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Críticas

Djonga

: "O Menino Que Queria Ser Deus"

Ano: 2018

Selo: Independente

Gênero: Hip-Hop, Rap

Para quem gosta de: Baco Exu do Blues e BK

Ouça: Estouro e Canção Pro Meu Filho

8.6
8.6

Resenha: “O Menino Que Queria Ser Deus”, Djonga

Ano: 2018

Selo: Independente

Gênero: Hip-Hop, Rap

Para quem gosta de: Baco Exu do Blues e BK

Ouça: Estouro e Canção Pro Meu Filho

/ Por: Cleber Facchi 20/03/2018

Djonga é um reflexo daquilo que sustenta nos próprios versos: “Eu sou daqueles que dá o papo reto e vive torto“. Um personagem errático em um cenário consumido pelo caos urbano, racismo, conflitos diários, preconceito e a busca declarada pela sobrevivência. O Menino que Queria Ser Deus (2018, Independente), como escancara de maneira explícita no título do segundo álbum de inéditas. Versos angustiados e pequenas reflexões que nascem como complemento direto ao material testado pelo rapper mineiro durante a produção do debute Heresia (2017).

Misto de ruptura e complemento, OMQQSD mostra o esforço do artista em ampliar os próprios domínios em relação ao material entregue há poucos meses. Prova disso, está na estrutura melódica que rege grande parte das canções, como na acústica De Lá, nona faixa do registro e uma fuga inteligente da rima seca, reta, anteriormente testada pelo rapper. Um provar de novas experiências, ritmos e possibilidades que se veste de renovação mesmo nos instantes de maior reciclagem conceitual.

Acho que a grande questão do disco é o amadurecimento“, resumiu em entrevista à ONErpm. De fato, basta uma rápida passagem pelo álbum para perceber a parcial mudança de postura por parte do rapper. Exemplo disso está na forte religiosidade que invade a já citada De Lá (“Monta no cavalo, lança no dragão“) e, principalmente, na rima sensível que se espalha por entre as brechas de Canção Pro Meu Filho, uma delicada homenagem do rapper ao filho, o pequeno Jorge (“Meu pequeno Ogum / Me ensina a batalhar / A vitória do seu lado é uma escolha“).

Esperançoso quando exige ser, OMQQSD em nenhum momento oculta a rima crua de Djonga. Basta uma rápida passagem pela inaugural Atípico, profunda reflexão sobre o preço da fama, para perceber isso. “Nem conhecem Racionais, vai ouvir um disco meu? / O hater diz que eu caí no seu conceito / Pelo menos eu subi na vida“, provoca, criando uma ponte para a faixa seguinte, Junho de 94: “Antigamente enfrentar medo era fugir de bala / Hoje em dia enfrentar medo é andar de avião / Antigamente eu só queria derrubar o sistema / Hoje o sistema me paga pra cantar, irmão“.

De essência particular, curioso perceber no álbum a passagem para um time seleto de colaboradores. São nomes como o conterrâneo Hot Apocalypse, parceiro em Solto; Paige, no misto de rima e canto detalhado em Corra, além, claro, da presença constante do produtor Coyote Beatz, parceiro desde o último disco. O destaque acaba ficando por conta do encontro com a curitibana Karol Conká, na provocativa Estouro. “Cês ainda não entenderam a diferença / Da buceta que dá a vida pra um pau que goza“, despeja o artista em uma solução de rimas que se conecta diretamente aos versos lançados pela convidada (“Cês ainda não entenderam a diferença / Pro pau que me faz gozar e pro pau que dorme e goza“).

Acessível quando próximo do material apresentado no último ano, OMQQSD surge repleto de canções pensadas para amplificar a mensagem lançada por Djonga. Do romantismo erótico de 1010, passando pelas referências confessas em meio samples que pontuam Junho de 94, cada composição ao longo do disco pinta um retrato torto da mente insana do rapper. São fragmentos poéticos que se conectam diretamente à alma de seu realizador, porém, a todo instante estabelecem pequenas pontes conceituais capazes de dialogar com qualquer ouvinte.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.