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Críticas

O Terno

: "Melhor do Que Parece "

Ano: 2016

Selo: Independente

Gênero: Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Boogarins e Maglore

Ouça: Melhor do Que Parece e Minas Gerais

8.8
8.8

Resenha: “Melhor Do Que Parece”, O Terno

Ano: 2016

Selo: Independente

Gênero: Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Boogarins e Maglore

Ouça: Melhor do Que Parece e Minas Gerais

/ Por: Cleber Facchi 30/08/2016

O peso das guitarras, a clara evolução na construção dos versos e a busca declarada por novas sonoridades. Com o lançamento do segundo álbum de estúdio, em agosto de 2014, os integrantes d’O Terno deram um verdadeiro salto criativo em relação ao elogiado debut 66 (2012). Nada que se compare ao amadurecimento expresso nas canções de Melhor do Que Parece (2016, Independente), terceiro registro de inéditas da banda paulistana e um delicado conjunto de versos, referências extraídas de diferentes épocas e possibilidades que crescem do primeiro ao último instante do disco.

Descomplicada e leve, como um típico produto radiofônico dos anos 1960/1970, a poesia de Tim Bernardes chega até o ouvinte desprovida de possíveis bloqueios. São músicas que detalham uma variedade de sentimentos essencialmente complexos (Depois que a dor passa), discorrem de forma cômica sobre os principais tormentos na vida de um jovem adulto (), e ainda visitam diferentes cenários de forma nostálgica, marca da sensível Minas Gerais, oitava faixa do disco e uma das mais belas homenagens já escritas para o estado que carrega o nome da canção.

Em Culpa, música de abertura do disco, um perfeito resumo da poesia bem-humorada que abastece a obra. Enquanto guitarras melódicas e vozes em coro apontam para o final da década de 1960, esbarrando de forma respeitosa em clássicos como Pet Sounds (1966), nos versos, Bernardes discute as diferentes manifestações da culpa que bagunçam a mente das pessoas— “Culpa de fazer sucesso / Culpa de ser um fracasso / Culpa sua / Culpa de cristão”. Um mero ponto de partida para o rico catálogo de temas que a banda detalha de forma segura com o passar do trabalho.

Além do fino toque de humor, o romantismo acaba se revelando outra importante peça para a construção do álbum. “Vem, volta / Que eu estou te esperando desde que eu nasci …  E o amor que eu guardava, eu guardei pra você / E a pessoa que eu sonhava eu vi aparecer”, canta Bernardes em Volta, uma apaixonada reflexão sobre os encontros e desencontros de qualquer casal, conceito também incorporado na tragicômica O Orgulho e o Perdão (“Me desculpe, meu amor / Mas não posso te perdoar”) e Não Espero Mais (“Inventei caminhos, me perdi / Me encontrei quando te conheci”).

O mesmo cuidado explícito na construção dos versos acaba refletindo em toda a base instrumental do registro. Arranjos orquestrais em e Depois que a dor passa, o som empoeirado de Não Espero Mais – música que poderia ser encontrada em qualquer disco do Unknown Mortal Orchestra –, o peso das guitarras em Vamos Assumir e até o samba sujo de O Orgulho e o Perdão. Um colorido acervo de ritmos, como se o mesmo conceito explorado no trabalho anterior fosse ampliado de forma madura, efeito da profunda interação entre os integrantes da banda – completa com Guilherme D’Almeida (baixo) e Gabriel Basile (bateria).

Última canção do disco, Melhor do Que Parece garante o fechamento ideal para o trabalho. Em uma estrutura crescente, guitarras distorcidas se perdem em meio a versos consumido pelo tédio, depressão e descrença. Pouco mais de seis minutos em que o canto angustiado de Tim Bernardes se choca com um imenso paredão de ruídos, arranjos de corda, batidas e instrumentos de sopro, fazendo do ato final do registro uma turbulenta colisão de ideias, síntese inventiva de todo o álbum.

 

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.