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Críticas

Grandaddy

: "Last Place"

Ano: 2017

Selo: 30th Century

Gênero: Indie

Para quem gosta de: Built To Spill e Modest Mouse

Ouça: Way We Won’t e Lost Machine

7.7
7.7

Resenha: “Last Place”, Grandaddy

Ano: 2017

Selo: 30th Century

Gênero: Indie

Para quem gosta de: Built To Spill e Modest Mouse

Ouça: Way We Won’t e Lost Machine

/ Por: Cleber Facchi 10/03/2017

“Hiato” é uma palavra que não se aplica ao longo período de silenciamento do Grandaddy. Mesmo que o grupo de Modesto, Califórnia, não tenha lançado nenhum novo disco desde Just Like the Fambly Cat, em 2006, não é difícil perceber a essência da banda dissolvida em diversas obras recentes. Seja em trabalhos produzidos pelo vocalista e líder Jason Lytle, como Why Are You OK (2016), do Band of Horses, ou mesmo na construção de diferentes projetos paralelos, caso do Modest Mouse, banda que conta com a colaboração do guitarrista Jim Fairchild.

Primeiro registro de inéditas do grupo em mais de uma década, Last Place (2017, 30th Century) traz de volta o mesmo cuidado na composição dos arranjos e vozes que apresentaram o Grandaddy em Under the Western Freeway (1997). Dos sintetizadores melódicos de Way We Won’t, passando pelas guitarras de Brush with the Wild ao fino experimento de A Lost Machine, o quintetosegue exatamente de onde parou no lançamento do último trabalho de estúdio.

Inspirado pelas desilusões e pequenos conflitos da vida adulta, Lytle faz de cada composição ao longo do trabalho uma amarga reflexão. Versos que se dividem entre a ironia e o profundo descontentamento do compositor, ponto de partida para faixas como I Don’t Wanna Live Here Anymore (“E eu não quero mais viver aqui … Tudo está fora do lugar e agora tenho problemas para lidar”) e Evermore (“Nada dura para sempre … Dias solitários, sem amor em suas folhas”).

Deslocado, o eu lírico de Lytle parece observar o mundo de forma desinteressante, fria, conceito anteriormente explorado em The Sophtware Slump (2000), obra que prenunciava os problemas causados pela internet e novas tecnologias. “Cada mulher, criança e homem na terra / Em um transe, vagando pela desfiladeiro … Tudo sobre nós é um sonho esquecido / Tudo sobre nós é uma máquina perdida”, canta na amarga Lost Machine, canção síntese do disco.

A mesma tristeza e descrença retratada nos versos se reflete na forma como a banda – completa por Kevin Garcia, Tim Dryden e Aaron Burtch – detalha os arranjos de cada composição. Seja no minimalismo acústico da derradeira Songbird Song, ou na grandiosidade de The Boat is in the Barn, música que soa como uma versão futurística do som produzido pelos Beatles, Last Place parece pensado para sufocar o ouvinte.

Pianos entristecidos, guitarras maquiadas pelos ruídos, a voz eletrônica, sempre melancólica de Lytle. Construído lentamente, em um intervalo de uma década, Last Place mostra que o Grandaddy continua a produzir um som tão interessante quanto no começo da carreira. Melodias cuidadosamente tecidas por cada integrante da banda e completas pela poesia sensível, sempre próxima do ouvinte, que se espalha durante a construção de cada faixa.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.