Críticas

Jamila Woods

: "HEAVN "

Ano: 2016

Selo: Closed Sessions

Gênero: R&B, Soul

Para quem gosta de: Erykah Badu, THEESatisfaction

Ouça: Lonely Lonely, VRY BLK

8.5
8.5

Resenha: “HEAVN”, Jamila Woods

Ano: 2016

Selo: Closed Sessions

Gênero: R&B, Soul

Para quem gosta de: Erykah Badu, THEESatisfaction

Ouça: Lonely Lonely, VRY BLK

/ Por: Cleber Facchi 26/07/2016

 

Poemas publicados em diferentes antologias, canções assinadas em parceria com nomes como Chance the Rapper e Macklemore & Ryan Lewis, obras produzidas de forma colaborativa com o músico Owen Hill no projeto Milo & Otis. Sem restrições, de forma sempre atenta, Jamila Woods passou os últimos cinco anos se relacionando com um time de artistas estadunidenses. Produtores, instrumentistas, compositores e, principalmente, representantes do Hip-Hop de Chicaco, artistas e colaboradores que cercam a cantora dentro do recém-lançado HEAVN (2016, Closed Sessions).

Extensão segura do material produzido há poucos meses em Surf (2015), obra apresentada pelo coletivo Donnie Trumpet & The Social Experiment, a estreia solo de Woods confirma a completa versatilidade da cantora. São composições que mergulham na música negra dos anos 1970 (Bubbles), abraçam o neo-R&B de Erykah Badu no final da década de 1990 (Lonely Lonely) e alcançam o presente cenário em meio a batidas e rimas que vão do debate sobre racismo ao empoderamento feminino (Blk Girl Soldier).

Da abertura ao fechamento do disco, Woods se concentra na produção de versos que discutem a repressão sofrida pela comunidade negra, violência policial e preconceito, estabelecendo uma espécie de conexão para os primeiros poemas publicados no começo da presente década e até faixas assinadas em parceria com outros artistas. O curioso está na forma como a cantora explora esse universo de temas sóbrios com leveza, costurando bases e temas íntimos da música pop ao longo do registro.

Longe de parecer um produto do isolamento de Woods, HEAVN se abre para a ativa interferência de um grupo de músicos, rappers e produtores. Logo na abertura do disco, NoName e Lornie Chia auxiliam a cantora na construção de VRY BLK e Lonely Lonely, dois exemplares da sensibilidade poética que rege o trabalho da artista. Com a chegada de LSD, sétima faixa do disco, um caminho livre para vários colaboradores recentes. Nomes como Chance The Rapper, o rapper Saba, em Emerald, e Donnie Trumpet, parceiro na experimental Breadcrumbs.

Na produção do disco, uma sequência ainda maior de colaboradores. São artistas como Ayanna Woods, Dee Lilly, oddCouple, Nate Fox e Loshendrix, nomes que acabam se repetindo ao longo do trabalho. O destaque acaba ficando por conta do trabalho de Kweku Collins em VRY BLK, composição que amarra batidas e bases em uma estrutura quase psicodélica, fazendo com que a voz de Woods flutue com naturalidade, dialogando com a mesma sonoridade de artistas como THEESatisfaction.

Mesmo ancorado em clássicos do Soul/R&B, HEAVN mantém firme o diálogo com uma infinidade de obras recentes da música negra norte-americana. Uma interpretação particular e naturalmente assertiva do mesmo universo de temas raciais, políticos e sociais debatidos por nomes como Janelle Monáe, Kendrick Lamar, D’Angelo e todo o coletivo de artistas com quem Woods vem se relacionando com maior frequência desde o último ano.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.