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Críticas

Sandro Perri

: "In Another Life"

Ano: 2018

Selo: Constellation

Gênero: Indie Folk, Alternativa, Experimental

Para quem gosta de: Bill Callahan, Destroyer e Cass McCombs

Ouça: In Another Life e Everybody's Paris, III

8.0
8.0

Resenha: “In Another Life”, Sandro Perri

Ano: 2018

Selo: Constellation

Gênero: Indie Folk, Alternativa, Experimental

Para quem gosta de: Bill Callahan, Destroyer e Cass McCombs

Ouça: In Another Life e Everybody's Paris, III

/ Por: Cleber Facchi 26/09/2018

Sandro Perri nunca pareceu seguir uma estrutura convencional em se tratando dos próprios trabalhos. Basta uma rápida passagem pela extensa discografia do cantor, compositor e produtor canadense para perceber a forma como o artista delicadamente perverte cada novo registro autoral de forma curiosa. Variações instrumentais e poéticas que vão do pós-rock à música eletrônica e folk de forma propositadamente deslocada, como um permanente desvendar da identidade do músico original de Toronto.

Primeiro álbum de Perri desde o experimental Impossible Spaces (2011), obra em que decidiu trabalhar na composição de extensas paisagens instrumentais guiadas pelo uso de guitarras carregadas de efeitos e temas acústicos, In Another Life (2018, Constellation) transporta cantor e público para um território completamente novo. São ambientações melódicas, vozes atmosféricas e inserções minimalistas que se conectam diretamente aos versos ora sussurrados, ora declamados pelo músico e seus convidados.

Desafiador, mesmo quando voltamos os ouvidos para os antigos projetos de Perri no Polmo Polpo, In Another Life parece capaz de surpreender o ouvinte logo nos primeiros minutos do trabalho. Como faixa de abertura do álbum, o músico canadense decidiu investir em um extenso exercício criativo. São pouco mais de 20 minutos em que sintetizadores, ambientações cíclicas e guitarras eletrônicas se espalham sem pressa, revelando ao público um dos poemas mais sensíveis já compostos pelo artista.

Deixe-me entrar nesse sonho impossível / E saber como não saber o que isso significa / Exceto pensar em tudo o que pode ser visto / Em outra vida“, canta enquanto cada fragmento da canção cresce de forma mágica e acolhedora, como uma interpretação ainda mais sensível do material apresentado há sete anos na também extensa Wolfman. Difícil não lembrar dos trabalhos produzidos por Robert Wyatt entre os anos 1970 e 1980 ou mesmo as colagens eletrônicas de Arthur Russell, claramente uma das principais inspirações de Perri.

Para a segunda metade do trabalho, três variações de um mesmo exercício criativo intitulado Everybody’s Paris. São versos que discutem as relações humanas, desencontros, reflexões contemplativas e cenas em constante processo de transformação. Composições extensas, também embaladas pelo mesmo pop atmosférico que inaugura o trabalho com a faixa-título, porém, destacadas pelo time de convidados apontados pelo músico. Além de Perri, André Ethier (Deadly Snakes) e Dan Bejar (Destroyer) assumem parte da construção dos versos e vozes, ampliando os limites e força poética do trabalho.

Dentro desse conceito grandioso, In Another Life se projeta como um registro tão íntimo da curiosa discografia de Perri quanto de seus colaboradores. Trata-se de uma obra imensa, propositadamente arrastada e que força uma audição atenta por parte do ouvinte. Se em Impossible Spaces o músico canadense brincava com a interpretação do ouvinte, com o presente álbum, somos apresentados a um registro coeso, mas que exige tempo até que possa ser totalmente absorvido.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.