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Críticas

Big Thief

: "Capacity"

Ano: 2017

Selo: Saddle Creek

Gênero: Indie, Folk, Lo-Fi

Para quem gosta de: Angel Olsen, Elliott Smith e Death Cab For Cutie

Ouça: Mythological Beauty e Shark Smile

8.5
8.5

Resenha: “Capacity”, Big Thief

Ano: 2017

Selo: Saddle Creek

Gênero: Indie, Folk, Lo-Fi

Para quem gosta de: Angel Olsen, Elliott Smith e Death Cab For Cutie

Ouça: Mythological Beauty e Shark Smile

/ Por: Cleber Facchi 19/06/2017

Com o lançamento de Masterpiece (2016), Adrianne Lenker (voz, guitarras) e os parceiros de banda Buck Meek (guitarras), Max Oleartchik (baixo) e James Krivchenia (bateria) estabeleceram um pequeno conjunto de regras para as composições apresentadas pelo Big Thief. Um universo de confissões românticas, medos, tormentos existencialistas e sussurros melancólicos que assumem novo enquadramento nas canções do segundo e mais recente álbum de inéditas do grupo nova-iorquino, Capacity (2017, Saddle Creek).

Inaugurado pela sutileza instrumental e poética de Preety Things (“Essas coisas que os solitários fazem / Baby, é por isso que estou aqui para / Eu cuido e faço todo os seus / Desejos se tornarem reais“), o registro de 11 faixas ganha espaço lentamente, sem pressa. Composições afogadas pelos sentimentos de Lenker, sejam eles contidos, caso de Coma (“Você pode acordar agora, mãe / Do seu coma protetor“), ou profundamente excruciantes, vide a derradeira Black Diamonds (“Eu poderia seguir logo atrás / E desaparecer lentamente / Mas eu jamais poderei deixá-lo / Eu jamais poderei deixá-lo“).

Sufocado pelo uso de referências particulares que vão da capa aos versos, Capacity se fecha em um mundo desvendado em essência pela vocalista. “Você mente na cama durante a noite e veja as linhas dos faróis através da tela / Há uma criança dentro de você que está tentando criar uma criança em mim”, canta em Mythological Beauty. Um jogo de confissões pessoais entre dois personagens que soa como uma passagem para o ambiente intimista da cantora e compositora norte-americana. Delírios que se completam na estrutura crescente da faixa, por vezes íntima da boa fase do Death Cab For Cutie em We Have the Facts and We’re Voting Yes (2000).

Interessante perceber que mesmo montado em um ambiente próprio da poesia de Lenker, o segundo álbum de estúdio do Big Thief em nenhum momento soa inacessível. Um bom exemplo disso está na metafórica Shark Smile, segunda composição do disco. Entre versos descritivos, a faixa que lembra o Wilco dos recentes Star Wars (2015) e Schmilco (2016) reflete sobre um acidente de carro em que apenas uma das pessoas no veículo conseguiu sobreviver. Um lirismo turbulento, romântico e provocativo, ponto de partida para grande parte das canções do presente disco.

Observado em proximidade ao antecessor Masterpiece, lançado há poucos meses, Capacity encanta pela força e completa grandeza dos versos. Da faixa-título do disco (“Faça o que quiser comigo / Perdido em seu cativeiro”), passando pelas confissões românticas de Watering (“Ele cortou meu oxigênio / E meus olhos estavam regando / Ele rasgou minha pele / Como um leão”) e músicas como Objects (“O amor é irresistível / Deixando seu interior sair / Alterações cegas / Convite aberto”), Lenker se revela como uma das principais compositoras da presente década, mergulhando em alucinações dolorosas e invasivas, por vezes íntimas de veteranos como Nick Drake e Joni Mitchell.

Parte desse resultado vem da forte interferência de Andrew Sarlo como produtor do disco. Parceiro da banda desde o trabalho anterior, o músico que já trabalhou com nomes como Action Bronson e a própria Lenker em carreira solo, mantém firme a atmosfera minimalista e claustrofóbica do álbum. Uma ambientação íntima dos primeiros discos de Elliott Smith, porém, ainda próxima do som produzido pelo grupo nova-iorquino no último ano. Um palco aberto e sombrio que se abre para a execução dos poemas musicados e sentimentos que ocupam toda a extensão de Capacity.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.