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Críticas

Robyn

: "Honey"

Ano: 2018

Selo: Konichiwa / Interscope

Gênero: Pop, Pós-Disco, Synthpop

Para quem gosta de: Kylie Minogue e Róisín Murphy

Ouça: Missing U, Honey e Ever Again

9.0
9.0

Resenha: “Honey”, Robyn

Ano: 2018

Selo: Konichiwa / Interscope

Gênero: Pop, Pós-Disco, Synthpop

Para quem gosta de: Kylie Minogue e Róisín Murphy

Ouça: Missing U, Honey e Ever Again

/ Por: Cleber Facchi 31/10/2018

Estranho pensar que Honey (2018, Konichiwa / Interscope) seja apenas o primeiro registro em estúdio de Robyn desde o elogiado Body Talk (2010). De fato, em um intervalo de oito anos, poucas artistas se mostraram tão prolíficos e versáteis quanto a cantora e compositora sueca. Do encontro com a dupla norueguesa Röyksopp, em Do It Again (2014), passando pela atmosfera nostálgica de Love Is Free (2015), colaboração com La Bagatelle Magique, ao surgimento de músicas isoladas, caso de Hang Me Out to Dry, parceria com Metronomy, e Out of the Black, ao lado da conterrânea Neneh Cherry, sobram instantes em que a veterana do pop europeu parece brincar com a própria identidade dentro de estúdio.

Produto direto dessas experiências e improváveis encontros musicais, Honey sintetiza tudo aquilo que vem sendo explorado por Robyn nos últimos anos, porém, partindo de uma nova estrutura. Longe da euforia anunciada em Dancing on My Own, Call Your Girlfriend e todo o repertório montado para o álbum anterior, cada elemento do presente disco se projeta de forma contida e deliciosamente econômica. Um propositado recolhimento estético que acaba servindo de estímulo para o que há de mais precioso nas obra da cantora sueca: os sentimentos.

“Existe um espaço vazio que você deixou para trás / Agora que você não está aqui comigo / Eu continuo cavando através da passagem do tempo / Mas a imagem está incompleta / Porque eu sinto sua falta“, canta em Missing U. Dolorosa, a canção se revela ao público como uma confessa homenagem de Robyn ao produtor e parceiro de longa data, o músico Christian Falk (1962 – 2014). Instantes em que os sentimentos da artista sueca se espalham de forma desmedida, como uma amarga reflexão sobre a ausência e o lento distanciamento entre os indivíduos, conceito que se reflete na base sorumbática da canção, regida a partir de sintetizadores cósmicos, batidas e respiros pontuais que fortalecem a entrega da artista.

A mesma melancolia que invade a faixa de abertura acaba respingando em outros momentos da obra. É o caso de Baby Forgive Me, composição guiada pela súplica dolorosa do eu lírico (“Você não vai dar uma chance, baby? / Apenas mais uma tentativa”), e a nostálgica Because It’s in the Music, canção em que Robyn reflete de forma amarga sobre as músicas que embalam os momentos de maior entrega durante um relacionamento, mas que acabam se transformando em pequenas maldições ao término deles (“Estou de volta naquele momento / E isso me faz querer chorar / É hora de ouvirmos juntos / Você sabe que sempre me lembrarei“).

Mesmo corrompido pela dor, Honey está longe de parecer uma obra pessimista. Pelo contrário, da mesma forma que em Body Talk, Robyn parece pronta para encontrar um novo amor. “Nunca vou deixar isso acontecer / Então não será tudo por nada / Juro que nunca vou ficar com coração partido / Nunca mais“, canta na derradeira Ever Again, composição guiada pelo tom libertador da poesia. A própria faixa-título do disco — originalmente apresentada no episódio de encerramento do seriado Girls, da HBO —, cresce em meio a versos guiados pela lascívia e profundo desejo da cantora. “Você pode se abrir para o prazer? / Apenas sugue tudo como um tesouro / Deixe o espaço mais brilhante ser sua paixão“, canta enquanto sintetizadores e batidas minuciosas crescem ao fundo da canção.

Surgem ainda composições como Between The Lines, um diálogo de Robyn com a cena eletrônica dos anos 1990 e um ato de pura entrega sentimental (“Todo dia, você liga para o meu celular / Isso faz meu coração pular / Eu quero que você diga isso, baby / Diga como você quer dizer / Está bem ali na ponta da sua língua“. Um respiro poético e rítmico que se conecta à faixa seguinte do disco, Beach 2K20, junto de Send to Robin Immediately e Human Being, parceria com Zhala, uma clara reverência da artista sueca a um passado nem tão distante.

Concebido em uma medida própria de tempo, sem pressa, Honey sutilmente estreita a relação entre Robyn e alguns de seus velhos colaboradores, como Klas Åhlund, além, claro, de abrir passagem para uma série de artistas com quem a cantora vem se relacionando nos últimos anos. É o caso do produtor Mr. Tophat, o cantor e compositor Adam Bainbridge (Kindeness) e, principalmente, Joseph Mount, vocalista e líder do Metronomy, e um dos principais articuladores do som minimalista que embala o presente álbum da primeira à última nota.

Ora doloroso e contemplativo, ora romântico e libertador, Honey avança em relação ao material entregue em Body Talk. Livre do peso da expectativa gerada nos últimos anos, a cantora investe na composição de uma obra dotada de uma atmosfera particular. Não se trata de um registro conceitual, tampouco uma veste temporária, como uma reverência desgastada à música eletrônica dos anos 1990, mas um exercício primoroso de como transformar os próprios sentimentos em uma obra movida pela dança. De fato, durante todo o processo de gravação do álbum, Robyn se disse inspirada por “diferentes ritmos” e “formas de produzir música dançante“. “Dançar mudou minha maneira de ouvir música“, disse em entrevista. Movimentos contidos, talvez coreografados, porém, tocantes na forma como a cantora parece encaixar um universo de pequenos detalhes, histórias e emoções dentro de cada composição.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.