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Críticas

Fernando Motta

: "Desde que o mundo é cego"

Ano: 2017

Selo: Geração Perdida

Gênero: Indie, Sadcore

Para quem gosta de: El Toro Fuerte e Jonathan Tadeu

Ouça: Impulso Pra Voar e Enxaqueca

7.6
7.6

Resenha: “Desde que o mundo é cego”, Fernando Motta

Ano: 2017

Selo: Geração Perdida

Gênero: Indie, Sadcore

Para quem gosta de: El Toro Fuerte e Jonathan Tadeu

Ouça: Impulso Pra Voar e Enxaqueca

/ Por: Cleber Facchi 29/11/2017

A voz sussurrada, dividida entre o canto torto e versos declamados. Arranjos econômicos, como fragmentos instrumentais que flutuam em meio a camadas de emanações melancólicas e propositada timidez. Produto do natural isolamento e honestidade poética de seu criador, Desde que o mundo é cego (2017, Geração Perdida), nasce como um delicado convite a explorar o que há de mais sensível no cotidiano, sentimentos e memórias empoeiradas do mineiro Fernando Motta.

Perfeita continuação do material apresentado em Andando sem olhar pra frente, de 2016, o trabalho de 10 faixas é, como indicado no próprio texto de apresentação, um registro “dos momentos em claro ou dos instantes antes de dormir, da lucidez ou das ideias que saem da espécie de delírio que passeia entre as fases do sono“. Canções que se dividem entre o sonho e a realidade, como pensamentos que varrem a mente de qualquer indivíduo ao mergulhar a cabeça no travesseiro.

Partindo desse conceito, Desde que o mundo é cego nasce como uma obra de essência angustiada, fruto das inquietações de Motta e do próprio ouvinte. “A noite na minha frente / Ninguém mais pra ver / De novo eu tenho que decidir / Tudo que foi ou vale o mundo antes de conseguir dormir“, sussurra nos versos da inaugural A Noite, música que aponta o caminho repleto de incertezas percorrido pelo cantor e compositor mineiro até a derradeira Meus Planos São Como Nuvens.

Pressiono o gelo contra a minha cara / Cansaço nunca fez gritar de dor / E quanto mais espaço houver na sala / Mais restos vão deixar no corredor“, canta em Enxaqueca, outro fragmento precioso que transita entre a intimidade de Motta e os tormentos pessoais de qualquer pessoa. Um cuidado que se reflete na semi-biográfica Futebol (Colônia de Férias), música que olha para o passado de forma universal, tocando em temas como a dificuldade de relacionamento entre os indivíduos, porém, sob a ótima crua da infância.

A mesma melancolia instável que embala os versos acaba se refletindo em toda a base instrumental do registro. Assim como no material apresentado em Andando sem olhar pra frente, Motta vai da euforia ao breve silenciamento em poucos minutos, fazendo do trabalho um curioso turbilhão criativo. Prova disso está na crescente Impulso Pra Voar, música que parece jogar de forma minuciosa com os instantes, conduzindo o ouvinte pelo interior de um verdadeiro labirinto sensorial.

Da mesma forma que o trabalho lançado no último ano, Desde que o mundo é cego cresce nas colaborações de Motta com diferentes representantes da cena mineira — todos relacionados ao selo/coletivo Geração Perdida. Estão lá nomes como João Carvalho (El Toro Fuerte e Sentidor), parceiro de longa data e responsável pela produção do álbum, a bateria de Fábio de Carvalho e até clipes dirigidos por Jonathan Tadeu. Um time seleto que auxilia Motta no exercício de explorar os próprios sentimentos e aflições.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.