes sussurrados, o jovem músico amarra quase cinco décadas de referências, indo da sutil interpretação de Diariamente, música composta em 1972 pela dupla Paulo César Gyrão e Gerson, até a presente safra da música popular brasileira.

Do time de “novatos” que integram a composição do trabalho vem a inédita Tu não sabias?, música que conta com a assinatura do conterrâneo Zé Manoel. Resgatada de Bandarra (2011), primeiro álbum em carreira solo de Tibério Azul, nasce a sutil interpretação de Vamos Ficar Sol. Surge ainda Tudo em volta de mim vira um vão, parte do álbum Molho (2014), obra do pernambucano Graxa, além, claro, da inédita e deliciosamente confessional Do Outro Lado, música composta pelo próprio Montarroyos.

Todavia, a beleza do primeiro álbum do cantor pernambucano está no precioso diálogo com o passado. É o caso de Que Sejas Bem Feliz, um verdadeiro achado dentro da extensa produção do cantor e compositor carioca Cartola, mas que acaba se transformando em um registro típico de Montarroyos. Arranjos orquestrais, ruídos e experimentações contidas que se espalham com leveza, detalhando um poderoso pano de fundo instrumental para a voz limpa do cantor.

A mesma leveza e minimalismo na composição dos arranjos acaba se refletindo na particular adaptação de Alto Lá, música eternizada na voz de Zeca Pagodinho, mas que se molda de forma a dialogar com a obra de Montarroyos. Um cuidado que encanta e cresce na forma como o músico pernambucano faz de Não Me Arrependo, música originalmente apresentada por Caetano Veloso no álbum , de 2006, uma composição autoral. Instantes de profundo sofrimento e confissão, combustível poético para o orquestral enevoado que banha a canção.

Tamanha polidez na composição do trabalho vem da forte interferência de um time seleto de colaboradores. Além Rovilson Pascoal e do já citado Zé Manoel, surgem nomes como Arthur Verocai, o produtor Diogo Strauz, Yuri Queiroga, o pianista Vitor Araújo e Vinícius Sarmento. O álbum ainda se abre para a chegada de nomes como Lula Queiroga, responsável pelos versos da inédita Portão, Tiné (Academia da Berlinda), autor da melancólica E então, e o cantor Zeca Baleiro, compositor de À porta do Edifício. De forma positiva, interferências cirúrgicas que delicadamente distorcem o título de “estreia solo”, ampliando de forma coletiva os domínios de Montarroyos.

 

 

Atualização: em uma versão anterior da resenha foi apontado o músico Rovilson Pascoal como produtor do disco. Na verdade, o trabalho foi produzido por Thiago Marques Luiz.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.