Resenha: “Blood Bitch”, Jenny Hval

/ Por: Cleber Facchi 11/10/2016

Artista: Jenny Hval
Gênero: Experimental, Alternativa, Art Pop
Acesse: http://jennyhval.com/

 

– Esse disco é sobre o que, Jenny?
– É sobre vampiros!
– Não…
– Sim… Bom, também fala sobre outras coisas…

O cômico diálogo entre a diretora Zia Anger e a musicista Annie Bielski na abertura de The Great Undressing, sexta faixa de Blood Bitch (2016, Sacred Bones Records), diz muito sobre o uso de diferentes conceitos, interpretações e referências que orientam as canções do quarto álbum de estúdio de Jenny Hval.

Sucessor dos elogiados Innocence is Kinky (2013) e Apocalypse, girl (2015), o novo registro mostra o explícito aprofundamento de Hval em relação ao uso de temas embalados pelo universo feminino. De forma atenta, a cantora e compositora norueguesa mergulha em versos que discutem feminismo, empoderamento, menstruação, repressão e sexo de forma sempre inusitada, particular, como uma leve desconstrução de tudo aquilo que outras artistas vêm desenvolvendo.

Algumas pessoas acham que é doloroso / Mas tudo o que sinto está conectado / Tudo que eu sinto está conectado … Não tenha medo / É apenas sangue”, canta em Period Piece, música que utiliza de uma série de elementos descritivos, por vezes místicos e religiosos, para explorar a temática da menstruação. Fragmentos poéticos que dialogam de forma metafórica com a proposta do “vampirismo” e toda a simbologia do sangue reforçada por Hval durante toda a construção da obra.

Entre vinhetas que utilizam de respiros assombrados (In The Red) e canções montadas a partir de sons ambientais e samples (Untamed), a cantora entrega ao público uma obra de detalhes. Por trás de cada composição, um mundo de influências literárias, temas existencialistas e conceitos extraídos de diferentes produtos midiáticos, principalmente o cinema. De clássicos do terror ao uso de pequenas referências ao filme Persona (1966), de Ingmar Bergman – homenageado na capa do disco –, faixa após faixa, Hval mergulha cada vez mais fundo dentro da própria essência.

Mesmo dentro desse cercado particular, a cantora cria pequenas brechas para a imediata comunicação com o público. Um bom exemplo disso está em Conceptual Romance. Um delírio poético em que Hval discute as incertezas, fantasias e pequenas desilusões que movem qualquer relacionamento. Em Secret Touch, um aprofundamento da mesma temática, canção que utiliza de uma linguagem quase cinematográfica, como em um filme de horror, para explorar o caos e as diferentes fases qualquer relacionamento.

Sombrio, doloroso e intimista, Blood Bitch é um trabalho que está longe de ser assimilado em uma única audição. É necessário tempo até absorver cada uma das dez músicas que preenchem o disco. Mesmo canções “menores”, como a experimental In The Red, são capazes de ocultar um universo de pequenos detalhes, vozes e influências que atravessam grande parte da discografia de Hval, detalham a opressão sofrida diariamente pelas mulheres e ainda refletem a mente caótica da cantora.

 

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Blood Bitch (2016, Sacred Bones Records)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Julia Holter, Susanna e ANOHNI
Ouça: Conceptual Romance, Female Vampire e Period Piece

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.