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Críticas

Gas

: "Narkopop"

Ano: 2017

Selo: Kompakt

Gênero: Experimental, Ambient Techno

Para quem gosta de: The Field, William Basinski

Ouça: Narkopop 10, Narkopop 6

9.0
9.0

Resenha: “Narkopop”, Gas

Ano: 2017

Selo: Kompakt

Gênero: Experimental, Ambient Techno

Para quem gosta de: The Field, William Basinski

Ouça: Narkopop 10, Narkopop 6

/ Por: Cleber Facchi 27/04/2017

Cinco anos de ativa produção, depois silêncio. Mais conhecido pelo trabalho como fundador do selo germânico Kompakt — casa de Gui Boratto, The Field e The Orb —, Wolfgang Voigt assumiu uma posição de merecido destaque na segunda metade dos anos 1990, quando deu vida a uma série de experimentações atmosféricas e obras lançadas sob o título de Gas. Entretanto, passado o lançamento da obra-prima Pop no começo dos anos 2000, o produtor decidiu se concentrar na construção de outros projetos, silenciando o trabalho em carreira solo por mais de 15 anos.

Com o lançamento e boa repercussão em torno da coletânea Box (2016), trabalho apresentado ao público em dezembro do último ano, Voigt decidiu não apenas reativar o Gas, como apresenta ao público o inédito Narkopop (2017, Kompakt), primeiro registro de inéditas em 17 anos. São dez composições que se espalham em um intervalo de quase 80 minutos de duração. Um espaço aberto ao uso de experimentos eletrônicos, soturnos, como um resgate da dark ambient testada pelo produtor desde o maduro Zauberberg (1997), similaridade reforçada pelo tema florestal que estampa a capa dos dois registros.

Movido pela curiosidade, Voigh atravessa o álbum testando possibilidades. Extensão natural do som produzido pelo artista germânico durante o lançamento de Pop, Narkopop cresce em meio a ambientações serenas, texturas e ruídos etéreos. Uma composição abafada, quase intransponível, princípio da atmosfera drone que cerca o ouvinte na inaugural Narkopop 1, segue em meio ao chiado e sintetizadores barrocos de Narkopop 2 e respira de forma quase ensolarada em Narkopop 3, música que sutilmente dialoga com a obra de Brian Eno.

Detalhista, o registro se abre de forma a criar instantes de parcial ineditismo dentro da discografia de Voigh. Um bom exemplo disso está na montagem perturbadora de Narkopop 6. São pouco mais de cinco minutos em que o produtor germânico parece brincar com os arranjos, revelando cordas submersas, samples, fragmentos, pianos e sintetizadores, como uma versão encorpada do material produzido em grande parte do trabalho anterior. Um cuidado que se repete de forma invasiva na composição metálica de Narkopop 4 e nas ondas de ruídos que invadem a densa Narkopop 5.

Com a chegada de Narkopop 7, Voigh se concentra na produção das batidas. Uma versão desacelerada do som produzido pelo sueco Axel Willner e outros parceiros do selo Kompakt. Beats inicialmente contidos, mas que se completam à medida que o produtor alcança derradeira Narkopop 10, um Ambient Techno que garante força ao trabalho. Exatos 17 minutos em que o produtor germânico parece testar os próprios limites, resultando em uma madura continuação do universo de batidas e ruídos atmosféricos que cresce em Narkopop 8 e Narkopop 9.

Desenvolvido em uma estrutura crescente — vide a serenidade que abre o disco em Narkopop 1 e a estrutura semi-dançante que encerra o trabalho em Narkopop 10 —, o quinto álbum de estúdio do Gas abre um novo capítulo dentro da carreira de Voigh. Dentro de cada composição, um labirinto de texturas, melodias eletrônicas, ruídos e colagens etéreas e ideias. Ambientações caóticas que garantem novo e criativo enquadramento a tudo aquilo que o produtor alemão vem produzindo desde a segunda metade dos anos 1990.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.