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Críticas

NAO

: "For All We Know"

Ano: 2016

Selo: Little Tokyo Recordings

Gênero: R&B, Pop, Soul

Para quem gosta de: AlunaGeorge e Katy B

Ouça: Bad Blood, Trophy e Fool To Love

8.3
8.3

Resenha: “For All We Know”, NAO

Ano: 2016

Selo: Little Tokyo Recordings

Gênero: R&B, Pop, Soul

Para quem gosta de: AlunaGeorge e Katy B

Ouça: Bad Blood, Trophy e Fool To Love

/ Por: Cleber Facchi 03/08/2016

Sem pressa, Neo Jessica Joshua passou os últimos dois anos conquistando o próprio espaço dentro da presente cena britânica. Sob o título de NAO, a cantora e produtora londrina estreitou o diálogo com outros artistas locais, caso de A.K. Paul no single So Good, de 2014, e também com a dupla Disclosure em Superego, de 2015, além, claro, de apresentar ao público dois ótimos EPs, entre eles, February 15, um dos principais exemplares do pop inglês no último ano.

Com a chegada de For All We Know (2016, Little Tokyo Recordings), primeiro álbum de estúdio da cantora, todo esse lento processo de amadurecimento se manifesta na construção de uma obra essencialmente plástica, concisa. De forma autoral, NAO parece revisitar uma série de referências e obras que marcaram o R&B/Pop/Funk dos anos 1980 e 1990, encontrando no trabalho de artistas como Prince e Aaliyah a base para o rico catálogo de hits que cresce no interior da obra.

Ao mesmo tempo em que dialoga com o passado, durante toda a construção do disco, a cantora manipula o pop à sua maneira. São vocalizações eletrônicas, o baixo sujo, batidas e todo um conjunto de ideias que transportam o som produzido pela cantora para um novo cenário. Perceba como uma fina camada de ruído se espalha ao fundo da delicada Get to Know Ya. Em In The Morning, oitava faixa do disco, uma letra que poderia ser de Adele, mas acaba mergulhando em uma atmosfera completamente instável, por vezes íntima do som produzido pelo conterrâneo James Blake.

Mesmo nos instantes em que mais se aproxima do grande público, caso de Fool To Love e Bad Blood, a cantora em nenhum momento se deixa guiar pelo óbvio. São versos apaixonados, intimistas e naturalmente consumidos pela dor, porém, sempre explorados de forma propositadamente torta. O refrão pegajoso está lá, acessível, porém, dissolvido em meio a mudanças bruscas de ritmo, instantes de recolhimento, explosões e curvas que a todo momento fisgam o ouvinte pelo inesperado.

Um bom exemplo disso está na raivosa Trophy. Produzida em parceria com A.K. Paul – também responsável pelas guitarras e parte dos versos que abastecem a canção –, o curioso dueto carrega na poesia um aliviado grito de libertação – “Eu não sou nenhum troféu para você” –, típico de qualquer música de separação, entretanto, sobrevive no ziguezaguear dos arranjos a busca por um som pouco convencional. Guitarras e batidas sujas que se projetam dentro de uma atmosfera minimalista, incorporando as mesmas emoções que invadem a letra da canção.

Protagonista da própria obra, NAO se desdobra na composição das letras e produção de parte expressiva das faixas. Salve a interferência do parceiro Daniel Traynor (GRADES), presente durante todo o processo de gravação do disco, está na mão firme da cantora o principal acerto do disco. Músicas que incorporam diferentes épocas, influências e estilos sem necessariamente ancorar em um conceito específico, proposta que faz de For All We Know um trabalho espantoso até o último verso.

 

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.