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Ano: 2018

Selo: Matador

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Soccer Mommy e Lucy Dacus

Ouça: Pristine e Let's Find an Out

8.5
8.5

Resenha: “Lush”, Snail Mail

Ano: 2018

Selo: Matador

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Soccer Mommy e Lucy Dacus

Ouça: Pristine e Let's Find an Out

/ Por: Cleber Facchi 14/06/2018

Nós podemos ser qualquer coisa / Mesmo separados … Quem está em sua mente? / Não há mais jeito de mudar / Eu ainda vou te amar do mesmo jeito“. Consumida pela saudade, a poesia angustiada, ainda que irônica, de Pristine, funciona como um poderoso indicativo do som produzido por Lindsey Jordan no primeiro álbum como Snail Mail, Lush (2018, Matador). Uma coleção de faixas ancoradas em memórias ainda recentes, como um resgate melancólico da vida sentimental da artista nos últimos anos, mas que a todo momento parece dialogar com o ouvinte.

Sequência ao material entregue em Habit EP (2016), cada faixa do presente disco se projeta de forma intimista, porém, livre do canto exageradamente doloroso de nomes como Vagabon, Soccer Mommy e tantos outros nomes recentes do rock alternativo. Canções marcadas por relacionamentos desgastados, separações e o declarado isolamento do eu lírico, porém, sempre sorridentes e honestas, como se Jordan fizesse graça dos próprios conflitos.

Não por acaso, desde o começo da carreira, Snail Mail vem sendo comparada à veterana Liz Phair, efeito da poesia ácida e, ao mesmo tempo, sensível que escapa dos poemas assinados pela jovem artista. Basta voltar os ouvidos para músicas como Golden Dream (“Eu não sou sua / Sabe quando eu quero dizer que eu não estou mais perdida“) e Speaking Terms (“Dentro de um sonho como você sabe / Quando você foi longe demais?“). Retalhos poéticos em que Jordan se projeta a todo instante, lembrando as canções de Exile in Guyville (1993) e Whip-Smart (1994).

Eu sinto que todas as músicas têm histórias, que o ouvinte possa ser envolvido, e quando você estiver no meio do caminho, eu espero que você esteja totalmente imerso na experiência, chorando e comendo sorvete“, explicou em entrevista à Consequence of Sound sobre o cuidado na composição de cada faixa. De fato, do momento em que tem início, na atmosférica música de introdução, passando pela já citada Pristine, Heat Wave ou a poesia melancólica/libertadora de Let’s Find an Out, há sempre um elemento de conexão imediata com o ouvinte — seja um verso berrado ou mero sussurro intimista.

Mesmo a produção do disco parece pensada da primeira à última nota. Acompanhada pelo experiente Jake Aron, produtor que já havia trabalhado com nomes como Solange e Grizzly Bear, Jordan passeia pelo disco encaixando guitarras precisas e pequenas explosões instrumentais que transportam o ouvinte para o início dos anos 1990. Uma crueza típica das canções de Phair, porém, encorpada pela mesma dramaticidade (e entrega) de Fiona Apple em Tidal (1996).

Dividido entre instantes de profundo recolhimento (Anytime) e faixas melódicas que se projetam em meio a guitarras sujas (Full Time), Lush confirma a versatilidade e completo domínio de Jordan, como se a cantora e compositora explorasse ao máximo todos os limites da própria obra. Um exercício de profundo amadurecimento poético e artístico, como se do material apresentado em Habit, Snail Mail fosse além, revelando ao público um registro que se projeta de forma interessante até o último segundo.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.